Críticas são contra a gestão pública, e não contra os Jogos
No momento em que as manifestações contrárias às Olimpíadas no Rio de Janeiro vão aumentando, muitos falam em falta de "espírito esportivo", manipulação ou qualquer outro adjetivo, motivo que vocês leitores ou leitoras possam conhecer.
Os que se contrapõem, os que fazem coro com as vozes de descontentamento com o evento, não o fazem pelo evento em si. A olimpíada é um evento muito bonito, com uma mensagem muito bonita e que dignifica o esporte em toda a sua plenitude. O período secular em que a utilização da maior e mais maravilhosa máquina já construída, o corpo humano, é celebrado, poderia ser muito celebrado por muitos, se as condições de temperatura e pressão fossem outras.
A oposição é na verdade, contra a forma com que a gestão pública conduz a ou as condições que pressupõem ideais para a realização de eventos como estes. O custo sociais e ambientais são os mais evocados, tanto por especialistas, pesquisadores, quanto por populações alvos direto das operações que envolvem sua realização.
A penalização dos mais pobres, vulnerabilizados e quase sempre criminalizados nas suas queixas, o controle militar nas áreas em que vivem, o aumento da mortalidade violenta dos jovens e vitimização de mulheres e crianças em escala ascendente, é o passivo mais evidente neste caso. O alto número de remoções que não consideram a relação dos moradores de determinados locais com sua localidade, sociabilidade e mobilidade, criando situações extremamente aviltantes aos direitos humanos é outro.
Atualmente, mais um elemento se junta a esta lista, e de maneira mais aguda; a crise na educação, o descaso com as instituições de saúde e seus profissionais, aumentando o descontentamento e a queixa da população.
Assim, a crônica do viver nessa cidade de tantos contrastes, vai se tornando cada vez mais difícil por parte dos seus moradores mais penalizados com o alto custo da cidade, a precariedade na mobilidade urbana, as moradias em risco, ou pode-se até dizer a fragilidade do morar e o alto custo da violência policial. Tudo isso, aliado a um processo de desesperança e pouca perspectiva de futuro, se traduzem em um fracasso na forma e no jeito de se fazer política pública nesta cidade e para estes espaços e população e que mais do que nunca é necessário mudar.
* Mônica Santos Francisco - Consultora na ONG ASPLANDE, Colunista no Jornal doBrasil. Coordenadora do Grupo Arteiras