Presidente do Banco Central anunciou que o país está avançando na criação do Real Digital
Real Digital permitirá maior conexão com sistema financeiro global, opina economista
Na última reunião do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), organização de cooperação entre bancos centrais, o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, anunciou que o país está avançando na criação do Real Digital, a versão eletrônica da moeda nacional.
De acordo com Campos Neto, o Banco Central do Brasil deverá divulgar em breve mais detalhes sobre a moeda digital.
"Nós lançamos um Projeto de Lei para mudar todas as características da moeda real. O primeiro projeto é de simplificação, a segunda fase é de internacionalização e convertibilidade, e a terceira é que já começamos, o projeto de digitalização. Estamos avançando muito no processo de moeda digital e deveremos ter notícias em breve", disse Campos Neto, sem oferecer mais detalhes sobre o Real Digital, citado pelo site Investing.com.
O presidente do Banco Central também defendeu a cooperação entre os diferentes bancos centrais do mundo para discutir o lançamento de moedas digitais, pois muitos projetos que já estão em curso possuem características comuns e é preciso aprofundar o diálogo para acelerar a digitalização da economia.
O economista-chefe do Banco Digital Modal Mais, Álvaro Bandeira, explica que o Real Digital é diferente de outras moedas digitais, como o bitcoin.
De acordo com Bandeira, o bitcoin funciona muito pouco como meio de pagamento e é muito mais utilizado para a especulação, "com enorme volatilidade".
Por sua vez, a criação da moeda digital que vem sendo estudada pelo BCB, e de outras divisas similares em outros bancos centrais do mundo, está vinculada a "um mercado regulado e eventualmente padronizado entre os diferentes bancos centrais", o que facilitará as transações entre países e evitará danos ao sistema financeiro global, esclarece Bandeira.
"Os estudos e os testes estão sendo desenvolvidos na China, nos Estados Unidos, na zona do euro, mas estão ainda em curso e, portanto, ainda sofrendo algumas mudanças e alguns aperfeiçoamentos. Mas a pandemia e isolamento social aceleraram a dinâmica e a necessidade de termos um mercado mais digitalizado em todos os aspectos, inclusive no que diz respeito à moeda", opina o economista-chefe do Modal Mais em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil.
Na última segunda-feira (12), o presidente do Banco Central do Brasil participou da 1ª Conferência Ibero-americana de Banco Centrais, onde também falou sobre o projeto do Real Digital. De acordo com Campos Neto, há quatro questões principais que ainda precisam ser respondidas no que diz respeito ao Real Digital: se a moeda digital terá remuneração ou não, quem será responsável por sua emissão, questões envolvendo a sua rastreabilidade e qual será a tecnologia adotada no projeto.
Além disso, Campos Neto assinalou que a pandemia de covid-19 acelerou as tendências digitais e que a tecnologia se mostrou o maior instrumento de democratização do país, pois "diminui custos, barreiras de entrada, aumenta a competição e leva serviços a lugares remotos".
Nesse sentido, o presidente do Banco Central assinalou que prevê uma integração ainda maior entre o sistema financeiro e as mídias sociais nos próximos anos, e, como exemplo, citou a autorização concedida recentemente pelo BCB ao WhatsApp para lançar seu sistema de pagamentos no país.
Para Álvaro Bandeira, independentemente dos detalhes que ainda precisam ser definidos para o lançamento da moeda digital, ela certamente representará um "ganho" para o país.
Segundo o economista-chefe do Modal Mais, a divisa eletrônica permitirá uma maior desconcentração bancária e reduzirá o risco sistêmico, evitando crises, não só globais como locais, em sintonia com outros movimentos recentes no sistema financeiro nacional, como o surgimento de Open Banks, Fintechs, cooperativas e a "própria independência do Banco Central".
Além disso, Bandeira argumenta que a moeda digital permitirá uma conexão maior com o sistema financeiro global, o que dará maior visibilidade para o real, transformando-o "em uma moeda corrente no mercado Internacional".
Para o economista-chefe do Banco Digital Modal Mais, esse movimento será positivo para inserir o Brasil no mercado global de forma organizada, com uma agilidade bem maior, menos burocracia e facilitando a abertura da economia brasileira ao comércio global.
"Afinal de contas, ainda somos bem fechados e isso certamente vai ajudar no que diz respeito a nos inserirmos melhor no comércio transoceânico", conclui Álvaro Bandeira.(com agência Sputnik Brasil)