Em “Viola perfumosa”, Lui Coimbra, Ceumar e Paulo Freire homenageiam Inezita Barroso

Por Mônica Loureiro, monica.loureiro@jb.com.br

A riqueza da música caipira profundamente pesquisada e tão cantada por Inezita Barroso é o que guia “Viola perfumosa”, disco que Lui Coimbra, Ceumar e Paulo Freire acabam de lançar e com o qual já estão na estrada fazendo shows. “Com exceção de uma música do Paulo em parceria com Augusto Borges, todas são do repertório de Inezita. Nós até queríamos fazer um disco mais autoral, mas as nossas escolhas afetivas acabaram coincidindo com as músicas dela”, conta Lui Coimbra. O músico lembra que Inezita, que ganhou grande alcance popular pelo programa “Viola, minha viola”, que apresentou por décadas, tem muito ainda a ser descoberta. “O programa é apenas a ponta do iceberg, ela é dona de uma obra importantíssima”, destaca. 

O disco é uma delicada viagem sonora pelo interior do Brasil, que remete também a Mário de Andrade e Villa-Lobos - “Que a tratou com tanto carinho quanto a música de concerto”, destaca Lui - e traz, além da música sertaneja/caipira, coco, guarânia e composições vindas da Amazônia (“Tamba-Tajá”), Minas Gerais (a seresta “Amo-te muito”) e São Paulo (“Marvada pinga” e “Horóscopo”). As duas últimas são modas de viola tipicamente satíricas: “Elas têm aquele humor ingênuo, simples, o ‘Marvada’ pelo lado feminino e a ‘Horóscopo’ pelo lado masculino”.

Tradicionalmente acompanhada por viola, a formação de música caipira aqui ganha contornos mais amplos, seguindo uma linha mestra que reúne popular e erudito, com arranjos assinados pelos três artistas. “Já penso naturalmente no violoncelo como um instrumento popular. Nas gravações, ele se une à viola caipira de um lado do estéreo e, do outro, o violão, com as vozes mais para o meio”, explica. Além dos três instrumentos, o disco tem rabeca e os menos conhecidos bombo leguero, tocado por Ceumar em “Ìndia”, e charango, tocado por Lui em “Horóscopo”. “O bombo, presente na música andina, é do Norte da Argentina. O charango tem origem chilena, mas é usado em toda América Latina. É como se fosse uma violinha de dez cordas”, descreve ele, que é diretor e produtor musical do disco que traz ainda Marcos Suzano e Pedro Anne como convidados. “Suzano toca em quatro faixas. Ele é amigo de longuíssima data, conhece ritmos do Brasil todo e é sempre uma de minhas primeiras opções quando estou fazendo algum projeto!  O Pedro é de uma geração mais nova e arrasou ao colocar contrabaixos em ‘Luar do sertão’ e ‘Índia’”, elogia.  

Idealizado por Renata Grecco, sócia de Lui na Aquarela Carioca Produção de Arte, o disco proporcionou a reunião de três amigos que nunca haviam trabalhado juntos. “Há anos eu gravei com o Paulo e já havia feito shows com Ceumar. Renata imaginou todo o projeto e nós conseguimos, antes de gravar, fazer um show em Curitiba em 2016. A ideia básica já estava ali, inclusive quase todo o repertório”, conta. Com esse “aquecimento”, que teve ótima aceitação - o projeto ganhou edital da Natura e distribuição do Selo Circus -, os três foram para estúdio bem integrados, tanto que finalizaram o trabalho em quatro dias de gravações. Eles se revezam nos vocais, sendo que Paulo é quem leva as “faixas-causos”, a sua “Pedro Paulo”, que emenda com a tocante “Caicó (cantiga)”, e a última “Chitãozinho e Xororó/Menina Ignês”, que tem letra de Renata Grecco em homenagem a Inezita. “Abrimos os shows com ela, como se fosse uma apresentação, seguida de ‘Luar do sertão’, que é a primeira no CD”, diz Lui. As próximas apresentações de “Viola perfumosa” acontecem dias 22 e 23 em São Paulo. No Rio, a previsão de shows é para outubro. 

Por conta do lançamento e da turnê com Ceumar e Paulo, Lui precisou dar uma pausa no seu CD solo, “Tá caindo flor”, que está pronto. “Ele traz um olhar urbano sobre a cultura popular. Tem composições minhas e algumas parcerias, com Zeca Baleiro, por exemplo. Musiquei versos de Mário Quintana (‘A ciranda rodava’) e de Ferreira Gullar, de um poema sobre gatinhos. O título do disco é uma homenagem a Naná Vasconcelos, com quem viajei por mais de dez anos tocando pelo Brasil”, antecipa Lui.