A melhor imitação de cachorro, segundo Jô Soares
Leandro Souto Maior, Agência JB
RIO - Você conhece o humorista Rey Biannchi? É provável que sim. Caso contrário, é possível concluir que aparecer nove vezes no Programa do Jô Soares - e ter sido reprisado oito vezes -, mais seis vezes no Faustão e ter participado de todos os principais programas de TV não adianta nada para divulgar seu nome e seu trabalho. A carreira de Rey Biannchi sempre foi assim, curiosa e engraçada. Sem nunca ter contado com roteirista e produtor, ele realizou feitos invejáveis e muitas vezes hilários, como são suas apresentações. O humorista espera o cumprimento da promessa que o próprio Jô Soares fez a ele, de ser o diretor de seu espetáculo. No dia 15 de dezembro, Rey Biannchi apresenta seu mais novo show, "Enganislawsky interpreta Milkshakespeare", na livraria Letras & Expressões, em Ipanema, Zona Sul do Rio.
JB Online: Você começou a ganhar notoriedade depois que foi ao Programa do Jô. Como surgiu o convite?
Rey Biannchi: Em 1991 eu mandei um fax para o programa sacaneando o Jô. Não era nada demais. Eu perguntava: "sabe o que é Joaquim? Um português gordo!" Ele leu, interpretou na hora, riu à beça e falou: "convida esse cara para vir aqui." Aí me ligou um cara da produção, eu nem acreditei. É que na verdade eu não tinha o que falar, não imitava ninguém famoso, só sabia imitar cachorro. Ai joguei o 'caô' de que era especialista em 'audiomecanina', que é a ciência que estuda o movimento da boca dos cachorros! Pronto, arrumei um mote pelo menos pra ter o que falar. Cheguei lá no programa, sacaniei o Derico, o Bira, e quado comecei a latir eles riram pra caramba. No final da entrevista, o Jô só faltava me beijar. Acabou que a imitação de cachorro me marcou, como se fosse o meu "Satisfaction". Ás vezes eu nem faço esse número nos meus shows, mas todo mundo pede. Quando vou nos programas de TV tenho que fazer a imitação, não tem jeito. O Jô adorou esse lance do cachorro... eu nem ligo muito! Comecei a criar outras coisas e queria mostrar também. O Jô disse: "você é humorista! Estou te lançando!" Naquele mesmo ano eu fui três vezes no programa. Cheguei em casa e na secretaria eletrônica tinha uns 50 recados querendo me contratar pra fazer show de humor. Só que eu não tinha nada preparado. Aí comprei um monte revistas de piada, fui me dando mal pra caramba no início. Fiz até festa de caminhoneiro!
JB Online: Quem dirige e produz seus shows?
Rey Biannchi: Eu só fui dirigido uma vez, pra fora do colégio Pedro Segundo! Sou eu mesmo quem produz meus shows, faço as filipetas, os contatos, as músicas, tudo. E faço um monte de outras coisas também. Faço músicas sérias, com Michael Sulivan e Alex Cohen, por exemplo, só que essas músicas eu acho uma porcaria! Também faço pauta pro Jô. Eu que indiquei o Rogério Skylab, e acho que ele já foi no programa mais vezes do que eu! O Jô me perguntou se não conhecia alguém como eu, com trabalho de humor, aí eu falei do Skylab, que na verdade eu conhecia só de nome. Engraçado é que um tempo depois eu recebi uma proposta pra ganhar 8 mil reais para dividir uma noite com ele. Aí eu liguei pra ele para saber se ele se interessaria, e atendeu um cara com a voz igualzinha a dele, dizendo que era o Camilo, irmão do Skylab. Depois que eu me identifiquei, falei que era pra contratar para um show, que tinha cachê, vem o Skylab, com a mesma voz. Eu perguntei: que isso? Jeremy Irons, gêmeos, mórbida semelhança?! O fato é que o Skylab recusou fazer o show comigo, dizendo: "até já ouvi falar que você me indicou pro Jô, mas tenho aversão a humor, eu fico irado quando falam que meu trabalho é de humor!" Bom, inspirado nesse suposto irmão do Skylab, e como a sociedade te impinge certas coisas, eu achei que tinha que ter um produtor. Aí inventei o Levi Rosemberg. Quando alguém liga para marcar show, eu atendo como se fosse o Levi: "Alô?! Quer marcar show do Rey... pera aí... fecha oito mil dolares em Oslo e depois seis mil em Tóquio... oi, olha só, o Rey é novo contratado da agência, cê pode tratar diretamente com ele... Grécia só ano que vem... tô ouvindo, tô ouvindo..." Aí eu atendo com a minha voz mesmo e fecho o show, mas o cara do outro lado da linha já tá impressionado e eu posso pedir um cachê altíssimo! Contei isso no Programa do Jô e ele riu pra caramba. Aí falou no ar: "então, quem quiser contratar o Rey Biannchi é só ligar pro Levi Rosemberg." Quando cheguei em casa, tinha umas 50 ligações na secretária eletrônica de gente se oferecendo pro Levi! Ninguém queria saber de mim não, o papo era tipo "oi Levi, gostei da entrevista do Rey, mas é que eu tenho uma banda de pagode, queria te enviar meu material!"
JB Online: Você faz outras atividades, além dessas todas que você já mencionou?
Rey Biannchi: Esse ano eu comecei a fazer palestras, tratando da importância do humor nas empresas. Já fui convidado para abrir palestras de Lair Ribeiro, fiz palestra na Petrobras, na Eletronorte, agora vou pra Alagoas. Eu parei de usar drogas faz 16 anos e participo de uma Ong que tira as pessoas das drogas, e isso também é conteúdo das palestras: "você pode produzir sua felicidade sem drogas". Antigamente, se alguém me chamasse pra fazer um show ou pra viajar, eu perguntava primeiro: "quanto você tem de fumo?" Viagem sem maconha era impensável! Agora estou 16 anos careta, mas continuo completamente louco! Também tenho três shows marcados nos Estados Unidos, em Mimai, Texas e Nova York. Tudo assim, desse jeito, meio no improviso, cuidando sozinho de tudo! Na última vez que fui no Jô ele falou que ia me dirigir. Eu falei que ia acampar na frente da casa dele com mais uns amigos do "Movimento dos Sem Diretor!" Eu disse pra ele: "se você vai me dirigir, me dá uma data, porque pobre tem que ter data!" Ele perguntou como é que eu invento tanta piada. Eu tenho que andar igual o Cacique Juruna, com gravador embaixo do braço, porque eu falo besteira toda hora. Falei pro Jô: você não me lançou, agora dirige! Já mandei material pra ele com umas 40 musicas novas, mas até agora nada...