Mercado de capitais no Brasil: paraíso das fraudes e dos receptadores de dinheiro roubado
As parcerias no Brasil do banco onde a Lava Jato achou 38 contas de fraudadores da Petrobras
Além da maior multa já aplicada por fraude a um banco nos Estados Unidos, as autoridades suíças anunciaram medidas contra um dos maiores bancos do mundo, o Credit Suisse. A Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro Suíço (Finma) concluiu, em relatório público, que o banco foi conivente com brasileiros que tinham contas cuja origem do dinheiro depositado era fruto de corrupção envolvendo a Petrobras e até mesmo os cartolas da Fifa, fazendo do banco um dos maiores centros de lavagem de dinheiro do mundo.
No total, a Operação Lava Jato identificou 38 contas no Credit Suisse. Em 2015, o consultor Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, entregou à Justiça Federal os extratos bancários de suas contas na Suíça, por onde passaram US$ 10 milhões destinados ao ex-diretor de serviços Renato Duque e ao seu braço direito, o ex-gerente de engenharia Pedro Barusco no esquema de corrupção e propina na estatal. Uma das contas usadas estava no Credit Suisse.
O lobista Jorge Luz, um dos operadores de propinas do antigo PMDB, foi um dos envolvidos que também usou o banco. Ele entregou ao juiz federal Sérgio Moro os nomes de supostos beneficiários de parte dos repasses que fez por meio do uso de offshores no exterior.
O operador do MDB, Mário Miranda, também confessou crimes e deixou à disposição da Justiça US$ 7,2 milhões em valores repatriados - montante oriundo, segundo ele próprio disse, de práticas ilícitas em contratos da Petrobras. Mais de US$ 5 milhões estavam no Credit Suisse.
No caso do Credit Suisse, a Finma encomendou uma investigação que fez um levantamento do comportamento do banco entre 2006 e 2016. Um processo, portanto, foi aberto em 2017, diante das semelhanças que as autoridades encontraram entre a Petrobras, e dirigentes da Fifa, dentre eles os ex-presidentes da CBF, integrantes do Comitê Executivo da Fifa, Ricardo Teixeira e José Maria Marin, este preso por fraude nos Estados Unidos. A conclusão foi de que o banco “infringiu suas obrigações de supervisionar o combate à lavagem de dinheiro em todos os três casos”.
Filho de Sérgio Machado foi diretor do Credit Suisse
Sergio Firmeza Machado, filho do ex Presidente da Transpetro e delator na Lava-Jato, foi o segundo executivo do banco de investimentos Credit Suisse no Brasil. Para não ser preso, Sergio Filho, tal como o pai, teve de fazer acordo de delação premiada com a Justiça brasileira. Serginho, como é conhecido no mercado, era o responsável pela área de operações estruturadas do banco. Agressivo e tido como “garoto prodígio”, Sergio Firmeza Machado era o principal executivo da instituição no Brasil, abaixo apenas do atual presidente do banco suíço no país, José Olympio Pereira, filho do fundador da Editora José Olympio.
A associação com o fundo Canvas Capital
Para dar “ar de investidor e que traz recursos para o Brasil”, o Credit Suisse se associou ao fundo Canvas Capital, cujo principal executivo e sócio hoje é Antonio Quintella e tem Rafael Fritsch como executivo financeiro.
Criado em 2012 por André Jakursky, dono do JGP, o banqueiro, que foi sócio de Paulo Guedes no Banco Pactual, desfez de sua participação no Canvas, por discordar das “práticas operacionais” dos sócios Rafael Fritsch e Antonio Quintella. Rafael ficou conhecido no mercado financeiro por ter causado prejuízo a um ex presidente do BNDES, em desastroso investimento. Depois disso, Rafael foi socorrido por Jakursky, que lhe deu uma nova oportunidade profissional.
Rafael é filho do economista Wiston Fritsch, ex Presidente da corretora Lemann Brothers, protagonista do maior tombo da história do mercado financeiro americano e, no Brasil, foi Presidente da fracassada aventura da empresa Petra que deixou rombo milionário no mercado.
Antonio Quintella foi Presidente do Credit Suisse e era um dos herdeiros da Montreal engenharia que foi a falência em 2006.
Mas as operações do Fundo Canvas, que foi criado para investir no mercado imobiliário, sob comando de Rafael Fritsch, também foram mal sucedidas, causando perdas que fizeram Jakursky desistir e sair da operação. Até mesmo relatórios com informações falsas sobre recuperação de crédito foram enviadas pelo Canvas à CVM, o xerife do mercado de capitais brasileiro, causando constrangimento para os acionistas.
Liquidado o fundo imobiliário, Antonio Quintella, ex-presidente do Credit Suisse, convida para entrar de sócio no Canvas Capital S.A (“uma empresa de investimentos alternativos com participação do Credit Suisse Group AG”, conforme é anunciado no site da empresa) o banco suíço, condenado por fraudes nos Estados Unidos e acusado na Europa e em seu próprio país, por lavagem de dinheiro. No Brasil, o banco suíço foi um grande receptador de dinheiro roubado por executivos da Petrobras, além dos cartolas da Fifa.
Conhecedores das operações do banco no Brasil, Quintella/Canvas e Credit Suisse estabelecem nova plataforma de negócios e entram em nicho ainda pouco explorado no Brasil: o mercado de compras de “créditos podres” de bancos, denominado no mercado de “distressed assets”. Voltado principalmente a investidores internacionais em Nova York, o fundo está comprando crédito corporativo e precatórios com risco-Brasil, segundo Rafael Fritsch, diretor de investimentos para fundos distressed do Canvas.
Para atuar neste mercado, Quintella, Fritsch e Credit Suisse tomaram emprestados, em junho de 2018, US$ 450 milhões da PJT- Park Hill Group, empresa financeira americana com sede em Nova Iorque, que em 2016 foi processada pela fundação de caridade do bilionário Louis Bacon. Motivo: fraude. O diretor da PJT -Park Hill, Andrew Caspersen foi acusado de fazer uma “pirâmide” dentro da empresa, lesando dezenas de clientes. O total desviado soma mais de US$ 38 milhões. Processado pela justiça americana, Caspersen foi condenado a quatro anos de prisão. A promotoria americana pediu 30 anos, mas como ele se confessou culpado, pegou somente quatro anos, devendo sair da prisão em 2020.
Novas investigações contra o banco no mundo
As acusações de crime de lavagem de dinheiro contra o Credit Suisse não se restringem às multas e condenação nos Estados Unidos. O banco virou foco de novas investigações por envolvimento em lavagem de dinheiro e evasão fiscal na Holanda e em vários países europeus. Promotores holandeses acusam o banco de lavagem de dinheiro e evasão fiscal e foram desencadeadas ações sobre dezenas de milhares de contas suspeitas em cinco países.
As buscas coordenadas começaram esse ano na Holanda, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Austrália, conforme declaração do escritório holandês para a acusação por crimes financeiros (Fiod). O Credit Suisse, declarou que as autoridades locais visitaram seus escritórios em Amsterdam, Londres e Paris “sobre questões fiscais de clientes” e que estava cooperando.
Enquanto o Credit Suisse é condenado por crimes financeiros em diversos países, no Brasil nada acontece com o banco que recebeu dinheiro roubado de operadores financeiros das quadrilhas que delapidaram a Petrobras.
Diferentemente dos Estados Unidos, aqui nenhuma multa. Nem um pedido de prisão preventiva. Nem um processo por lavagem e receptação de dinheiro roubado, como aconteceu na Suíça, país onde o banco foi fundado e tem sua sede. O Banco Central do Brasil não se pronuncia. Porém, fonte do Ministério Público Federal, que pediu para não ser citado, declarou que a “hora do Credit Suisse no Brasil ainda vai chegar e eles vão ter de se apresentar diante da lava-jato."
Ao contrário de Serginho Machado, Antonio Quintella, ex presidente do Credit Suisse e atual sócio do Fundo, ainda sequer foi convocado para prestar depoimento pela Lava Jato. Segundo a mesma fonte do Ministério Público, “Quintella como ex Presidente do Credit Suisse sabe o nomes de todos os grandes operadores de dinheiro roubado do Brasil que possuem contaa no Credit Suisse. A hora dele vai chegar, também, concluiu.”