Instituto Tomie Ohtake inaugura a exposição "A Música Canta a República"

Evento é resultado de pesquisa sobre produção musical brasileira e tem apoio do JB

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Nesta sexta-feira (19) foi inaugurada a exposição "A Música Canta a República" no Instituto Tomie Ohtake. Evento reúne parte da ampla e inédita pesquisa desenvolvida por Franklin Martins sobre a produção musical brasileira com temas inspirados em episódios políticos ou em personagens a eles ligados. E é parte do estudo realizado pelo autor que desdobrou-se em três projetos: a mostra, A Música Canta a República, que reúne fotos, vídeos, áudios e textos; a publicação Quem foi que inventou o Brasil - a música popular conta a história da República, a ser lançada em três volumes, a partir desse mês pela Editora Nova Fronteira; e em um site, no qual o interessado poderá acessar as canções. Os projetos contaram com o apoio do Jornal do Brasil

Em todos os formatos, o autor, ao registrar as músicas, evoca o cenário de cada época. "Nesta obra tão original, a história não apenas se revela, mas se faz ouvir no mais genuíno sentido da palavra", escreve José Ramos Tinhorão.

Para a exposição foram selecionados 80 temas e cerca de 110 canções das mais de mil identificadas por Martins. O conjunto reunido, com curadoria de Vladimir Sacchetta e cenografia concebida por Marcello Dantas, traça um percurso do período estudado pelo autor, de 1902, ano de lançamento dos primeiros discos fonográficos, até os dias atuais. 

O projeto de Martins traz a nossa República cantada nos mais variados gêneros, cançonetas e maxixes, marchinhas, sambas, caipira, MPB, Rock e Rap.

Estas canções registram fatos dos mais variados, os quais, na exposição, inserem-se nos temas República Velha e Revolução de 30; Vargas no Poder; Democracia de Massas; Anos Dourados?; Ditadura e Resistência;  Vai acabar a ditadura militar; Que país é esse; e Eu só quero ser feliz.

Sobre as Canções

As saborosas músicas e suas histórias são traçadas a partir de atos a favor da República, como registra a canção "As laranjas da Sabina", parte da primeira fornada gravada no País, em 1902. Uma referência a um protesto contra a Monarquia de 1889, foi composta em 1890, pouco após a proclamação da República. A canção lembra uma brincadeira de estudantes que virou manifestação republicana, em 1889, no Rio de Janeiro, meses antes do fim da Monarquia. Um subdelegado de polícia proibiu a mulata Sabina de vender frutas em frente à Escola de Medicina. Inconformados, os jovens fizeram uma bem-humorada passeata pelo centro da cidade, que terminou com vivas à República, sob os aplausos dos populares. A polícia teve de recuar da proibição e Sabina voltou a vender frutas. E, sem querer, converteu-se em bandeira republicana.

Já  em meio à ditadura do Estado Novo, enquanto o Brasil focava seus protestos contra a Alemanha Nazista,  o episódio dos cinco navios brasileiros afundados em 1942  pelo submarino alemão U-507 inspira um sentimento patriótico de vingança, como expressa "Torpedeamento". A morte de 652 pessoas leva multidões às ruas pedindo que o Brasil declarasse guerra à Alemanha. A exigência foi atendida em 31 de agosto. Alvarenga e Ranchinho repercutem nesta moda de viola o sentimento que tomou conta do país: “Quero vingá com o ‘alamão’ esse grande desaforo”.

O suicídio de Vargas em 1954, um dos episódios mais traumáticos da história política brasileira, também inspirou canções. A carta que o ex-presidente deixou explicando as razões do ato entrou para a posteridade e foi tema destas duas composições, o samba “A carta” e o rojão “Ele disse”. Ambas ajudaram a popularizar as últimas palavras do presidente.

