O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Trump: 100 dias de recuos, sem ideias

Publicado em 24/04/2025 às 15:07

Alterado em 24/04/2025 às 18:55

Os sucessivos recuos nas barreiras tarifárias do presidente Donald Trump e de seu fiel escudeiro no DOGE, o bilionário Elon Musk, que anunciou que vai reduzir o tempo de dedicação aos cortes de despesas na máquina federal para tentar salvar seus negócios, com foco na fabricante de carros elétricos Tesla, que acumula prejuízos na China e perdeu 41% de seu valor, me lembram o fracasso da gestão do empresário Samir Mattar, fundador da Localiza, como secretário especial de Desestatização e Privatização do governo Bolsonaro.

Salim Mattar deixou o governo Bolsonaro em agosto de 2020, em plena pandemia, alegando que “a política não queria privatizar nada”. Na verdade, com a pandemia da Covid-19, os negócios da Localiza estavam em queda livre e ele resolveu, tal como Musk, cuidar do seu quintal. A diferença é que, além da caída em si tem vindo em menos de 100 dias de governo Trump (a data redonda é dia 30 de abril), não há uma causa externa, mas um decisivo e errático fator interno para a crise que ameaça as empresas e a confiança no dólar: Donald John Trump, nascido em Queens e que fará 79 anos em 14 de junho.

Os jornais americanos estão cheios de manchetes sobre as vacilações de Trump, que o “New York Times” chama de pisca-pisca, para lembrar que ele piscou primeiro do que os países atingidos pelos tarifaços nas importações e recuou ante os estragos nos mercados (atingiu o bolso dos bilionários apoiadores) mas só conseguiu antecipar importações e agravar o déficit comercial, sem que se note movimento das grandes empresas para reativar linhas de produção (e gerar supostos empregos) nos Estados Unidos.

A suposta abertura de negociações pela China para reduzir o tarifaço, que chega a 145% para alguns produtos chineses, alardeado ontem como vitória de Trump, segundo informa hoje o “Wall Street Journal”, foi desmentido por Pequim. O WSJ traz como manchete um desastre que dói particularmente nos negócios do presidente: uma queda de 5,9% nas vendas de imóveis em março, a maior desde 2022. A primavera é um período de retomada dos negócios, mas os compradores estão assustados com a crescente incerteza econômica, causada pela política comercial de Trump.

Mas o pior mesmo – e o motivo central dos seus recuos, por pressão do Secretário do Tesouro, Scott Bessent, que disse “não serem sustentáveis os tarifaços”, porque afetaram a confiança no dólar e tornaram mais difícil a rolagem dos títulos da dívida do Tesouro dos Estados Unidos, por recuo de grandes fundos de investimento e por ameaças de resgates por parte de grandes países investidores (como a China, o Japão, a Arábia Saudita e ricos países árabes exportadores de petróleo).

Ao doer no bolso de Tio Sam, Bessent advertiu Trump de que um tsunami financeiro podia vir depois do terremoto tarifário. E ainda se retratou de parte das críticas que fizera ao presidente do Federal Reserve Bank, Jerome Powell, a quem ameaçara demitir se não baixasse os juros (para atenuar o desastre de suas políticas), dizendo que nunca pensara em demitir Powell, que tem mandato fico até meados de 2026.

Seria mais ou menos o mesmo que declarações de Lula contra o ajuste fiscal – mesmo que o presidente esteja querendo cortar benefícios dos ricos e grandes empresários (como os R$ 621 bilhões em subsídios e renúncias fiscais para empresários, incluindo a Zona Franca de Manaus, e os banqueiros insistirem em cortes de benefícios sociais) afetarem a rolagem da dívida e Lula calar-se para fazer as coisas em surdina. No caso americano, as fortes quedas no dólar mostram o tamanho do estrago.


OLM

Stiglitz bate duro em Trump

Mais contundente foi o artigo do prêmio Nobel de Economia e ex-economista chefe do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, sobre os sucessivos recuos do governo Trump em seus 100 dias de governo. “Estamos testemunhando uma tentativa de Trump, Musk e seus aliados bilionários de estabelecer uma espécie de capitalismo moldado nas zonas sem lei do mundo ‘offshore’. Não se trata apenas de uma revolta contra os impostos; é um ataque total a qualquer lei que ameace a acumulação extrema de riqueza e poder”.

Nada deixa isso mais evidente do que a forma como eles abraçaram os criptoativos. O crescimento explosivo de bolsas de criptoativos pouco regulamentadas, cassinos ‘on-line’ e plataformas de apostas tem impulsionado a economia ilícita mundial. No governo Trump, o Departamento do Tesouro suspendeu sanções e regulamentações sobre plataformas que obscurecem transações.

E Trump convida para jantar investidores na $TRUMP

Ainda mais escandaloso foi o convite a um seleto grupo de duas centenas de investidores que aplicaram bilhões de dólar na STRUMP, a criptomoeda criada em homenagem ao novo presidente, que pretende dar explicações =oais e mais minuciosas, pessoalmente em um jantar, aos investidores que querem abandonar o banco diante das fortes ondas.

Um caso escandaloso de “Insider Information”, que deveria merecer a atenção do novo xerife da Securities Exchange Commission (SEC), Paul S. Atkins, que tomou posse no cargo nesta segunda-feira, 21 de abril.

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