O que é bom para os EUA serve ao Brasil?

Por Gilberto Menezes Côrtes

Os Estados Unidos tiveram queda recorde de 14,7% nas vendas do comércio em abril, incluindo compras nas lojas e online, além de gastos em bares e restaurantes. Isso depois de uma queda de 8,3% em março (quando, assim como no Brasil) a 2ª metade do mês teve parada nos negócios devido à pandemia do Covid-19. Mas os resultados de maio, anunciados nesta 3ª feira, 16 de junho, com alta de 17,7% sobre abril, foram animadores.

Será que o Brasil seguirá o mesmo caminho? Esta é a pergunta que os analistas estão fazendo no país, porque hoje o IBGE divulgou os resultados das vendas do comércio em abril, o primeiro mês com impacto integral do fechamento parcial do comércio, que registrou queda recorde de 16,8%, a maior em 20 anos. Considerando as vendas do comércio ampliado, que inclui também as atividades de veículos, motos, partes e peças (-36,2%) e material de construção (-1,9%), a queda chegou a 17,5%. Em dois meses de pandemia, a queda acumulada chega a 18,6%, segundo o IBGE.

Foi o segundo recuo mensal no volume de vendas do varejo, que acumula em 2020 queda de 3% no varejo restrito (mercados, supermercados, mercearias, farmácias, lojas de pets e artigos médico-farmacêuticos estiveram abertos), enquanto o varejo ampliado teve queda acumulada de 6,9%. O recuo nas vendas no varejo atingiu, pela 3ª vez desde o início da série, todas as oito atividades pesquisadas.

A maior redução foi em Tecidos, vestuário e calçados (-60,6%), seguido de Livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-29,5%). Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-11,8%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-17%) - setores que continuaram operando, por serem consideradas atividades essenciais e que tiveram avanço em março - caíram em abril. A inclusão das lojas de materiais de construção e artigos de residência nas atividades abertas, freou a velocidade da queda ante as demais.

Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-29,5%), Móveis e eletrodomésticos (-20,1%) e Combustíveis e lubrificantes (-15,1%) completam o grupo das atividades que tiveram queda em abril.

O patamar de vendas chegou ao seu ponto mais baixo, registrando os maiores distanciamentos dos recordes históricos, tanto para o comércio varejista (22,7% abaixo do nível recorde, em outubro de 2014) quanto para o comércio varejista ampliado (34,1% abaixo do recorde, em agosto de 2012).

Reabertura mais cedo e ajuda oficial, a diferença nos EUA

Nos EUA, além da reabertura em maio de milhares de lojas e restaurantes depois que os bloqueios foram suspensos, os cheques de estímulo federais e as restituições de impostos alimentaram uma explosão de gastos. Mas muitas das lojas e restaurantes que receberam clientes no mês passado o fizeram com menos funcionários, refletindo um cenário de varejo permanentemente alterado e um sinal ameaçador para a economia, enquanto tenta se recuperar da pandemia de coronavírus, assinala o “New York Times”. O presidente Trump comemorou o resultado no Twitter, mas o setor de varejo não está nem perto do normal. As vendas totais ainda caíram 8% em relação a fevereiro. Algumas categorias, como roupas, caíram até 63% em relação a 2019, sublinha o “Times”.

No Brasil, só agora – com ao menos duas semanas de atraso, porque as medidas de isolamento foram desrespeitadas pelo presidente Bolsonaro, que emitiu sinais trocados à população - as principais cidades do país vão reabrindo atividades de shopping, comércio de rua, bares e restaurantes, com restrições. Em algumas regiões as autoridades tiveram de voltar atrás por falta de cumprimento de regras de distanciamento e uso de máscaras.

De outra parte, como a ajuda oficial tem sido muito mais tímida do que as de Tio Sam, não se deve esperar repique semelhante no resultado de maio. Junho já poderia indicar sinais de reações. As diferenças de “time” e de intensidade nas medidas de isolamento levaram o Brasil a prolongar a agonia da pandemia (que só agora começa a se estabilizar e ceder na Grande São Paulo e no Grande Rio, os dois maiores centros urbanos do país – e vão retardar a recuperação da economia brasileira para o 2º semestre.

Em debate on line promovido pelo Instituto de Garantias Penais, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse hoje ter certeza de que o Brasil irá atravessar as ondas de desafios na saúde e na economia pela crise com o coronavírus e que irá surpreender neste processo. “Acho que lá para setembro, outubro, novembro, nós já estamos num novo país, com ano novo muito bom pela frente”.

Duas boas notícias no combate ao covid-19

Guedes pode ter reforçado suas convicções com duas boas notícias no front de combate ao coronavírus, vindas da Universidade de Oxford. A primeiro foi o anúncio de que a dexametasona, um esteroide barato e amplamente usado, se tornou o 1º remédio que se provou conseguir salvar vidas de pacientes da covid-19, o que cientistas viram como um “grande avanço” no combate à doença respiratória provocada pelo Covid-19.

Usada para diminuir inflamações de outras doenças, a dexametasona baixou as taxas de mortalidade em um terço dos pacientes de Covid-19 hospitalizados em estado grave. Os resultados levam a crer que o remédio deveria se tornar um recurso padrão no trato de pacientes com casos graves da doença imediatamente, disseram os pesquisadores à frente dos testes.

“Este é um resultado que mostra que, se pacientes que têm Covid-19 e estão ligados a ventiladores ou no oxigênio recebem dexametasona, isso salvará vidas, e o fará a um custo notavelmente baixo”, disse Martin Landray, professor da Universidade de Oxford e colíder do teste conhecido como Recovery. “Será muito difícil qualquer remédio substituir este, dado que, por menos de 50 libras esterlinas (cerca de R$ 325), você pode tratar oito pacientes e salvar uma vida”, disse ele a repórteres em uma entrevista virtual.

A outra boa notícia veio da AstraZeneca, que desenvolve teste de uma vacina para o Covid-19 em associação com a Universidade de Oxford. O presidente da empresa, Pascal Soriot, disse em entrevista a uma rádio belga que a potencial vacina deve fornecer proteção contra a infecção por cerca de um ano. A farmacêutica britânica já iniciou os testes em humanos da vacina, com um estudo de fase 1 no Reino Unido prestes a ser concluído em breve e um estudo de fase 3 já iniciado. O Brasil faz parte do estudo com o Instituto Butantã (SP).