
O OUTRO LADO DA MOEDA
Salto nos juros dos ‘bonds’ fez Trump recuar
Publicado em 10/04/2025 às 18:05
Alterado em 10/04/2025 às 18:05
O principal jornal americano de economia deu a explicação porque o presidente Donald Trump fez um recuo geral nas tarifas – suspensas por 90 dias, valendo apenas 10% de aumento, com exceção da China, que concentra a fúria trumpista, com 145% de tarifas. Segundo o “The Wall Street Journal”, pressionado pelos principais líderes empresariais do país, o experiente secretário do Tesouro, Scott Bessent, alertou Trump de que a escalada dos juros no mercado sobre os títulos do Tesouro americana eram um perigoso sinal de que os principais aplicadores em papéis americanos estavam desertando, por não acreditarem na estratégia do confronto comercial.
Trump acabou hesitando em relação às tarifas poucas horas depois de elas entrarem em vigor, porque Bessent, ex-gestor de fundos de “hedge”, era visto como o proverbial adulto na sala, dando ao presidente o melhor conselho entre uma equipe de consultores sobre comércio que inclui o criticado falcão tarifário Peter Navarro e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, ambos sem muita experiência em finanças. Assim, o Secretário do Tesouro ajudou a persuadir Trump a reservar um tempo para negociar com parceiros comerciais ante a pressão de líderes empresariais.
Trump finalmente piscou
Para o WSJ “demorou uma semana para que a queda nos mercados de ações e títulos — juntamente com uma campanha sustentada de executivos, legisladores, lobistas e líderes estrangeiros — levasse Trump a reverter por 90 dias um elemento importante de seu abrangente plano tarifário. Neste meio tempo, ele espera avançar nas negociações bilaterais com a União Europeia e abrir um canal de negociação com a China, o alvo principal de Trump.
Mas o grande risco da turbulência, que se reflete na queda do dólar diante de moedas fortes, é com relação aos impactos efetivos que a guinada comercial do governo republicano vai impor à economia dos Estados Unidos. O ouro sobe hoje mais de 3%, o euro valoriza 2%, a libra sobe 1% frente ao dólar, que cai 2% diante do iene japonês. A fuga dos papéis do Tesouro dos EUA pelo Japão, China e países árabes pode ser o troco indesejável a Tio Sam. A subida para mais de 5% nos juros dos papéis com vencimento no final do ano (meio ponto acima do piso atual do Fed (4,25% a 4,50% ao ano) assustou Bessent.
Nos mercados, o petróleo tipo Brent para entrega em junho teve queda de quase 4% por barril a US$ 62,95. As cotações para entrega em dezembro estavam em US$ 61,05.
Inflação cai nos EUA
Um dos motivos do susto do mercado foi a queda de 0,1% o CPI, o índice de preços ao consumidor americano em março, refletindo impactos das tarifas. A taxa em 12 meses recuou a 2,4%. Com a baixa de 6,3% gasolina, a energia caiu 2,4%, mais que compensando os aumentos em eletricidade e gás natural.
Mas os alimentos subiram 0,4%, com o índice de alimentação em casa aumentando 0,5% e alimentação fora de casa avançando 0,4% no mês.
Ovos sobem 60% em 12 meses nos EUA
Se aqui no Brasil a população reclama da alta de mais de 20% nos preços dos ovos de galinha, imagina nos Estados Unidos, onde o produto acumula alta de 60% em um ano? Além do forte calor do verão, que reduziu a produção de ovos nos aviários brasileiros, uma das causas dos aumentos de preços nos mercados e feitos veio justamente das exportações para os EUA.
Lá, os preços dos ovos, que continuaram a subir em março, atingiram níveis recordes, já que surtos de gripe aviária atingiram granjas avícolas e forçaram os produtores a sacrificar dezenas de milhões de galinhas. Dois dos maiores produtores de ovos do Brasil, a Granja Faria, que comprou por US$ 1,1 bilhão a Global Eggs dos EUA em fevereiro, e a JBS-Friboi, que comprou a Mantiqueira em setembro passado, estão exportando para os Estados Unidos, assim como a Turquia.
Susto no retrovisor
Empresários e investidores estão atentos, tentando, em meio à forte neblina criada pelo tarifaço americano, os sinais da economia adiante do para-brisa. Por isso, a alta de 0,8% no volume de vendas do setor de serviços em fevereiro assustou. Mas a decomposição da alta, concentrada no bom desempenho de comunicação e informação (+1,8%) se contrapõe á queda de 0,5% nos serviços prestados às famílias (outros serviços prestados às famílias encolheram 1,5%). Diante dos perigos à frente, não dá para assustar o que vem de trás.
Em fevereiro, o que assustou foi a taxa de inadimplência de 5,7% nos empréstimos com recursos livres às pessoas físicas, Vale notar que o piso da Selic ainda era de 13,25% (fixado em janeiro) pelo Banco Central e agora está em 14,25%. A escalada dos juros amplifica a inadimplência. Por isso, o novo consignado para trabalhadores com carteira assinada no setor privado ajuda a frear a inadimplência.