Novo filme de Eastwood mostra lado japonês na Segunda Guerra

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REUTERS

SÃO PAULO - Aos 76 anos, o premiado diretor americano Clint Eastwood demonstra uma saúde e fôlego invejáveis. Ao decidir, há dois anos, filmar histórias da Segunda Guerra Mundial, ao invés de um único filme, acabou fazendo dois de uma vez.

O primeiro, 'A Conquista da Honra', estreou no Brasil há duas semanas, e revela o lado americano na luta pela ilha japonesa de Iwo Jima, uma das últimas batalhas perdidas do Japão quase no final da guerra. O segundo, 'Cartas de Iwo Jima', que estréia em circuito nacional nesta sexta-feira (16), mostra o lado japonês da mesma história.

Os dois filmes receberam indicações ao Oscar, que acontece no próximo dia 25. Mas 'Cartas de Iwo Jima' foi mais privilegiado neste aspecto. Levou quatro indicações e em categorias mais nobres: melhor filme, diretor, roteiro original e edição de som. 'A Conquista da Honra' teve apenas duas indicações técnicas: edição de som e mixagem de som.

Sempre retratados como vilões em praticamente todos os filmes sobre a 2a Guerra Mundial, os japoneses são aqui tratados com profundo respeito, que começa pelo fato de que os diálogos são inteiramente desenvolvidos em japonês -- o que certamente explica o sucesso de público do filme no Japão.

Os personagens são quase todos interpretados por atores japoneses, sendo que o mais famoso é Ken Watanabe (de 'O Último Samurai'), que interpreta o general Tadamichi Kuribayashi, autor do plano de cavar túneis interligando cavernas subterrâneas na ilha, detalhe que permitiu que os japoneses resistissem por mais de um mês ao violento ataque dos americanos, que tinham muito mais soldados e armas.

Também são japoneses o elegante tenente-coronel Nishi (Tsuyoshi Ihara), barão e medalhista olímpico em hipismo; o relutante soldado Saigo (Kazunari Ninomyia), um padeiro convocado contra a vontade que só pensa em fugir e voltar para a mulher e o filho que nasceu em sua ausência; o melancólico Shimizu (Ryo Kase) e o fanático tenente Ito (Shidou Nakamura), que a todo momento lembra os subordinados que deverão, em caso de derrota, cometer o harakiri, ou seja, o suicídio.

O roteiro, desenvolvido pelo premiado Paul Haggis (co-roteirista e diretor de 'Crash -- No Limite', vencedor do Oscar de melhor filme em 2006) e Iris Yamashita, partiu das cartas do general Kuribayashi à sua mulher, que foram recentemente descobertas em escavações em Iwo Jima.

De posse desse material, os roteiristas reconstruíram com grande riqueza de detalhes o cotidiano das tropas japonesas durante o cerco americano, o lento fim das munições e provisões, inclusive água, e a certeza da derrota. Dos 20 mil soldados japoneses sobreviveram apenas 1.083. Do lado americano, 7.000 morreram, de um total de 100 mil soldados.

Compositor da maior parte da música dos dois filmes -- neste segundo, com a participação de seu filho, Kyle Eastwood, e de Michael Stevens -- Clint Eastwood costura as duas histórias dentro de uma única lógica.

Uma termina onde a outra começa e ambas dialogam e se explicam mutuamente. Uma proposta sofisticada, que não teve uma grande resposta do público americano.