Cotidiano das favelas se tornou um circo de horrores

Por Mônica Francisco

O que dizer do que estamos vivendo neste momento da história do Rio de Janeiro? A completa ausência, se não de fato, fica para nós cidadãos e cidadãs comuns, pelo menos, a sensação de completo abandono institucional.

Após o tsunami de obras, remoções e mudanças na malha viária que serviram mais para confundir do que para auxiliar a vida dos usuários e usuárias que circulam diariamente pela cidade, chegamos ao outro extremo; desencontros, ausências, esquizofrenias e declarações estapafúrdias.

Cadáveres se acumulando nas áreas pobres da cidade, vítimas da guerra aos pobres, que tem como nome eufemístico "guerra às drogas". Crianças sofrendo danos emocionais irreparáveis, e as soluções anunciadas beiram o ridículo, mas são a mais triste realidade.

Neste circo de horrores que se tornou o cotidiano nas favelas, a população cria suas redes de solidariedade, de auto-cuidado e busca a todo custo se manter viva. Para além disso, os danos aos que sobrevivem acumulam-se. Ainda esta semana, um amigo anunciava sobre um amigo e vizinho dele, que foi surpreendido por uma bala e agora já tem certa a perda da visão de um dos olhos. 

Perdemos todos. Não há vencedores ou vencidos. Uma tragédia como essa é a certeza de que chegamos à uma situação da qual certamente ninguém sairá ileso.

* Colunista, Consultora na Ong Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel