Alta da inflação pode atrapalhar a Previdência
Impactos na alimentação e combustível. Feijão deve ficar mais salgado para os brasileiros
A alta inesperada de 0,75% na inflação (medida pelo IPCA, que reflete a cesta de consumo das famílias até 40 salários mínimos de renda e de 0,77% no INPC, que coleta as despesas das famílias com renda até cinco SM) pode surgir como um complicador extra para a tramitação da reforma da Previdência nos próximos meses.
A taxa, puxada pela alta de 1,37% na alimentação do IPCA (como vilões dos alimentos estão: feijão carioca subiu 105% em 2019 e 135% em 12 meses e o tomate, subiu 28% em 12 meses - só em março alta de 31,8%) que já acumula alta de 3,09% no ano, mais de 75% dos 4,04% de 2018) levou a inflação em 12 meses a 4,58% pelo IPCA e a 4,67% pelo INPC (alimentação subiu 1,50%), bem acima da meta de inflação do Banco Central, de 4,25% para este ano.
Apenas em Brasília (3,83% no IPCA e 3,10% no INPC), Goiânia (3,84% no IPCA e 4,19% no INPC) e Curitiba (3,99% no INPC e 4,32% no IPCA) estão com inflação razoável. A escalada superou todas as previsões do mercado. A Pesquisa Focus previa 0,55%, as Top 5, as cinco instituições que mais acertam, apostavam em 0,50%, e até o Bradesco, mais pessimista, que previu 0,64% no Boletim Diário de hoje. Como a inflação foi de apenas 0,09% em março de 2018, houve o salto. Muitas altas podem ser revertidas (como material escolar e mensalidades, mas alimentos e combustíveis estão com viés de alta, o que pode complicar o cenário.
Pelo país
A questão é que as projeções para abril e maio superam as taxas registradas no ano passado, o que vai elevar a temperatura da inflação em 12 meses nas principais cidades do país. Porto Alegre já está rodando com inflação de 5,18% no IPCA e 5,29% no IPCA. São Paulo, a maior metrópole brasileira, acumulou 4,59% no IPCA e 4,79% no INPC.
No Rio de Janeiro, as taxas são de 4,85% e 4,93%. No Nordeste, Salvador tem 4,75% e 64,68%, respectivamente. Em Recife, os índices atingiram 4,59% e 4,60%. E em Fortaleza, as taxas foram de 4,26% e 4,23%.
Top 5 pela Pesquisa Focus
De acordo com as Top 5 ouvidos pela Pesquisa Focus, a inflação do IPCA e3sperada para abril é de 0,40%. Como a taxa foi de 0,22% em 2018, não há dúvidas quanto a um salto para mais de 4,70% na taxa em 12 meses. Se passar de 0,45%, o salto passa de 4,80%. Em maio de 2018 a alta do IPCA foi de 0,40% e em junho, com o impacto da greve dos caminhoneiros, a taxa explodiu para 1,28%. Portanto, a probabilidade é a taxa anual declinar para menos de 4% só em junho. Mas o resultado da inflação de junho só seria conhecida dia 7 de julho. Seria no auge das discussões da reforma da Previdência no Congresso. Se a discussão se estender além do recesso de julho, a situação pode ficar mais complicada.
Não vale tentar quebrar o termômetro ou culpar o IBGE, como o presidente Jair Bolsonaro insinuou ao ser surpreendido pelos números negativos da pesquisa de desemprego do IBGE em fevereiro (quando ele comemorou o forte aumento da criação de 123 mil empregos no Caged). Na ocasião houve antecipação de contratações para o Carnaval, na primeira semana de março, mas cada ‘termômetro’ mede uma temperatura. Criação de vagas não implica, necessariamente em redução do desemprego. Pesquisa divulgada hoje pela Fundação Getúlio Vargas sobre o indicador antecedente de emprego em março aponta para o pior resultado desde outubro, confirmando a lentidão na recuperação da economia e do emprego.