Com Covid-19, PIB e renda em dólar valem 50% de 2013

Por Gilberto Menezes Côrtes

O mercado financeiro, segundo a pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central junto a 100 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa e divulgada hoje, continua reduzindo as expectativas de inflação e dos juros (taxa Selic, que deve baixar dos atuais 3% para 2,25% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central de 17 de junho), e aumentando o tamanho da recessão prevista com o impacto do Covid-19 que já matou mais de 29 mil brasileiros e infectou mais de meio milhão de pessoas.

Na última métrica semanal, divulgada nesta 2ª feira, 1º de junho, a queda do Produto Interno Bruto deste ano foi estimada no recorde de 6,25% (ante retração de 5,89% na leitura anterior). O ano começou com o mercado prevendo crescimento de 2,30% para o PIB e as previsões começaram a cair no final de janeiro, com a progressão do novo coronavírus para fora da China.

Mas o mercado ainda esperava algum crescimento até a pesquisa semanal de 20 de março (mesmo após a OMS declarar a pandemia mundial em 11 de março e o Banco Central seguir o Federal Reserve e adotar, na 2ª feira, 16 de março, medidas drásticas de alívio da liquidez bancária em socorro de empresas e emprego). As projeções de PIB negativo só entraram no radar do mercado na última leitura de março (-0,48%). Nesse meio tempo, a expectativa para 2021 permaneceu em alta de 3,5%.

Entretanto, o dado mais impressionante na queda da expectativa da inflação para 1,55% na leitura desta semana e da manutenção da taxa de câmbio em R$ 5,40 para dezembro, foi o impacto combinado da recessão com a alta do dólar na contabilidade do Produto Interno Bruto (PIB) e da renda per capita (a sua repartição pela população estimada em 212 milhões no fim do ano).

Pelas projeções do Departamento Econômico do Bradesco, seguindo as últimas previsões do mercado, o PIB fecharia 2020 em apenas US$ 1.208,7 bilhões (em 2019 foi de US$ 1.712,9 bilhões). Isso seria voltar a meados da primeira década. Em termos de renda per capita, o empobrecimento dos brasileiros será devastador: a renda cairia para US$ 5,7 mil em 2020 (foi de US$ 8,1 mil em 2019). Para se ter uma ideia do tombo, em 2013 o PIB brasileiro era de US$ 2.275,9 (uma queda de 46,9%). Já na renda per capita, que era de US$ 11,3 mil, na ocasião, o tombo chega a 49,5%).

Inflação derruba também a Selic

A projeção da mediana das projeções para o IPCA de 2020 oscilou de 1,57% para 1,55%, enquanto a do ano que vem foi ajustada de 3,14% para 3,10%. A taxa de câmbio deve cair dos R$/US$ 5,40 deste ano para R$/US$ 5,08 em 2021 (co0m ligeira alta ante os R$/US$ 5,03 da semana anterior). Mas em função disso, a projeção para a taxa Selic, estável em 2,25% para este ano, subiu de 3,29% para 3,38% em 2021.

Nas previsões das TOP 5 (as cinco instituições que mais acertam as projeções), na contramão do mercado, a Selic de 2021 deve subir para apenas 2,50% (baixa em relação à projeção de 2,75% da semana anterior). Isto porque as TOP 5 preveem inflação de 1,39% este ano e de 3,30% para 2021, quando o câmbio ficaria em R$/US$ 5,00, contra R$/US$ 5,50 em 2020.

Investimento direto encolhe

Outro dado relevante das previsões do mercado diz respeito ao encolhimento das previsões de Investimento Direto Estrangeiro (IDP) para 2020 e 2021, como decorrência da crise do Covid-19. Nas projeções do mercado, o ingresso líquido deste ano vai cair para US$ 63,7 bilhões (US$ 81,3 bilhões em 2019).

Este é o menor valor de ingresso no país desde os US$ 48 bilhões de 2010, quando a economia mundial ainda estava às voltas com a grande crise financeira de 2008. Em 2011, no entanto, o Brasil recebeu a quantia recorde de US$ 101,7 bilhões. Para 2021 a previsão é de ingressem US$ 73,4 bilhões.

Antes da Covid-19 virar uma pandemia mundial, que atingiu em cheio a Europa e os Estados, tradicionais investidores estrangeiros no país, ainda não substituídos pela China, as previsões do 1º Relatório Focus de 2020 (3 de janeiro) eram de ingresso de US$ 80 bilhões em 2020 e de US$ 84,4 bilhões em 2021.

Mas, por enquanto, o ingresso de capitais estrangeiros está cobrindo com folga o déficit previsto para o balanço de pagamentos em conta corrente (balança comercial + serviços+ rendas), estimado em US$ 28,1 bilhões.