Em uma década, comércio bilateral em real e peso é pífio
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em agosto de 2008, os então presidentes Lula e Cristina Kirchner falavam sobre a possibilidade de criação de uma moeda única que unisse Brasil, Argentina e demais parceiros do Mercosul.
Estavam às vésperas do lançamento de um sistema que permitiria realizar transações comerciais entre os países em suas próprias moedas, sem a necessidade de conversão para o dólar americano. Tratava-se do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), iniciativa estendida ao Uruguai e ao Paraguai posteriormente.
Os números do Banco Central mostram que esse sistema continua muito incipiente, com três ou quatro operações registradas por mês. O fluxo de comércio entre os dois países no ano passado foi de US$ 25 bilhões (quase R$ 100 bilhões). Pelo SML, passaram apenas cerca de R$ 3 milhões.
A ideia de moeda comum já havia sido abordada nos governos do argentino Carlos Menem e do brasileiro FHC, época em que os países europeus caminhavam para a implantação do euro. Nunca houve, no entanto, proposta concreta ou trabalho oficial dos dois países nesse sentido.
Na Europa, a ideia de uma unificação monetária ganhou força na década de 1990, no contexto do fim da Guerra Fria. Em 1992, foi assinado o Tratado de Maastricht por representantes de 12 países, estabelecendo as bases para o sistema de moeda única, com uma proposta de cronograma e critérios de elegibilidade para entrada de países no regime monetário.
Os mais importantes foram os limites para dívida pública, deficit público, inflação, taxa básica de juros e taxa de câmbio, neste último caso, nos dois anos antes da integração. A inflação na Argentina hoje está próxima de 50 %. No Brasil, abaixo de 5%.
Nao caso europeu, passaram-se ainda seis anos até a criação do Banco Central Europeu, independente dos governos nacionais, outra questão a ser superada no Mercosul.
O euro entrou em vigor em 1999, mas a nova moeda só circularia fisicamente em 2002.