Entre as músicas que se referem ao regime militar está “Simca Chambord”, composta pelo o roqueiro Marcelo Nova que narrou o período segundo a trajetória do carro, sonho de consumo da classe média dos anos 1960. A canção de 1985, composta no fim do regime, fala do otimismo dos tempos de João Goulart, último presidente civil antes da chegada dos "tanques que mudaram nossos planos". Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, recordou o clima de otimismo que existia no Brasil antes de 1964 para lamentar os anos de ditadura. Usou como símbolo daquela época de liberdade o “Simca Chambord”, carro comprado por seu pai “nos idos de 63”. Mas aí vieram os “jipes e tanques que mudaram nossos planos”.

Por sua vez, o comentado encontro entre Itamar Franco e Lilian Ramos no carnaval de 1994 gerou "O topete e a raspadinha". O presidente sambou, num camarote na Marquês de Sapucaí, com a  modelo , que estava com uma camiseta larga, sem nada por baixo. Para os compositores Maurício Tapajós e Aldir Blanc, foi o encontro entre “o topete e a raspadinha”.

Franklin Martins

Franklin Martins, 66 anos, jornalista, foi durante muitos anos um dos principais comentaristas políticos da imprensa brasileira. Trabalhou em alguns dos mais importantes órgãos de comunicação do país, como o Jornal do Brasil, O Globo, o Estado de São Paulo, o Jornal de Brasília, a revista Época, as rádios CBN e Bandeirantes, o SBT, a TV Globo e a TV Bandeirantes. Foi correspondente do Jornal do Brasil em Londres. De 2007 a 2010, durante o segundo mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva, ocupou o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.  Em 2013, venceu o prêmio de TV da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) com a série de 15 documentários “Presidente africanos”. Durante a ditadura militar, foi um dos principais dirigentes do movimento estudantil brasileiro em 1968. Participou ativamente da luta pela redemocratização do país, vivendo cinco anos e meio na clandestinidade e cinco anos e meio no exílio.  Durante esse período, editou vários jornais e revistas da resistência dentro e fora do país. É diplomado pela Escola Superior de Altos Estudos em Ciências Sociais da Universidade de Paris (1977).

Vladimir Sacchetta

Vladimir Sacchetta, jornalista, produtor cultural e consultor editorial, trabalha no campo da memória e cidadania desde o final dos anos 1970, quando chefiou a pesquisa da coleção Nosso Século, que resgatou a história contemporânea do Brasil através de documentos visuais e textos jornalísticos. Escreveu, em co-autoria, PCB 1922-1982: Memória Fotográfica, Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia (Prêmios Jabuti e Livro do Ano de 1998), e A imagem e o gesto: fotobiografia de Carlos Marighella, entre outros títulos. Foi curador de diversas exposições, entre as quais Marighella, Não tens epitáfio pois és bandeira: Rubens Paiva, desaparecido desde 1971 e Lugares da memória: resistência e repressão em São Paulo. Coordenou para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República a edição dos livros Brasil Direitos Humanos: 2008, a realidade do país aos 60 anos da Declaração Universal, Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana: uma história de resistência e luta pelos direitos humanos no Brasil e Habeas Corpus: a busca dos desaparecidos políticos no Brasil. Responsável pela pesquisa do projeto Resistir é preciso, do Instituto Vladimir Herzog, que resgatou a memória das mídias alternativas no combate à ditadura militar, é um dos autores de As capas desta história e organizador/editor de Os cartazes desta história. Coordena atualmente o módulo Ditadura e resistência (1964-1985) do Memorial da Democracia, portal a ser lançado em breve pelo Instituto Lula.

Após ser exibida no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, a exposição seguirá para o Rio e Brasília, nos espaços culturais dos Correios, em agosto e novembro respectivamente.

Serviço: Exposição A Música Canta a República

Abertura: 19 de junho

Visitação: Até 2 de agosto de 2015, de terça a domingo, das 11h às 20h

Local: Instituto Tomie Ohtake - Avenida Faria Lima 201 - Pinheiros, São Paulo 

Mais informações: (11) 2245 1900

Entrada franca