Grande Prêmio de Cinema: 'O ano...' bate 'Tropa...' pela 2ª vez
Leandro Souto Maior, JB Online
RIO - Uma chuva fina, chata e que não cessava marcou o balde de água fria na expectativa geral do Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, na noite desta terça-feira, no Vivo Rio. Tropa de elite era o grande favorito da noite, e já tinha faturado diversos troféus Grande Otelo, incluindo Melhor Diretor para José Padilha e Melhor Ator para Wagner Moura, quando no momento final da cerimônia é anunciado O ano em que meus pais saíram de férias como o vencedor na categoria Melhor Longa Metragem de Ficção. O filme de Cao Hambúrguer bateu a 'tropa' mais uma vez. A primeira foi na escolha para o filme que representaria o Brasil na disputa do Oscar.
E por falar em Oscar, a festa, repleta de atores, atrizes, diretores e gente de cinema em geral, tinha um 'gostinho do Oscar', já que imitava o referencial americano em praticamente tudo, tapete vermelho, figurinos hilários e equivocados e até nas piadas sem graça dos mestres de cerimônias, Drica Moraes e Vladimir Brichta. Só faltou mesmo a frase e o Grande Otelo vai para...
Mas não dá, o Brasil ainda não tem tradição e talentos suficientes no cinema (como tem na música). O próprio prêmio da Academia ainda é recente: esta foi a sexta edição realizada. A produção não primou por trazer a cerimônia para a nossa realidade e dar uma cara de Brasil e particular ao evento. Pelo contrário, o palco era totalmente decorado com motivos das obras do pintor espanhol Salvador Dali. Tudo bem que deve ter uma explicação conceitual, mas que com certeza não ficou clara para a maioria das pessoas que estavam lá. E por falar em não compreender, a única coisa que estava tipicamente brasileira era a péssima qualidade do som. Assim como nos filmes nacionais, não se ouvia ou entendia muito do que era dito pelos apresentadores.
E assim como no Oscar, a festa tupiniquim também teve um homenageado da noite, pelo conjunto de sua obra, o humorista Renato Aragão. O popular Didi Mocó causou euforia ao chegar. O público se emocionou com cenas raras de sua carreira que passavam no telão e logo ele também se emocionaria no palco, ao receber seu prêmio.
- Queria dizer para os que não forem contemplados hoje, para não desistirem. Eu já fiz 47 filmes, bati os recordes de bilheteria, e só agora ganhei um troféu - celebrou.
Também compareceram Hugo Carvana, Daniel Filho, Flavio Migliaccio, Maria Padilha, Domingos de Oliveira, Antônio e Camila Pitanga, além de um monte de 'famosos quem?' - gente que já vimos alguma vez ou já ouvimos falar mas nunca tínhamos ligado o nome à pessoa. Ou, como diz a minha mãe, 'já vi essa cara em outro pescoço'. Parecia que se estava dentro de uma novela das oito. Muita chamadas 'celebridades', daquelas todas pintadas e embrulhadas, com as unhas da cor de milk-shake e o resto tudo fake. Matéria prima perfeita para o pessoal do Pânico, que estava lá também.
Ainda antes do início da cerimônia, Selton Mello já acertava o resultado da premiação na categoria Melhor Ator, em que ele concorria.
- Melhor filme vai ser O cheiro do ralo , é claro, mas Melhor Ator vai ser difícil bater o Capitão Nascimento, não tem jeito arriscava, acertando 50% da previsão.
Mateus Nachtergaele torcia pelo filme em que atuou, Baixio das Bestas , mas assumia que o favorito era outro.
- Tropa de elite será o vencedor. O filme atraiu um número muito grande de espectadores, apesar de toda a sua violência. E foi também o grande vencedor do Festival de Berlim! lembrou.
- Essa premiação de hoje é muito importante porque é uma forte divulgação para o nosso cinema, e o povo precisa disso. Primeiro, o povo precisa comer. Só depois é que vai pensar em ir ao cinema, e só depois ainda é que vai começar a poder escolher o que vai querer ver. É um processo concluiu Nachtergaele. Opinião semelhante revelou Wagner Moura.
- É muito legal estarem todos esses atores aqui reunidos hoje, é um incentivo ao cinema. Estou muito contente disse o premiado Melhor Ator da noite.
Já Aline Moraes não arriscou palpite antes dos resultados.
- Gosto muito de cinema, cada vez mais, mas não tenho um favorito. Céu de Suely e Tropa de elite são filmes muito bons, por exemplo - resumiu.
Dira Paes, concorrendo por Baixio das Bestas , se contentava apenas por estar participando da cerimônia.
- Já me sinto uma vencedora, só por ter ficado entre as finalistas. Esta safra do cinema brasileiro está incrível, não estamos mais deixando a desejar a nenhum cinema feito no mundo exagerou.
Estar presente em uma festa dessas tem suas peculiaridades. Afinal, quando um 'simples mortal' imaginaria entrar no banheiro e dar de cara com o Renato Aragão e o Daniel Filho fazendo xixi e conversando lado a lado? Brincadeiras à parte, a sexta festa de entrega dos prêmios da Academia Brasileira de Cinema foi um evento agradável, mas teve um marco infeliz: aconteceu no mesmo dia em que morre a atriz Renata Fronzi, que sequer foi citada na noite.