
O OUTRO LADO DA MOEDA
'Wall Street Journal' alerta para aumento do risco EUA
Publicado em 14/04/2025 às 15:01
Alterado em 14/04/2025 às 15:04

As desconfianças dos parceiros comerciais dos Estados Unidos com a escalada de tarifas de Donal Trump, que depois recua da intenção diante do tumulto nos mercados financeiros, geraram um grande temor nos mercados globais, segundo o “Wall Street Journal”, a mais importante publicação econômica norte-americana: o destino dos ativos em dólar americano. Em editorial, o WSJ pergunta: “Será que as decisões vacilantes e os impostos de fronteira do presidente Trump estão fazendo com que os investidores globais se afastem do dólar e dos títulos do Tesouro americano?”
O jornal alega que Trump minimizou os tumultos no mercado de títulos da semana passada, que influenciaram sua pausa de 90 dias na pior de suas tarifas. "O mercado de títulos está indo bem. Teve um pequeno momento, mas resolvi esse problema muito rapidamente", disse Trump a repórteres sexta-feira.
Bem, talvez, ou talvez não. O rendimento do Tesouro de 10 anos, considerado um termômetro, subiu cerca de 50 pontos-base na semana passada e, em determinado momento, ultrapassou 4,5%. O de 30 anos subiu quase o mesmo valor, enquanto o índice do dólar americano do WSJ continuou em queda desde seu pico recente, próximo ao dia da posse.
Essas rápidas movimentações seriam notáveis em qualquer momento, especialmente em um minipânico financeiro, quando o dólar e os títulos do Tesouro são tradicionalmente vistos como portos seguros. Não na semana passada. A questão é se os gestores de recursos globais estão, na margem, perdendo a confiança nos EUA como um lugar para investir?
A frase-chave aqui é "na margem", porque os EUA continuam sendo um mercado grande demais, e seu sistema financeiro, líquido demais para ser ignorado. Também não existem boas alternativas ao dólar para transações globais, muito menos como moedas de reserva, e o euro e o iene têm problemas. [o WSJ não menciona os riscos de países como China, Japão, Índia, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos, reduzirem as posições de suas reservas em dólar – no Brasil representam mais de 70%]
“Mas mesmo uma mudança modesta nos títulos do Tesouro elevaria o custo dos empréstimos do governo americano. Os pagamentos de juros da dívida federal já são maiores do que os gastos com defesa, e a diferença está aumentando. Um dólar mais fraco aumentaria a inflação, tudo o mais constante”, adverte o WSJ. Os fluxos de capital são voláteis e os rendimentos dos títulos podem cair novamente com mudanças nas políticas ou se a incerteza trumpiana diminuir. Uma maneira infeliz de reduzir os rendimentos é se a economia entrar em recessão, como alguns gestores de recursos agora acreditam que acontecerá este ano. As oscilações do mercado da semana passada foram uma jornada alucinante que esperamos que o Sr. Trump não ignore. Perder a confiança dos investidores pode ser fatal para uma presidência”.
Dólar abre a semana em queda
Nesta segunda-feira, o dólar abriu a semana em queda ante as principais moedas, refletindo as incertezas. Ao meio-dia (horário de Brasília) o euro subia 0,12%, acumulando alta de 4,29% em uma semana. Movimento seguido pela libra, que subia 0,79% e 3,66% em uma semana. Em relação ao iene, o dólar caía 0,20% e -3,10% em uma semana. Frente ao franco suíço a baixa era de 4,96% em uma semana. Diante do real a queda era de 0,30% para R$ 5,8465.
Dólar dispara 9% na Argentina
Mas dois movimentos altistas interessantes do dólar foram registrados na Argentina e na China. No primeiro dia da nova liberalização do mercado cambial na Argentina, após o acordo com o Fundo Monetário Internacional, o dólar subiu mais de 9%, cotado a US$1,190 pesos. Os títulos do Tesouro em dólar subiram 13% e o dólar blue caiu US$ 70, a menor diferença em quatro meses, segundo o site do “Âmbito Financiero”.
Na China, o destaque foi a decisão do governo de aceitar a desvalorização da moeda local, com alta de 0,29% na cotação do dólar frente ao yuane, num movimento para tornar as exportações chinesas mais atraentes a terceiros países, diante da imposição de tarifas até 145% pelos EUA.
LCA prevê IPCA de 0,40% em abril
A LCA Consultores está projetando +0,40% para o IPCA em abril, abaixo da mediana da Pesquisa Focus (+0,47% e +0,46% nas respostas dos últimos cinco dias úteis, devido à (i) pela desaceleração em Alimentação e bebidas (de 1,17% em março para 0,85% em abril - com destaque para descompressão em açúcares e derivados, frutas, aves e ovos e bebidas e infusões (café moído). Em Transportes, a consultoria prevê queda de 0,33% causada, além da baixa na gasolina, pelaa queda em passagem aérea. Outra baixa viria na moderação dos gastos com Recreação em Despesas pessoais.
Para a LCA, os efeitos da desvalorização cambial e da robustez do mercado de trabalho (dinamizando os rendimentos) têm sido evidentes em alguns bens industriais, com suas taxas mensais superiores aos mesmos os meses do ano anterior, o que poderá ser visto também no trimestre entre abril e junho de 2025.
Os preços administrados no IPCA de março (+0,19%) estiveram um pouco abaixo da expectativa da LCA Intelligence (+0,35%). Deste modo, a projeção para abril foi de +0,21% para +0,13% (em parte pela queda esperada na gasolina).
Mas a notícia ruim é que a consultoria projeta que, dentro da média dos núcleos, todos os meses no trimestre abril-junho 2025 ficarão acima dos meses homólogos de 2024. Na Focus, o mercado espera 0,37%/0,39% para maio e 0,34%/0,35% para a inflação de maio. Ainda assim, a previsão do IPCA 2025 baixou de 5,6% para 5,5%. Um ponto percentual acima do teto da meta.
Focus dá primeiros sinais de baixa da Selic
Os números gerais da Pesquisa Focus do Banco Central junto ao mercado mantiveram as projeções acima do teto da meta (4,50%), com o IPCA de 2025 estável em 5,65%, mas aa mediana ds respostas dos últimos cinco dias úteis reduziu a previsão para 5,59%. Os preços administrados subiriam 4,94% e os serviços 6,66%. Pior desempenho teria a alimentação fora de casa: alta de 7,24%. A Selic ficaria em 15%, mas há apostas, como o Bradesco, de 14,75%.
Para 2026 o IPCA é estimado em 4,50%, com alta de 4,28% nos preços administrados e 5,05% em Serviços. Apesar da desaceleração esperada nos preços dos alimentos, devido à supersafra de grãos, o mercado ainda estima que o custo da Alimentação fora de casa também estaria acima do teto: 4,83%.
Mas são suposições, pois o cenário de guerra comercial torna tudo incerto.