"Budapeste": Já estava tudo no livro

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Daniel Schenker, Jornal do Brasil

RIO - Em Budapeste, o espectador acompanha a história de José Costa, ghost-writer que escreve as histórias dos outros e, por isto, não tem a oportunidade de imprimir sua marca artística no mundo. Abandona um cotidiano pouco estimulante no Brasil e segue para a Hungria. Cabe perguntar: seria a viagem uma fuga ou uma tentativa de reescrever a própria história? Outras possibilidades de interpretação permanecem abertas ao público, a começar por um eventual entrelaçamento entre os planos da realidade e da imaginação.

Entretanto, Walter Carvalho, que já acertou como diretor em Janela da alma (em parceria com João Jardim), não apresenta aqui uma assinatura consistente. O privilégio recai sobre o tratamento estético. Não se pode dizer que seja desconectado de uma história que chama atenção para tonalidades ( Budapeste é amarela , diz o protagonista, logo no início do filme). Mas as qualidades presentes na tela parecem pertencer mais ao livro original de Chico Buarque do que a esta transposição cinematográfica, que, em todo caso, soma pontos com a interpretação dedicada de Leonardo Medeiros.