Pandemia pode gerar oportunidade para acelerar automação da indústria no Brasil, diz economista

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Funcionários na linha de produção de fábrica da Natura

Com as medidas de isolamento impostas pelo combate à pandemia, as empresas tiveram que buscar novas formas de produção e relações comerciais. Segundo economista Ricardo Balistiero, sem uma política pública adequada, a situação pode gerar graves problemas sociais.

Especialistas do mundo todo apontam um aceleramento da automatização das empresas em função da crise gerada pela Covid-19. Assim, uma pesquisa da agência Ernst & Young mostra que 36% das empresas globais estão acelerando os planos de automatização.

A agência de notícias Sputnik Brasil conversou sobre o tema com Ricardo Balistiero, economista, professor e coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia.

O especialista destacou que, apesar das medidas de afastamento social, o Brasil não viveu nenhuma crise de desabastecimento. Isso significa que o setor industrial do país continuou operando.

"Se as pessoas não estavam trabalhando, quem fez esse papel certamente foram as máquinas. Então houve um processo de aceleração da automação", disse Ricardo Balistiero.

No entanto, o economista destacou que o nível de automação no Brasil ainda não é muito alto. Ele culpou a falta de uma política pública para o desenvolvimento da indústria. A pandemia, nesse sentido, poderia ser o motor de uma mudança.

"Seria fundamental que o país acelerasse esse processo de automação, articulado com uma política pública. Porque isso certamente vai permitir mais eficiência e aumento de produtividade por parte das indústrias e, ao mesmo tempo, vai gerar a possibilidade de inserção de pessoas que, por ventura, perderem o emprego no mercado de trabalho com uma outra função", afirmou.

O professor alertou que o processo de automação sempre gera grande preocupação do ponto de vista do emprego. Idealmente, a máquina deveria substituir o trabalho exaustivo e nocivo, como o de corte de cana. Mesmo nesses casos, segundo o professor, há necessidade de uma política pública para reaproveitamento dessa mão de obra.

"Os robôs devem ficar com a parte mais braçal. Isso já tem ocorrido há muito tempo. Haja vista o que tem acontecido no setor bancário brasileiro nos últimos 30 anos. Agora, se essa é uma realidade que veio para ficar [...] há necessidade de políticas públicas que possibilitem conviver com essa realidade e requalificar essa mão de obra. Caso contrário, teremos uma legião de pessoas 'inempregáveis' e isso vai gerar um problema social bastante grave", afirmou Balistiero.

"Isso a gente só consegue fazer com uma política industrial articulada, coisa que nós não temos, infelizmente no Brasil. E não temos há muito tempo", acrescentou o entrevistado.

Ele explicou que a última política industrial de grande escala no país foi elaborada nos anos 1950. Dessa forma, o setor foi perdendo ao longo de décadas o seu papel no Produto Interno Bruto e no mercado internacional, apesar do alto potencial industrial brasileiro.

"O Brasil está cada vez mais se distanciando das cadeias produtivas globais. E a crise da pandemia pode piorar um pouco mais essa situação, uma vez que o distanciamento social pode gerar políticas protecionistas, não só por parte do Brasil, mas no mundo", alertou Balistiero.

Segundo o economista, a globalização gerou uma redução de custo para as indústrias em função do desenvolvimento das cadeias produtivas globais. No caso do Brasil, a inserção foi ruim, pois o país virou montadora, sem assumir a parte do desenvolvimento tecnológico.

"O risco que nós temos é, em função da pandemia e na ausência de uma política industrial, perder mais participação industrial no PIB internacional", constatou o professor.

Home office

Um outro aspecto suscitado pela pandemia foi a mudança nas relações de trabalho. A Covid-19 obrigou boa parte das empresas a optar por home office.

"Por mais que estejamos experimentando uma redução do contágio, o recomendável ainda é o distanciamento social", destacou Ricardo Balistiero.

Essa realidade se impôs de forma repentina, para o economista, mas deve permanecer para muitos mesmo com o fim da pandemia do novo coronavírus.

"Se percebeu que, além de ser mantida, muitas vezes o home office aumenta a produtividade. Então não há nenhuma razão para que alguns funcionários de empresa voltem a ocupar sua função na sede da companhia. Por outro lado, isso pode gerar uma redução de custo. As empresas podem optar por escritórios menores, o que vai reduzir aluguéis. Já para o funcionário a produtividade aumenta, entre outras coisas, porque ele evita toda a perda de energia e de tempo com o deslocamento", concluiu o entrevistado, que avalia essa mudança como positiva.(Com agência Sputnik Brsil)