O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

'The Economist': Trump governa mais na rede

...

Publicado em 25/04/2025 às 13:14

Donald Trump pode superar Marcel Proust Foto: Ansa

À medida que se aproxima o 100º dia do governo Trump (dia 30), os jornais e a mídia internacional fazem um balanço de sua errática e caótica gestão. O “Wall Street Journal” fez um levantamento e diz que “na preparação para este marco, o presidente lidera em decretos executivos, mas fica atrás em seu índice de aprovação”. Segundo o “WSJ”,Trump assinou 26 decretos no início de seu segundo mandato — o primeiro lote de 137 implementados até quinta-feira. Isso representa mais do triplo do número de decretos assinados pelo ex-presidente Joe Biden e mais de 100 acima dos três primeiros meses de seu mandato anterior. Os decretos variam da implementação de tarifas globais à proibição de canudos de papel em prédios federais. Mais de 80 ações judiciais foram movidas contestando seus decretos sobre imigração, gênero e diversidade e mudanças climáticas.

Já a revista “The Economist” constatou que “o principal porta-voz da América está muito, muito online”, e ao comparar o atual com o primeiro mandato concluiu que Donald Trump escreve menos sobre a economia e mais sobre si mesmo. “Uma presidência dos Estados Unidos é frequentemente considerada o trabalho mais difícil do mundo. No entanto, Donald Trump encontrou tempo para se dedicar como um prolífico influenciador nas redes sociais. Desde 20 de janeiro, ele produz 4.149 palavras por semana no Truth Social e no X, quase um artigo de opinião por dia. Se mantiver esse ritmo, sua obra como presidente superará os 1,3 milhões de palavras de "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, no início de 2028”, alfineta a revista inglesa. Mas a qualidade dos textos é de fazer corar qualquer escritor mediano.

Como Trump impacta o Brasil

Em palestra ontem nos Estados Unidos, o diretor de Política Econômica do Banco Central , Diogo Guillen, destacou que as tarifas do governo americano afetam o Brasil mais pelo lado financeiro do que comercial. O impacto do choque comercial no Brasil ocorre principalmente pelo canal financeiro ao influenciar o comportamento do real e as cotações das commodities exportadas pelo país.

Por isso, o diferencial de juros (quase o triplo no Brasil), funciona como atrativo para a vinda de recursos ao país. Hoje o dólar abriu com ligeira alta na manhã, sendo contado a R$ 5,7000 às 10h38, alta de 0,31%, num dia em que o euro perde 0,46% no mesmo horário e o dólar sobe 0,80% contra o iene.

Guillen justifica erros na inflação

O IBGE anunciou hoje a prévia do IPCA de abril, com alta de 0,43% no IPCA-15, apurado até 15 deste mês, 0,21 ponto percentual abaixo dos 0,64% de março. A principal alta veio da Alimentação e Bebidas (de 1,09% em março para 1,14%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 2,43% e, em 12 meses, 5,49%, acima dos de 5,26% de março. Em abril de 2024, o IPCA-15 foi de 0,21%.

Os erros nas previsões sobre a inflação nos últimos anos foram atribuídos às estimativas equivocadas sobre o hiato do produto, ou seja, o nível da atividade econômica. Guillen explicou que os erros de previsão de inflação foram mais relacionados ao crescimento surpreendente do PIB (a previsão do BC para 2024 era de 0,8% e deu 3,4%) do que à inflação em si.

Ele reafirmou o incômodo no BC com a desancoragem das expectativas, mencionou que a inflação permanece persistente e difundida acima da meta, com a média dos núcleos acima do teto da meta (4,50%) há meses. Apesar da redução da inflação implícita no Brasil, as expectativas de mercado, conforme o boletim Focus, pouco se alteraram.

Guillen pontuou que a incerteza gerada pela política comercial do presidente Donald Trump tem impactos difíceis de mensurar. Ele também ressaltou a importância de ser transparente na comunicação, sem necessariamente fornecer uma orientação sobre os próximos passos da política monetária.

Paulo Picchetti avalia a atividade econômica

O diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central destacou na mesma palestra que a desaceleração do indicador de consumo no Brasil no 4º trimestre representa um dos primeiros sinais incipientes de arrefecimento da atividade econômica, embora ainda exista incerteza sobre esse comportamento. Guillen tem uma visão semelhante.

Sobre o hiato de produto, Picchetti observou que o indicador está positivo, mas o Banco Central prevê que ele se tornará negativo ao longo do tempo, o que implica num cenário básico de desaceleração da economia. "Esse é um dos principais pontos para prestar atenção, como irá se desenrolar, se transmite a mudança de atividade para os preços", afirmou Picchetti.

Picchetti mencionou que a atividade econômica no Brasil deverá ser forte no 1º semestre devido às previsões para o desempenho do agronegócio. No entanto, retirado o agro, as expectativas sobre outras áreas do PIB têm diminuído, uma indicação de possível desaceleração.

A visão de cautela dos diretores do BC, de não se comprometer com novas metas para as taxas de juros, diante das incertezas geradas por Donald Trump, foi complementada no Brasil por declarações do diretor de Política Monetária. Nilton David disse quarta-feira, 23, que é "cético" com relação ao uso do "forward guidance”. A incerteza usual entre reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) já é muito grande, e hoje o cenário se tornou ainda mais incerto, ele destacou.

Mas o mercado prevê novas altas da Selic

Com base na inflação persistente, a XP está projetando que a taxa Selic vai fechar o semestre em 15,50%, com alta de 0,75% na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central de 7 de maio e mais 0,50% na reunião de 18 de junho. A taxa Selic está em 14,25% ao ano. Na última Pesquisa Focus, o mercado previu que a Selic feche o ano em 15,0%.

Deixe seu comentário