Exposição propõe um contraponto olímpico por meio da arte contemporânea
Rap em guarani, tiro ao alvo, cabo de guerra robótico, futebol, 32 tabuleiros de xadrez, maratona infinita pela cidade, arco e flecha. Em pleno período olímpico, no Rio de Janeiro, um time de artistas contemporâneos criou obras instigantes, com esses títulos, para a mostra Jogos do Sul, aberta no final da tarde de quarta-feira (3) no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica e que propõe uma reflexão sobre o impacto social do megaevento que cidade sedia a partir desta semana.
Para o contraponto ao modelo olímpico, formado pelo binômio “beleza atlética x massa feliz”, os curadores Alfons Hug e Paula Borghi elegeram como ponto de partida os Jogos Mundiais Indígenas, realizados em Palmas (TO), em outubro de 2015. “Convidamos doze artistas que fizeram sua pesquisa de campo em Palmas sobre os Jogos e a mostra é o resultado desse trabalho”, conta Hug.
A partir da originalidade e autenticidade dos Jogos Indígenas, em que competir era mais importante do que ganhar ou perder, ou contar medalhas, artistas visuais e outros profissionais criaram obras que buscam um olhar para além da beleza do esporte. “Não tenho nada contra os Jogos Olímpicos, mas do ponto de vista artístico é difícil lidar com eles. A última que fez isso foi Leni Riefensthal [cineasta alemã], nos Jogos de Berlim, em 1936. Ela conseguiu, de forma convincente na época, mas, desde então, juntar Olimpíada e arte não é fácil”, comenta o curador.
A equipe final da mostra é formada por dez brasileiros – oito artistas visuais, uma cineasta e uma socióloga – e seis estrangeiros – da Bolívia, Portugal, Alemanha, Suíça e Cingapura. Ao entrar na exposição, o visitante se depara com uma escultura eletrônica criada pelo brasileiro Paulo Nenflidio, que simula, por meio de uma estrutura robótica, as forças centrífugas despendidas em uma disputa de cabo de guerra.
Alguns trabalhos traçam um paralelo com o jogo, ainda que na contramão do objetivo olímpico. Marcone Moreira monta um painel com 32 tabuleiros de xadrez em madeira de diversas regiões do Brasil. O cingapurense Rizman Putra apresenta as curiosidades fictícias do jogo Rumah Dayak, típico da Malásia, e o alemão Samuel Herzog convida profissionais das artes a participarem de uma maratona infinita pelo Rio de Janeiro.
A exposição Jogos do Sul fica em cartaz até 22 de outubro e pode ser vista de segunda-feira a sábado, das 12h às 20h, com entrada franca. O Centro de Artes Hélio Oiticica fica na Rua Luís de Camões, próximo à Praça Tiradentes, no centro do Rio.