Saúde & Alimentação - Peixes contaminados: um risco para as crianças?

Por WILSON RONDÓ JUNIOR *

Estudos recentes têm mostrado que as crianças são mais susceptíveis à exposição ao mercúrio do que os adultos. Será que elas têm de reduzir o consumo de peixes, por ser uma fonte de contaminação significativa? É preciso ficar atento, pois:

•As crianças têm maior exposição aos químicos por peso corpóreo, pois consomem mais água, calorias e respiram mais ar;

•A habilidade das crianças em metabolizar compostos tóxicos é significativamente menor do que a dos adultos, pois elas têm falta de enzimas necessárias para removê-los;

•As crianças apresentam uma janela de vulnerabilidade maior, pois mesmo exposições por minutos podem comprometer a função orgânica, causando disfunção ao longo da vida;

•Crianças têm mais tempo para desenvolver doenças crônicas. Algumas como câncer e condições neurodegenerativas podem levar décadas para se desenvolver.

Essas diferenças citadas podem explicar o que foi encontrado em um estudo realizado com cem crianças entre 9 e 11 anos. Não foi surpresa observar que as que consumiam mais peixes tinham perfil lipídico melhor, altos níveis de HDL colesterol e pouco triglicérides. Isso prova que o consumo de peixes reduz o risco de doença cardiovascular.

Porém, para surpresa geral, as crianças que consumiam mais peixe tiveram uma resposta brusca para o cortisol e marcadores inflamatórios elevados. Cortisol é o hormônio que desempenha papel crucial na nossa habilidade em responder ao estresse. Os pesquisadores especulam que o mercúrio dos peixes aumenta a produção de proteínas inflamatórias, o que causa uma eventual supressão dos níveis de cortisol, inflamação sistêmica e comprometimento do sistema endócrino das crianças.

Outro estudo mostrou ainda declínio de função cognitiva, memória e comprometimento verbal em crianças pré-escolares. Agora, você pode pensar que se deva reduzir o consumo de peixe por crianças, mas veja:

•Segundo estudo da Environmental Health Perspectives, o consumo de peixe pode só responder por 71% dos níveis de mercúrio no corpo.

•Peixes e frutos do mar contém nutrientes vitais para desenvolvimento do cérebro, como ômega 3, selênio, zinco e proteína de alta absorção.

•Salmão e sardinhas são ricos em ômega 3 DHA e EPA.

Portanto, aconselho que as crianças comam peixes. O que você deve fazer é sempre procurar estratégias para evitar a contaminação por mercúrio, como:

•Se o seu filho apresentar cáries, evitar usar obturações de amálgama. Dê preferência a resinas, pois é bem consistente na literatura a contaminação por mercúrio das obturações que passam a barreira hematoencefálica e placenta.

•Forneça à criança uma alimentação rica em glutationa, selênio, cobre, zinco, magnésio, B6, B12, folato e vitamina E.

O que eu posso lhe aconselhar é realizar um exame para determinação do nível de metais tóxicos, como o mineralograma, mais conhecido como exame do cabelo. É extremamente confiável, pois avalia uma contaminação de cerca de 4 meses, diferente do sangue, que só avalia contaminação recente. Converse com o seu médico. E continue comendo peixe!

* Médico (CRM RJ - 0110159-5) e nutrólogo (31370)