Série 'Will & Grace' vai terminar pela segunda vez

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na tarde desta quinta (25), as atrizes Debra Messing e Megan Mullally - respectivamente, a Grace e a Karen da série "Will Grace"- publicaram as mesmas fotos em seus perfis no Instagram. Na primeira imagem, os protagonistas e os produtores do programa fingem que choram. Na segunda, todos estão rindo.

Os textos que Messing e Mullally postaram são diferentes, mas trazem a mesma notícia: a terceira temporada do revival de "Will & Grace", que estreia em janeiro de 2020 na rede americana NBC, também será a última. Aqui no Brasil, onde o seriado é exibido pela Fox, ainda não há uma data prevista.

Assim termina uma das sitcoms de maior sucesso de todos os tempos. Além do sucesso de audiência, dos muitos prêmios Emmy e da importância cultural, "Will & Grace" ainda passou por uma reviravolta excepcional. Sua primeira fase teve oito temporadas, entre 1998 e 2006. Depois de um hiato de 11 anos, a série foi ressuscitada em 2017, voltando ao ar pela mesma emissora e com a mesma equipe criativa.

O que motivou este retorno foi um vídeo lançado na internet no final de 2016, com os quatro personagens principais - além das já citadas Grace e Karen, também Will (Eric McCormack) e Jack (Sean Hayes) -incentivando o espectador a votar nas eleições presidenciais americanas daquele ano. A recepção foi tão boa que a NBC percebeu que "Will & Grace" ainda tinha gás.

Quando surgiu em 1998, a série era quase revolucionária. Uma inspiração declarada era o filme "O Casamento do Meu Melhor Amigo", lançado no ano anterior, em que Julia Roberts e Rupert Everett levaram para a tela uma dinâmica bastante comum na vida real: a amizade profunda entre uma mulher hétero e um homem homossexual.

Vinte anos atrás, os personagens gays ainda eram muito raros na televisão. "Will & Grace" não só deu protagonismo a dois deles, como mostrou para um público amplo a dor e a delícia da vida de um homossexual jovem em um grande centro urbano (no caso, Nova York): a busca por um amor de verdade, o conflito entre trabalho e diversão, as agruras do dia-a-dia. Ou seja, nada muito diferente do resto da população.

Quando se declarou favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden disse que "Will & Grace" teve um papel fundamental para que ele mudasse de opinião. O fato é que a série nunca foi explicitamente política, mas sempre defendeu o respeito, a tolerância e a igualdade.

Um dos segredos desse sucesso foi não dar muito ênfase à vida sexual de Will. Os trejeitos, a libido e os demais clichês da bicha louca ficaram a cargo de seu amigo Jack -seu intérprete, o ator Sean Hayes, é gay na vida real, mas só se assumiu depois que o programa já havia encerrado sua primeira fase. Tanto Jack como Karen funcionam como variantes destrambelhadas de Will e Grace: sem travas na língua ou no comportamento, eles fazem tudo o que os titulares do programa gostariam de fazer.

A volta da série, em 2017, aconteceu em um contexto bem diferente do original. Donald Trump era o presidente americano e uma maré conservadora já varria o mundo. Além disso, os protagonistas envelheceram, e precisavam aprender a lidar com novidades como os aplicativos de pegação. Esses conflitos atuais proporcionaram alguns episódios engraçadíssimos.

Mas a repercussão e a relevância do programa foram murchando aos poucos. Hoje em dia, com uma oferta avassaladora de séries na TV e no streaming, quase não se fala de "Will & Grace". O revival também não conquistou novos fãs: o público era o mesmo de antes, e cada vez menor.

O segundo fim de "Will & Grace" também é um golpe para uma maneira de se fazer sitcom que já foi dominante, mas está se extinguindo: o chamado formato "multi camera", gravado diante de uma plateia -que nunca aparece, mas ri o tempo todo. Clássicos como "Friends", "Seinfeld" e "The Big Bang Theory", que também terminou este ano, foram produzidos desse jeito, que saiu de moda. Hoje prevalece o "single camera", sem risadas. 

Mas não há o que lamentar. "Will & Grace" mais do que cumpriu todos seus objetivos. O maior de todos foi mostrar para uma parcela considerável de espectadores, de maneira divertida e sem pregação, que os gays são "gente como a gente". Uma façanha e tanto. E quem sabe a série não volte mais uma vez, quando os protagonistas estiverem bem velhinhos?