As vítimas das favelas, a naturalização das mortes e a postura Eichmaniana 

Por Mônica Francisco

Aumenta entre a população que mora nas favelas do Rio de Janeiro o pensamento de que se trata de uma ofensiva contra ela e seu inalienável direito à vida, as ações cada vez mais catastróficas da atual política de segurança.

O número ascendente de vítimas, a naturalização das mortes por parte da sociedade e a postura Eichmaniana (Adolf Eichmann, oficial nazista que afirmou apenas cumprir ordens) dos responsáveis pelo comando e pela aplicação da política de segurança dão o tom do horror vivido nas favelas da cidade.

É assustadora a ausência de compromisso real com a questão, por parte do poder executivo, ao dar respostas padrão e apoiar afirmações que dão conta de que a morte de uma menina de 13 anos, como Maria Eduarda e dos meninos Wesley de Paula e Davi Renan da Rocha, do Fallet em Santa Tereza, são parte dos danos colaterais já passíveis de ocorrer em operações como as que fazem parte da rotina dos favelados(as).

As respostas oficiais não dão conta do real anseio da população que está literalmente na linha de frente e sofre com os efeitos nefastos desta política de estado, produzindo, para além das mortes crescentes, problemas irreversíveis como hipertensão, diabetes, paralisias faciais, síndrome do pânico e depressão. 

O impacto disso na vida prática das pessoas é devastador, como por exemplo na incapacidade para o trabalho, afetando o sustento das famílias. A diminuição do período letivo de maneira forçada e claro, gera um ambiente ainda mais hostil e violento.

A mirabolância das respostas "oficiais", como blindagem de algumas escolas que estão sitiadas em favelas, por exemplo, mostra o grau de distanciamento e total ausência de entendimento real do que é hoje a vida dos(as) habitantes das favelas cariocas e fluminenses.

Neste cenário, está desenhado, caso não seja construído de maneira coletiva, com moradores (as), instituições e poder público, maneiras e ações concretas que façam o panorama mudar, estaremos todos e todas em uma situação extremamente delicada e beirando uma convulsão social. 

Há uma urgência na contenção e na redução nos danos reais, consequência desta guerra aos pobres, travestida de "guerra às drogas". Ou só poderemos fazer eco às palavras do filósofo alemão Walter Benjamim de "Que as coisas continuem como antes, eis a catástrofe!"

* Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel