Morte do neto de Richard Wagner abre espaço para suas herdeiras

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Agência AFP

BERLIM - Os descendentes de Richard Wagner e o Festival de Bayreuth, dedicado à música do compositor, iniciaram segunda-feira uma nova etapa após a morte do patriarca Wolfgang Wagner. Wolfgang, nascido em 30 de agosto de 1919 e também bisneto de Franz Liszt, faleceu no domingo aos 90 anos em Bayreuth. Ele dedicou toda sua vida ao patrimônio do célebre avô , afirma um comunicado publicado no site do festival de música erudita.

Em 1951, em dupla com o irmão Wieland, deu impulso ao festival, em um esforço para fazer esquecer o envolvimento da família com o nazismo e com o tio Wolf , como chamavam Adolf Hitler, a quem sua mãe, Winifred, apoiou até a morte em 1980. A morte Wieland em 1966, aos 49 anos, o deixou sozinho no comando, um poder do qual, segundo alguns críticos, abusou ao estabelecer um contrato de diretor vitalício. Autoritário, inflexível às críticas e sem inclinação à autocrítica, Wolfgang Wagner foi o capitão do festival, mas nunca obteve como compositor a reputação de que gozava do irmão mais velho.

Confusões familiares

O fim de seu reinado foi marcado por disputas familiares, que passaram a chamar tanta atenção quanto os aspectos artísticos do festival. No fim dos anos 1960, Wolfgang Wagner transformou a filha Eva em assessora. E ela foi a que trabalhou nas sombras para conseguir o que se considera o maior êxito artístico de Bayreuth em 35 anos, a Tetralogia dirigida e encenada em 1976 pelos franceses Pierre Boulez e Patrice Chéreau.

Mas ele excluiu a filha em benefício da segunda esposa, Gudrun, a única, segundo ele, capaz de sucedê-lo. Em 2001 se opôs à designação de Eva como a próxima diretora do festival pela Fundação Richard Wagner, composta por representantes do governo federal, do estado da Baviera, da prefeitura e da Associação dos Amigos de Bayreuth, e seguiu no comando como se nada tivesse acontecido.

Com paciência, Eva Wagner-Pasquier aproveitou para fazer carreira como assessora artística e diretora de casting em algumas das melhores óperas do mundo, como as de Londres, Paris, Madri e Nova York.Em 2008 conseguiu por fim respaldo do patriarca para formar uma dupla com a meia-irmã Katharina.

Sem os Wagner e seus escândalos, o festival seria menos divertido , afirmou em 2002 a historiadora austríaca Brigitte Hamann, autora de um livro sobre as relações entre a família do compositor e o regime de Hitler. Mas as duas herdeiras, liberadas da sombra do autocrata Wolfgang, poderão se concentrar no aspecto artístico e preparar a 100ª edição do festival (2011) e as festividades para os 200 anos de nascimento do compositor em 2013.