
O OUTRO LADO DA MOEDA
Complicou: Trump afeta mercado de diamantes
Publicado em 15/04/2025 às 13:24
Alterado em 15/04/2025 às 13:24
A elite americana e mundial já estava irritada com a escalada tarifária de Donald Trump afetar sua riqueza. Na visão do diretor do Federal Reserve, Christopher Waller a nova política tarifária é "um dos maiores choques a afetar a economia dos EUA em muitas décadas". Ele traçou dois cenários do impacto da política comercial na economia dos EUA e afirmou que o efeito inflacionário de ambos provavelmente seria temporário. Waller também deixou aberta a possibilidade de o Fed cortar sua taxa de juros nos dois cenários.
No primeiro, de "grandes tarifas", as taxas médias de cerca de 25% permaneceriam em vigor por algum tempo, o PIB se desaceleraria fortemente para quase zero e o desemprego aumentaria muito. A inflação também aumentaria e poderia atingir um pico de cerca de 5% ao ano nos próximos meses, se as empresas repassarem rápida e completamente o custo das tarifas. Mas ele crê que a inflação retornaria a um nível mais moderado em 2026,.
No segundo, de "tarifas menores", uma taxa mínima de 10% sobre todos os bens de todos os países permaneceria em vigor, com outras taxas sendo eliminadas ao longo do tempo. O efeito sobre a inflação seria muito menor, com um pico de cerca de 3%, e o Fed apoiaria uma resposta limitada de política monetária, com possíveis cortes de taxas na segunda metade de 2025.
Diamantes foram atingidos por Trump
Mas vejam esta interessante matéria do “Financial Times” sobre o impacto do tarifaço na extensa cadeia de transformação dos diamantes, desde a extração nas minas do Sul da África até a chegada aos consumidores finais nos Estados Unidos e na elite mundial. A cadeia produtiva de US$ 82 bilhões está travada.
“Os comerciantes de diamantes estão alertando que a indústria de US$ 82 bilhões "estagnou" por causa das tarifas de Donald Trump e da guerra comercial global, com as remessas pelo centro de comércio de pedras preciosas de Antuérpia (Bélgica) caindo para cerca de um sétimo dos níveis habituais. As tarifas abrangentes de Trump incluem uma taxa de 10% sobre as importações de diamantes, bem como taxas "retaliatórias" variáveis propostas por país de origem, embora muitos outros minerais, como ouro e cobre, estejam excluídos das medidas.
Os EUA são o maior consumidor mundial de diamantes, respondendo por cerca de metade da demanda global, mas precisam importar todos eles, pois não possuem minas de diamantes nacionais. Embora a Casa Branca tenha "suspendido" as chamadas tarifas retaliatórias por 90 dias, a tarifa básica de 10% já está em vigor e permanece valendo. A perspectiva incerta teve um efeito desencorajador sobre os comerciantes de pedras preciosas, bem como sobre a vasta indústria de polimento da Índia.
Os embarques de diamantes de Antuérpia, um dos centros mais movimentados do mundo para essas pedras, ao lado de Dubai, foram "paralisados" depois que Trump anunciou as novas tarifas globais neste mês, de acordo com Karen Rentmeesters, presidente-executiva do Antwerp Diamond Centre.Ela disse que "não fazia sentido" que os diamantes fossem incluídos nas tarifas dos EUA e comparou a turbulência na indústria altamente globalizada àquela causada pela pandemia do coronavírus.
A indústria de diamantes já está se recuperando de vários anos difíceis em que a pandemia e a concorrência de diamantes cultivados em laboratório reduziram a demanda do consumidor.“A indústria de diamantes não está em uma boa posição”, disse Richard Chetwode, um veterano do setor e presidente da empresa de mineração Trustco Resources. "Se vocês de repente impõem tarifas sobre isso, vocês estão crucificando isso", acrescentou ele, dizendo que os impostos sobre diamantes não trariam manufatura para os EUA.
Um turista de alto luxo
Um diamante típico viaja pelo mundo muitas vezes antes de chegar às mãos de um cliente — entre países produtores como Botsuana, centros comerciais como Dubai e centros de polimento na Índia. A única parte da cadeia de suprimentos que se encontra nos EUA é o processo de certificação. A maior agência certificadora do mundo, o Instituto Gemológico da América (GIA), tem sede na Califórnia e emprega 3.200 pessoas.
O processo normal de entrada e saída de diamantes dos EUA para certificação está agora ameaçado. Pritesh Patel, diretor de operações do GIA, disse que a empresa estava reforçando seus serviços no exterior em seus oito escritórios internacionais por causa das tarifas. “Estamos ampliando os serviços, especialmente em Dubai e Hong Kong, para acomodar parte do impacto”, disse Patel. “A tarifa traz muita incerteza para toda a cadeia de suprimentos, de ponta a ponta.”
Ele acrescentou que o GIA estava estudando se os diamantes trazidos aos EUA apenas para certificação poderiam obter isenção de tarifas por meio de um título de importação temporário ou de uma zona de livre comércio. A guerra comercial global provavelmente afetará a demanda geral por diamantes, que estava apenas começando a se recuperar de vários anos difíceis, além de criar grandes deslocamentos na cadeia de suprimentos, de acordo com analistas.
A Índia, cuja vasta indústria de polimento processa mais de 90% dos diamantes do mundo, pode ser particularmente impactada. Como os diamantes acabados são considerados "originários" do país onde são lapidados, a indústria multibilionária de exportação de diamantes da Índia será afetada pela tarifa de 27% proposta pelos EUA sobre produtos indianos — a menos que os dois países cheguem a um acordo para evitar tarifas.
Soja volta a exportar mais que o petróleo
O efeito da supersafra de grãos já devolveu normalidade à balança comercial até a 2ª semana de abril, com as exportações de soja (US$ 11,5 bilhões) superando as de petróleo (US$ 11,4 bilhões). Mas outro destaque foi o velho “ouro negro”: o café, que acumulou US$ 4,2 bilhões, à frente dos US$ 3,4 bilhões da carne bovina. Antecipando-se às tarifas de 25% de Trump, as vendas de semi-acabados de ferro e aço cresceram 85% no mês de abril e somam US$ 1,5 bilhão.
Do lado das importações, os principais avanços de abril até o momento são os Adubos e fertilizantes químicos (US$ 2,9 bilhões no acumulado do ano, superando as compras de petróleo (US$ 2,1 bilhões) e Medicamentos (aumento de 47% em abril e um total de US$ 2,4 bilhões no ano). Outra conta pesada foi na importação de motores (exceto pistão e geradores), que somou US$ 2,8 bilhões, com crescimento de 37% sobre igual período do ano passado.
Diante desses números, a LCA Consultores manteve a projeção do saldo comercial de US$ 7,6 bilhões em abril. Para 2025, prevê US$ 74,5 bilhões.