Do limão, uma limonada: isenta de imposto, Shein vai investir R$ 750 milhões no Brasil
Gigante do e-commerce asiático pretende fazer parceria com 2 mil fabricantes e gerar 100 mil empregos no país, nos próximos três anos
A gigante varejista de moda chinesa Shein anunciou, nesta quinta-feira (20), que vai investir R$ 750 milhões no Brasil - até o ano de 2026 - para estabelecer uma rede com milhares de fabricantes do setor têxtil no País. No mesmo comunicado, a marca de fast fashion anunciou um marketplace (canal online de vendas) para produtos e vendedores no Brasil. Também afirmou que pretende fazer parceria com 2 mil fabricantes no País, o que, segundo a estimativa da Shein, deve gerar 100 mil empregos nos próximos três anos.
De acordo com a gigante asiática de e-commerce, a ideia é fornecer tecnologia e treinamento a esses fabricantes para que eles atualizem seus modelos de produção e adotem um formato sob demanda da empresa. Ainda conforme a companhia, que é uma das mais procuradas pelo público jovem feminino no país, até o final de 2026 cerca de 85% de suas vendas no Brasil devem corresponder a fabricantes e vendedores locais.
"A Shein (...) anuncia hoje que fará um grande investimento no Brasil, a fim de tornar o país um polo mais moderno de produção têxtil e de exportação para a América Latina", diz o comunicado divulgado pela varejista.
O anúncio aconteceu em meio à desistência do governo federal de taxar encomendas internacionais com preços de até US$ 50 (cerca de R$ 250, na cotação atual). A Shein é uma das principais vendedoras de roupas e acessórios para consumidores brasileiros. Além disso, a plataforma se comprometeu a aderir ao plano de conformidade da Receita Federal e "normalizar as relações com o ministério da Fazenda", pontuou o ministro Fernando Haddad (PT).
Segundo Haddad, essa movimentação vai trazer investimentos para o país e equilibrar as condições de produção e comércio para varejistas nacionais e internacionais.
"Nós queremos investimentos estrangeiros, nós apreciamos o comércio eletrônico, queremos condições competitivas para que nós não prejudiquemos empregos no Brasil e as lojas do varejo brasileiro", completou.
Tecnologia e treinamento
A Shein ressalta que o investimento anunciado "permitirá aos produtores locais gerenciar melhor os pedidos, reduzir o desperdício e diminuir o excesso de estoque, resultando em maior agilidade para responder à demanda do mercado".
A companhia chinesa pretende oferecer tecnologia e treinamento aos fabricantes no País para garantir operações mais eficazes, que atendam o modelo de negócio da Shein. Além disso, quer "tornar o país um polo mais moderno de produção têxtil e de exportação para a América Latina", segundo comunicado oficial.
"Temos visto grande sucesso no Brasil desde nosso lançamento em 2020 e, com a crescente demanda dos consumidores, vimos a oportunidade de localizar mais a nossa cadeia de fornecimento para beneficiar os consumidores, as pequenas empresas e a economia em geral", afirmou Marcelo Claure, chefe da Shein para a América Latina.
Primeiras parcerias
Mal anunciou o investimento de R$ 750 milhões no Brasil, e a Shein já fechou as duas primeiras parcerias no país. Trata-se de duas companhias de tecidos de Minas Gerais. O acordo, firmado com a Coteminas e a Santanense, foi tornado público nesta quinta-feira (20), em fato relevante divulgado pela Springs Global, empresa controladora das fabricantes mineiras. A informação é do G1.
Segundo o documento publicado pela Springs Global, o memorando assinado com a Shein envolve o financiamento da varejista asiática para "reforço de capital de trabalho" das duas companhias brasileiras. Inclui ainda contratos para exportação de "produtos para o lar" e esforços para que 2 mil dos confeccionistas das empresas brasileiras passem a ser fornecedores da asiática "para atendimento do mercado local e regional".
Tira casaco, coloca casaco
Não apenas a Shein, mas como também a Shopee, outra gigante do e-commerce chinês, ganharam notoriedade nos últimos dias após o governo federal ter decidido acabar com a isenção de imposto de remessas internacionais de pessoas físicas que comprassem produtos na internet pelo valor de até US$ 50 (cerca de R$ 250).
Diante da repercussão negativa do anúncio, e a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Haddad anunciou em 18 de abril que o governo estava voltando atrás na decisão. “Estão usando uma brecha para burlar a lei. A Receita queria fechar essa brecha. O presidente falou para atuar administrativamente primeiro para não prejudicar quem usa a regra de boa fé”, disse Haddad a jornalistas.
Técnicos do governo alegavam que as varejistas asiáticas como a Shein e a Shopee estariam burlando a tributação para a comercialização de produtos por meio da isenção sobre compras internacionais entre pessoas físicas. Já os consumidores temiam que a cobrança elevasse o preço dos produtos e acabasse com a atratividade desses sites.
Nesta semana, o secretário da Receita Robinson Barreirinhas chegou a dar uma declaração de que a Fazenda não deveria recuar em fazer com que as empresas do comércio eletrônico paguem o imposto devido. Ainda assim, o governo desistiu da taxação. Até que, poucos dias depois, veio o anúncio da Shein. Do limão, uma limonada...