Excelente fase de Phillipe Coutinho dita ritmo da seleção na decisiva partida contra a Sérvia

Por MAURICIO FONSECA (ENVIADO ESPECIAL), mauricio.fonseca@jb.com.br

A seleção brasileira desembarcou na Rússia com um retrospecto invejável sob o comando do técnico Tite. Em 22 jogos, foram 18 vitórias, três empates e apenas uma derrota.  Chegou como uma das favoritas ao título. Mas quando a bola rolou, as coisas não se mostraram tão simples assim. A equipe não se apresentou bem nas primeiras rodadas e, apesar de estar na liderança do Grupo E, decide hoje seu futuro no Mundial. Às 15h, o Brasil enfrenta a Sérvia, em Moscou, precisando pelo menos de um empate para passar às oitavas de final. Se vencer, provavelmente garantirá o primeiro lugar, já que chega à última rodada da fase de grupos com um saldo de gols superior à Suíça (2 a 1), que na mesma hora enfrenta a eliminada Costa Rica. No entanto, se perder, só não voltará mais cedo para casa se os costarriquenhos baterem os suíços.

Para não repetir o fracasso de 1966, na Inglaterra, última vez que a seleção foi eliminada na  fase de grupos num Mundial, Tite espera que finalmente o Neymar dos sonhos dê as caras na Rússia. Se isso não acontecer, o Brasil vai precisar mais do que nunca do talento e dos gols de Phillipe Coutinho. Nos dois primeiros jogos, o ex-meia do Vasco, hoje no Barcelona, foi o destaque da equipe brasileira. Marcou no empate de 1 a 1 com a Suíça e abriu o marcador, já nos acréscimos, na vitória de 2 a 0 sobre a Costa Rica.

Sem penteados mirabolantes e polêmicas vazias, Coutinho é, até agora, o protagonista da seleção. Conseguiu isso só jogando futebol. Se fizer mais um gol hoje, chegará a 10 em 11 jogos. Para quem acompanha o camisa 11 canarinho desde a base, as atuações do jogador com a camisa da seleção não têm nada de especial. Era o que se esperava desde sempre. Craque precoce, foi vendido para a Internazionale de Milão quando tinha ainda 16 anos, mas foi só com 18 que iniciou sua aventura na Europa. Surpreende apenas o tempo que demorou a explodir, a ter seu talento reconhecido mundialmente.  

Passou despercebido por Milão, mostrou seu talento no Espanyol, mas só desencantou, mesmo, quando chegou ao Liverpool, em 2013. Foram 201 jogos pelo time inglês e 54 gols. Virou ídolo e acabou voltando para a Espanha, dessa vez para jogar no gigante Barcelona, ao lado de Messi. Até agora disputou 22 jogos pela equipe catalã. Fez 10 gols e já conquistou o Campeonato Espanhol e a Copa do Rey. “Não gosto de falar sobre mim, mesmo. Só me preocupo em me preparar, aprender e evoluir. Os elogios deixo para os outros”, afirma, sempre que perguntado se sonha em ser eleito algum dia o melhor jogador do mundo. 

E não precisa mesmo falar de si. Tem gente que faz isso por ele. “Em poucos palavras, é um craque. Coutinho é um jogador fenomenal. Consegue criar situações num espaço pequeno”, reforça o lateral Fágner, antigo companheiro de Vasco.

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Tite sabe que, com exceção de Philippe Coutinho, seu quadrado ofensivo não tem rendido. Tanto Neymar, quanto Willian e Gabriel Jesus, ainda não produziram o que se espera deles. Mas como Douglas Costa, com lesão muscular, está fora da partida, o treinador brasileiro vai insistir com a formação que usou no último jogo.

A maior preocupação do treinador brasileiro, hoje, é ver seu time equilibrado em campo. Nos dois primeiros jogos, a equipe concentrou demais as jogadas pelo lado esquerdo, privilegiando o talento do trio Marcelo/Coutinho/Neymar. Mas está descartada a possibilidade de Coutinho ser deslocado para o outro lado do campo. Tite não vai mexer na posição de seu melhor jogador na Copa nem por decreto. Vai tentar solucionar o problema deixando Paulinho, Fágner e Willian mais próximos uns dos outros para fortalecer o setor direito. 

Dando prosseguimento ao rodízio de capitães, contra a Sérvia o braçadeira será do zagueiro Miranda. Dentro de campo, ele terá, entre outras, a função de tentar controlar os nervos dos companheiros. Neymar, Philippe Coutinho e Casemiro, todos com um cartão amarelo, terão de se controlar até as quartas de final (se o Brasil chegar lá) para não receber o segundo amarelo e desfalcar o time. Os cartões só serão zerados nas semifinais.  “Tanto o lado emocional quanto o técnico são importantes. Todos os aspectos foram trabalhados. Estamos preparados para fazer um grande jogo”, garante o zagueiro.

Sérvia: Stojkovic; Ivanovic, Milenkovic, Tosic e Kolarov; Matic, Milivojevic, Tadic, Milinkovic-Savic e Kostic (Ljajic); Mitrovic. Brasil: Alisson, Fágner, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Casemiro, Paulinho, Philippe Coutinho, Neymar e Willian; Gabriel Jesus. Juiz: Alireza Faghani  (Irã).

Técnico libera choro, mas quer equilíbrio entre emoção e razão

Numa coletiva marcada pela leveza, o gaúcho Tite deixou se levar pela emoção. No momento em que a necessidade de frieza e equilíbrio emocional se fazem mais que necessários para garantir a vaga, o treinador manifestou, mais uma vez, a solidariedade ao choro de Neymar. “No primeiro jogo contra o Equador, o Tite chorou. Quando liguei para minha esposa, chorei de alegria, de satisfação, porque é nossa característica emocional”, lembrou o técnico, que teve o cuidado de fazer associações. “Só estou mostrando o outro lado. Entender que razão e emoção tem que estar equilibradas”, acrescentou.

Sobre o estado físico de Neymar, Tite disse que o jogador está num estágio avançado de recuperação por ser um atleta “bem dotado fisicamente”. Para Tite, o adversário de hoje tem a característica da bola aérea ofensiva, mas seus jogadores também possuem qualidade técnica individual. “São jogadores de alto nível também. Temos a condição de poder neutralizar, evitar situações próximas, de faltas laterais, encurtar ou bloquear, e tirar proveito de alguma situação”, explicou. Ao confirmar a repetição da equipe que iniciou a partida anterior, disse esperar um entrosamento maior de Paulinho e Willian pelo setor direito ofensivo, que vem deixando a desejar.