Crowdfunding etílico

Após sucesso na primeira captação, Cervejaria Leuven volta ao mercado para levantar R$ 1,2 milhão

Por Sônia Apolinário

Projeto da Cervejaria Leuven, instalada em uma antiga usina de açúcar restaurada em Piracicaba (SP)

Quem sonha em ser sócio de uma cervejaria deve marcar na agenda o próximo dia 13 de setembro. Nessa data, às 9h, será dada a largada para a segunda captação de investimentos públicos da Cerveja Leuven, de Piracicaba (SP). Trata-se de uma operação de crowdfunding que tem por objetivo arrecadar R$ 1,2 milhão, por intermédio da plataforma Kria (www.kria.vc). O investimento mínimo é de R$ 2,5 mil e o máximo de R$ 50 mil.

Em 2017, a cervejaria realizou, pela primeira vez, uma ação de ECF (equity crowdfunding) e captou R$ 1,670 milhão em oito dias, no que foi considerada a mais rápida operação do tipo, no Brasil. Desde então, a Leuven passou a ter 109 sócios, de vários estados do país e também do exterior, e se tornou pioneira, em seu segmento, a captar investimentos dessa forma. O equity crowdfunding é um mecanismo de captação regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), voltado para startups e empresas de pequeno e médio porte que ainda não têm condições de negociar ações na Bolsa de Valores.

Criada em 2010, a Leuven funciona em um galpão de 250 metros quadrados no centro de Piracicaba. O primeiro aporte foi usado para comprar equipamentos, aumentar e melhorar a produção da cervejaria. Também deu início à realização do sonho dos sócios, o casal Karin Moraes e Gustavo Barreira, de se transferir para o histórico bairro de Monte Alegre. Eles iniciaram a restauração de uma antiga usina de açúcar que se encontrava em ruínas. Lá, construíram uma fábrica com 800 metros quadrados. A nova rodada de investimentos é para concluir o projeto, com a construção do bar da fábrica que aumentará o espaço em 300 metros quadrados.

“Quando começamos a desenvolver o projeto da fábrica na velha usina, fomos procurados por investidores convencionais, mas recusamos. Eles colocariam o dinheiro e cobrariam resultados, mas não estariam juntos conosco no dia-a-dia. Não teriam paixão pelo negócio. Com o crowdfunding, criamos uma comunidade engajada e totalmente envolvida no projeto”, afirma Barreira, que trabalha no mercado financeiro e idealizou a operação. Karin é quem fica à frente dos trabalhos da cervejaria.

Agora, ele quer aumentar ainda mais a comunidade Leuven. Tanto que reduziu a cota mínima que antes foi de R$ 5 mil. Essa captação pública chega após uma operação semelhante, fechada para os sócios, e que rendeu, em julho passado, mais R$ 1,350 milhão, o que significou 90% de aderência.

O economista paulista Celso Toledo foi um dos sócios que não apenas reinvestiu como pensa seriamente em participar também da nova etapa de captação:“O mecanismo é parecido como que acontece na Bolsa de Valores. Todo investimento tem riscos, mas como sou vizinho do Gustavo, tinha confiança, o que me fez aderir de imediato. Nunca tive pretensão de ser dono de cervejaria, mas é bacana participar de um projeto que dá certo”, comentou Celso que também atua no mercado financeiro.

A mudança para a nova fábrica está prevista para janeiro, período de menor sazonalidade de demanda. Lá, a capacidade de produção será de 60 mil litros contra os 20 mil litros atuais. Na época do primeiro crowdfunding, a Leuven estava avaliada em R$ 7 milhões. Agora, seu valor de mercado é R$ 14 milhões, segundo Barreira. A cervejaria também é pioneira, no país, no uso de realidade aumentada nos seus atuais 12 rótulos.

“Quando aumentamos a comunidade, aumentamos as fatias de bolo que precisam ser distribuídas. Porém, aumentamos o bolo também. Nossa comunidade é um grupo entusiasmado, são embaixadores da marca, abrem portas, fomentam negócios, e isso reflete no resultado”, afirmou Barreira que admite ter se inspirado no case de sucesso da cervejaria escocesa BrewDog, atualmente com 50 mil sócios.