O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Em 100 dias, Trump e o dólar perdem o rumo

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Publicado em 28/04/2025 às 15:09

. Aroeira

Os primeiros 100 dias do governo Trump, que se completam na quarta-feira, 30, marcam a maior disrupção da confiança do mundo nos Estados Unidos desde que a presença das forças armadas americanas, no desembarque das tropas aliadas na Normandia (França), em 6 de junho de 1944, selou a aliança dos países do Atlântico contra o Eixo (até então, desde dezembro de 1941, após o ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, as tropas americanas estavam concentradas no Pacífico, em guerra contra o Japão).

Vários episódios no pós-guerra, como o Plano Marshall, patrocinado pelos Estados Unidos para recuperar a infraestrutura da Europa (com o Leste europeu dominado pela União Soviética, os EUA precisavam ter parceiros comerciais nas economias europeias), reforçaram a aliança.

Mas já em 1971, com o rompimento pelo governo Nixon do Acordo de Bretton Woods, de julho de 1944 (quando foram fincadas as novas bases econômico-financeiras e comerciais do novo mundo, sob o patrocínio da ONU e organizações correlatas que se seguiram – FMI, Gatt -atual OMC. OIT. OMS, FAO) essa confiança foi abalada e surgiram os primeiros mercados de negociação de dólares fora dos Estados Unidos (o mercado de eurodólar e depois os petrodólares).

A perda de confiança no dólar e a necessidade de as economias europeias enfrentarem desafio da globalização que envolvia a China como novo centro de produção industrial, levou à transformação do Mercado Comum Europeu na grande União Europeia e à criação do euro como moeda comum e alternativa ao dólar. Agora, com sua tresloucada e errática guerra de tarifas (que sobem e descem em menos de três dias) há nova e gigantesca crise de confiança em relação ao dólar e aos EUA de Trump.

O efeito foi sentido, segundo a agência de notícias Bloomberg, nos rendimentos dos títulos de 30 anos do Tesouro dos EUA, que atingiram este mês os maiores níveis desde a crise financeira; embora tenham recuado desde então, permanecem mais altos do que quando Trump anunciou seu plano de tarifas abrangentes em 2 de abril.

Desde a sua posse as moedas dos países de economia forte se valorizavam, enquanto o dólar cedia (à margem das guerras de tarifas, os países usam o câmbio para tornar suas exportações mais atraentes e desencorajar as importações). O real segue na gangorra, com desempenho melhor que os pesos mexicano e o argentino.

O desatino de Trump - que não sabe para onde vai e inspirou sensacional charge do cartunista Aroeira no Site 247 (trocamos ideias sobre o paralelo com Jânio Quadros, cujo governo durou menos de sete meses) - afetou muito o mercado de commodities, cujas cotações são expressas em dólar.

A queda de 11,63% no preço do barril do petróleo tipo Brent (Mar do Norte), em 30 dias, mais causada pela perspectiva de trégua entre Rússia e Ucrânia que pelas tarifas, ajuda a combater a inflação no Brasil. Mas vários produtos exportados pelo país estão em alta, como o café, o boi gordo e o suco de laranja (em parte compensando a queda do dólar).


OLM

Balança comercial reage com supersafra

A movimentação da supersafra de grãos, com destaque para os embarques de soja, fez a balança comercial ter superávit de US$ 7,6 bilhões em março (US$ 6,352 bilhões em março de 2024), embora sem impedir que o acumulado no ano (US$ 7,870 bilhões) ficasse abaixo da metade dos números de 2024 (US$ 16,302 bilhões).

Mas em março, o déficit em conta corrente (balança comercial+serviços e rendas de capitais) em março (US$ 2,2 bilhões) foi menor que os US$ 4,1 bilhões de 2024). Houve um déficit de US$4,4 bilhões em serviços (-US$1,148 bi em transportes, -US$766 bi em viagens e -US$1,095 bi em aluguéis, sobretudo plataformas de petróleo), A conta de rendas (-US$5,8 bi) veio próximo do esperado, com saída de US$2,0 na conta de despesa com juros.

O déficit em conta corrente acumulado em 12 meses foi de US$ 68,5 bilhões (equivalente a 3,2% do PIB), contra US$ 61,2 bi (-2,8% do PIB em 2024), mas o fluxo de investimento direto no país (IDP) segue positivo em 12 meses, apesar de o resultado acumulado até março US$ 68,2 bi (3,2% do PIB ter ficado ligeiramente abaixo do déficit em conta corrente.

Na visão do Itaú, o déficit em conta corrente melhorou na margem, com avanço do saldo da balança comercial. A conta de serviços manteve um déficit elevado, com payback de‘Demais Serviços’ no mês anterior, especialmente em ‘Serviços de Propriedade Intelectual’. O banco segue projetando déficits mais moderados, alinhados a uma recuperação da balança comercial, com safra recorde e desaceleração da atividade doméstica.

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