Livro angolano revela a fragilidade humana
No Brasil há pouquíssimas publicações de escritores negros de Angola
Descobrir o mundo exterior a partir de seu interior, essa é a proposta do poeta e jornalista Gociante Patissa em seu novo livro “Almas de Porcelana”. Editado e lançado no Brasil pela Penalux, como o próprio título já diz, a obra apresenta de maneira poética a fragilidade dos seres humanos e suas relações com familiares, com outros e com a própria vida.
A obra trata-se de uma seleção de poemas de dois livros já publicados pelo autor, “Consulado do Vazio” e “Guardanapo de Papel”, catalogados em duas partes. “Almas de Porcelana” ainda reserva uma terceira parte dedicada a poemas diversos.
Em seu trabalho, o autor é sempre muito franco ao expor o mundo e as histórias que o cercam. No poema “Obras do Tempo”, Patissa mostra a dor causada pelas minas terrestres espalhadas pelo solo africano. Ele apresenta o sofrimento das vítimas em forma de palavras, como, por exemplo, “Quando perdi as pernas; começou o Titanic da minha vida a afundar; (...) quantos mais se amputarão; quantas minas ainda afinam vozes; para a hora da explosão?; até quando as armadilhas?”.
Poesia intimista
Porém, mesmo agarrado à imagem da porcelana, Patissa sabe construir a beleza daquilo que um dia foi apenas mero barro, mas graças ao calor da poesia e ao talento do poeta transfigura-se em algo de inestimável valor. Sua fragilidade reside na apreciação pacífica que emana de seus poemas sensíveis. Há neles belas filigranas de esperança, como num delicado conjunto de fina porcelana, em cujas peças brilha um arremate nostálgico.
Para os editores Tonho França e Wilson Gorj, a poesia de Gociante é intimista e sensível, procurando sempre símbolos que compreendem a relação do “Eu” com o “Mundo” e vice-versa. “As ideias centrais são como se seus contornos desenhassem o externo, e o autoconhecimento viesse através do ‘Outro’, mas o ‘Outro’, também, é uma ideia vinda do ‘Eu’”.
A importância do livro é reforçada, segundo os editores, pelo fato de que o mercado editorial no Brasil acolhe poucas obras de escritores negros, principalmente oriundos de outros países, como Angola. Eles dizem que os autores angolanos mais conhecidos no país - como, por exemplo, Ondjaki e Agualusa - traduzem um perfil de escritor um tanto quanto distante da realidade populacional daquela região, na qual os negros são a maioria. “O que deixa o repertório brasileiro fraco e pouco diversificado”.