'Carreiras' traz vida de jornalista virada do avesso
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SÃO PAULO - A comédia dramática 'Carreiras', vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado de 2005, conta a história de uma jornalista veterana que é rebaixada a um posto secundário, substituída por uma profissional bem mais jovem e inexperiente.
O filme só conseguiu chegar às telas agora, quase dois anos depois. Desafiando um preconceito, o diretor carioca Domingos de Oliveira lançou o filme simultaneamente esta semana na televisão, com duas exibições no Canal Brasil.
Nos cinemas, o filme será exibido a partir desta sexta-feira, com projeção digital, em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Goiânia.
A estréia permite que Oliveira, veterano diretor de teatro e cinema, premiado por filmes como 'Amores' (1998) e 'Todas as Mulheres do Mundo' (1967), retome o movimento bem-humorado que iniciou há dois anos em Gramado -- 'Baixo Orçamento e Alto Astral', que ele resume na sigla 'BOAA'.
O filme economizou em tudo, apostando que a criatividade do roteiro dê conta do recado junto ao público. Foi feito com orçamento escasso -- segundo o realizador, apenas 35 mil reais --, cooperação de amigos, usando o próprio apartamento como locação e com tecnologia digital.
Baseando-se em um monólogo do próprio Oliveira, acompanha-se um dia na vida de Ana Laura (Priscilla Rozenbaum, mulher do diretor, que interpretou a personagem no teatro).
Indignada com o novo posto no trabalho, Ana passa horas ao telefone, protestando com seus superiores e desabafando com amigos, em busca de mudar a situação. Ao mesmo tempo, bebe litros de uísque e consome algumas porções de cocaína -- fornecendo o duplo sentido ao título.
O talento de Priscilla, atriz habitual nos trabalhos do diretor, permite que o filme, num formato tão fechado, funcione e não canse. Ela altera emoções, humores, passando da raiva à compaixão, do humor à agressividade, com tanta ironia e verdade que sempre se mostra cativante.
'Carreiras' conta ainda com algumas cenas externas, a melhor delas mostrando a protagonista gritando diante de um prédio de madrugada, despertando as mais diversas reações dos moradores, que dormiam.
Outra boa cena é a inicial, que reúne Priscilla, Domingos e um pequeno grupo de atores -- a maioria deles, rostos habituais nos filmes dele -- discutindo de maneira bem-humorada as semelhanças e diferenças entre o cinema e o teatro.
Tal tema está por trás do próprio filme, prestes a começar, e de todo o trabalho do próprio diretor. Esta sequência revela por si só o quanto a simplicidade na fórmula do diretor é apenas aparente.