Cariocas trocam bares e boates por reuniões na casa de amigos

Por

Angélica Paulo, JB Online

RIO - Aos 32 anos, a carioca Estela de Oliveira sempre foi uma baladeira de plantão. Não perdia um barzinho, uma boate ou um show. Até o dia em que, saindo de uma casa noturna na Zona Sul do Rio, a publicitária foi assaltada. Mas o pior é que o assaltante era a pessoa que tinha acabado de conhecer na boate e que havia lhe convidado para jantar. Passado o susto, Estela resolveu parar com a vida noturna e agora só sai à noite para reuniões em casas de amigos o que, segundo ela, é muito mais divertido, além de seguro.

A história de Estela não é um fato isolado hoje em dia. A violência é apenas um dos motivadores que têm levado cada vez mais cariocas a abandonarem a peregrinação por bares e boates e optar por curtir o final-de-semana em festas e reuniões mais íntimas nas residências de amigos.

-Descobri o prazer de assistir um bom DVD com amigos e até mesmo fazer um jantar aqui em casa e reunir a galera conta Estela. Depois do susto que passei, não quero mais saber de sair por aí sem rumo.

Mas nem todos os adeptos dessa nova (ou nem tão nova assim) mania informal o fazem por medo da violência. Moradores de Petrópolis, região serrana do Rio, Carolina Azevedo, 36 anos, e o marido, o administrador Pedro Azevedo, afirmam que mesmo quando ainda não eram casados, sempre optaram por programas mais calmos, na companhia de amigos. Aliás, foi em uma dessas reuniões que se conheceram.

-Reuni uns amigos na casa dos meus pais, para tocar violão e bater papo, e a Carol veio com uma amiga minha. Nos conhecemos naquele dia e não desgrudamos mais conta Pedro.

-É muito mais seguro conhecer alguém através de pessoas que você confia. O risco é menor afirma Carolina. Não que não possa dar errado, mas a probabilidade é menor.

O casal diz que não passa um final-de-semana sem reunir os amigos, mas sempre com programas diferentes. Segundo Carolina, criatividade é o que não falta no grupo, composto de mais ou menos 12 pessoas, entre casados e solteiros.

-Às vezes o grupo é até maior, porque um vai chamando o outro e quem vem acaba gostando e voltando.

Ou estendendo o convite para a própria casa, como foi o caso de um amigo do casal. Recém separado, Marco Antônio Moreira estava na fase solteiro convicto, daqueles que saía de segunda a segunda, quando aceitou o convite de Pedro para uma noite de queijos e vinhos na casa do administrador. Apesar de não ser seu programa favorito, resolveu arriscar, mais por falta do que fazer do que por gostar deste tipo de programa, admite.

-Achei que seria uma furada, mas fui mesmo assim. Mas foi uma noite tão animada, que passei a contar os dias para que o outro final-de-semana chegasse logo e eu pudesse participar de uma outra noite daquelas.

Mas será que bater ponto na casa de amigos toda semana não cansa? Estela garante que, às vezes, sente saudade de uma boa pista de dança. Problema que resolveu em casa mesmo.

-Como minha casa tem um espaço muito bom no terraço, vira-e-mexe a gente faz uma festa aqui, com direito a DJ, bebidas e muita paquera. É bom porque podemos chamar mais gente e sempre pinta alguém interessante.

Existem aqueles, porém, que acham essa espécie de 'circuito alternativo da noite' entediante. É o caso do jornalista Marcelo de Souza, 33 anos. Apesar de fazer parte do grupo de Estela, ele não é assíduo freqüentador dos sofás e pufes dos amigos, onde geralmente a galera se espalha nesse tipo de evento.

-Acho chato bater ponto toda semana na casa dos amigos. Uma vez ou outra, tudo bem, mas sempre acaba caindo na mesmice, por mais que as pessoas sejam divertidas. O ideal é saber dosar.