O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Café, ovo e tomate dão inflação indigesta

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Publicado em 11/04/2025 às 15:46

Alterado em 11/04/2025 às 15:46

O café segue com os preços em alta em todo o mundo Foto: Agência Brasil

Com nova alta de 8,14% em março, o café moído, que já acumula aumento de 30,04% no ano e de 77,78% em 12 meses, foi, mais uma vez, um dos vilões no aumento de 1,17% na Alimentação e Bebidas em março, que contribuiu com 0,25 pontos percentuais na inflação de 0,56% no mês passado, elevando a alta do ano para 2,04% e a taxa em 12 meses para 5,48%, a maior desde os 5,60% de fevereiro de 2023. O teto da meta de inflação é de 4,50%.

Mas o café – que segue com os preços em alta em todo o mundo devido à quebra de safra do Vietnã, o 2º produtor mundial - foi superado pelas altas do tomate (22,55% no mês e de 52,90% no acumulado de 2025) e do ovo de galinha (+13,13% no mês e 31,70% no ano, devido à forte importação dos EUA, onde 305 das galinhas poedeiras foram dizimadas pela gripe aviária e os ovos já subiram mais de 60% em um ano).

As baixas de 1,60% nas carnes (o contra-filé baixou 3,40% e a alcatra -2,20%), no arroz (-1,81% e no óleo de soja (-1,99%), como reflexo da supersafra de grãos, não anularam as altas de 3,34% do leite longa vida e de 1,18% no pão francês. Ou seja, o brasileiro já acorda com o impacto da inflação no café da manhã.

A Alimentação e Bebidas, item de maior peso nas despesas familiares, segue com o dobro da alta do IPCA (0,56%), que mede as despesas das famílias com renda até 40 salários-mínimos (R$ 60.720). No INPC, que mede as despesas das famílias com renda até cinco salários-mínimos (R$ 7.590), a alimentação também subiu o dobro (1,08%) do INPC em março (0,51%) e contribuiu com 0,27 pontos percentuais (mais da metade do índice mensal), No ano a alta é de 2,84%, contra 2,00% do INPC. O INPC tem mais influência na popularidade do governo.

Gasolina influi nos preços dos serviços
Com alta de 0,51%, depois de 2,78% em fevereiro, quando houve mais uma etapa de recomposição do ICMS cortado eleitoralmente por Bolsonaro de 1º de julho a 31 de dezembro de 2022 (sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações) a gasolina acumula alta de 3,93% no ano e de 10,89% em 12 meses, o dobro da inflação do IPCA (5,48%).

Item de maior peso entre os 377 pesquisados mensalmente pelo IBGE, a gasolina teve maior que o dobro dos aumentos médios dos preços monitorados em 12 meses (5,12%) e tem grande influência sobre os preços dos serviços cobrados por profissionais autônomos. Os serviços subiram 1,31% em fevereiro, quando a gasolina subiu 2,78%, e 0,56% em março (+0,51% da gasolina), acumulando 5,88% em 12 meses.

Inflação roda acima de 5% em 13 capitais
Belo Horizonte, com altas de 6,07% no IPCA e 5,81% no INPC, lidera as capitais e regiões metropolitanas (entre as 16 pesquisadas pelo IBGE) com mais inflação no país, acima de 5%. No IPCA apenas quatro capitais (Recife, Belém, Aracaju e Rio Branco) estão com inflação abaixo de 5%. No INPC (as três com menos de 5% são: Fortaleza, Belém e Recife).

Brasília tem 5,19% de inflação no IPCA e de 5,61% no INPC. Em São Paulo é de 5,77% e 5,43%, respectivamente, e, no Rio de Janeiro o IPCA sobe 5,22% e o INPC, 5,18%.

Sem tarifaço, PIB do BC cresceu 0,4% em fevereiro
Por influência do aumento de 5,6% na Agropecuária, devido à colheita da safra recorde de soja, o IBC-Br, o indicador do Banco Central que procura antecipar o comportamento do PIB, apurado pelo IBGE, cresceu 0,4% em fevereiro, com queda de 0,8% na indústria e aumento de 0,2% em serviços.

Excluído o impacto da agropecuária, o IBC-Br caiu 0,2%. Mas tudo isso foi antes do tarifaço de Donald Trump virar a economia mundial de cabeça para baixo. A supersafra promete aliviar os preços domésticos (por enquanto arroz, óleo de soja e carnes estão baixando e os ovos seguem em alta como o café, por pressões externas), mas os cálculos nas exportações são muito incertos.

Senadora pede ação da SEC contra 'insiders'
E por falar em tarifaço de Trump, o vai e volta das aplicações das tarifas – suspensas por 90 dias, com exceção da China – motivaram fortes montanhas russas nos mercados de ações, câmbio, títulos e commodities e levaram a senadora democrata Elizabeth Warren, a pedir uma investigação da Securities Exchange Comission, o xerife do mercado de capitais dos Estados Unidos sobre eventuais “insiders traders” dos que estavam envolvidos no governo Trump com a aplicação e revogação das tarifas.

Vai ser uma das primeiras missões do novo presidente da SEC, Paul Atkins, cujo nome foi finalmente aprovado pelo Senado dia 9 de abril.

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