Censo de 2022: Brasil tem 203 milhões de habitantes; ‘sumiram’ 12 milhões, comparado com as projeções anteriores

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Por Gilberto Menezes Côrtes

O total de pessoas ocupadas cresceu 1,1% em comparação ao trimestre anterior, passando para 98,9 milhões de brasileiros

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que realizou o complicado Censo Demográfico de 2022, adiado desde 2020 pela pandemia da covid e pelo corte de verbas no governo Bolsonaro, informa: “Em 1º de agosto de 2022, o Brasil tinha 203.062.512 habitantes”. Desde 2010, quando houve o Censo anterior, a população cresceu 6,5%, ou 12.306.713 pessoas a mais. A taxa de crescimento anual, de 0,52%, é a menor da série histórica iniciada em 1872 quando houve o 1º Censo do país, e caiu a menos da metade dos 1,17% registrados no Censo de 2010.

O dado mais espantoso, no entanto, é que até agosto, quando foi suspenso pelo IBGE o “relógio populacional”, que apontava o aumento de um novo habitante do país a cada 19 segundos (antes da covid -19 o aumento era a cada 20 segundos), marcava 215,450 milhões de habitantes. Ou seja, teriam “sumido” mais de 12 milhões de habitantes.



Com o novo dado da população, o Brasil, que é o 5º país em território, mas tinha perdido o 5º lugar em população para o Paquistão, na Ásia (220 milhões), desceu para o 7º lugar, sendo superado pelos 215 milhões da Nigéria, na África. Depois do Brasil, a maior população é de Bangladesh, com 164 milhões de habitantes. Também estão na Ásia as duas maiores populações do mundo: Índia e China, em torno de 1,5 bilhões cada, e a Indonésia (273 milhões), superada apenas pelos 331 milhões de habitantes dos Estados Unidos.

Os problemas do Censo

José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador aposentado do IBGE, onde foi coordenador da pós-graduação da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto, observa que já tinha escrito que “as projeções do IBGE (de 2018) estavam superestimadas, pois foram feitas antes da pandemia. Já havia dito que não haveria 214 milhões”, entretanto, mesmo fazendo ressalvas quanto às dificuldades de os recenseadores obterem "respostas fidedignas nos domicílios visitados”, ele acha “203 milhões pouco”.

Num simples exercício de projeções sobre o número arredondado no Censo de 2010, que era de 191 milhões de habitantes, tomando por base os números do Data SUS, com o balanço dos nascimentos e mortes, que se igualaram pela covid até 2022, José Eustáquio estima que o total de habitantes teria de ser maior. Com a crise econômica, o efeito migratório (entrada de estrangeiros- saída de brasileiros, que costumava ser equilibrado, andou apresentando evasão de 2 milhões no intervalo dos dois censos. Mas isso não explica a diferença entre suas projeções anteriores, de que 214 milhões era “exagerado”.

Para o especialista em demografia, os problemas operacionais do Censo, adiado de 2020 e esvaziado de verbas pelo governo Bolsonaro (leia-se Paulo Guedes, ministro da Economia, a quem o IBGE era subordinado), com muita resistência da classe média urbana em responder às pesquisas, devido ao viés ideológico, à parte as dificuldades naturais nas comunidades carentes das grandes cidades e no distante interior, as informações do IBGE são de que a pesquisa alcançou 97% do universo pretendido.

Saber interpretar os dados

A falta de 3%, num universo de mais de 200 milhões de habitantes, poderia acrescer mais 6 milhões a 7 milhões de habitantes à população brasileira. Ou reduzir à metade o número de brasileiros que “sumiram”. Quando perguntei, meio que brincando, a José Eustáquio, se não teria havido contagem a menos nas mortes por covid-19, ele admitiu que sim, mas não explica a enorme diferença.

O mais importante para o especialista é saber interpretar os dados, mesmo que parciais, e preparar melhor o Censo de 2030, que se espera sem ameaças de interrupção por nova pandemia. Até lá o IBGE dispõe de pesquisas mensais e trimestrais como a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios Contínua (PNAD Contínua, que aponta dados do mercado de trabalho), as Pesquisas de Orçamentos Familiares. O país conta ainda com os cadastros municipais. Tudo serve para orientar as políticas públicas.

O conhecimento da realidade do país é fundamental para a alocação correta dos recursos públicos, pois indicará se a carência da saúde é maior para a pediatria ou para os idosos. Os problemas no saneamento básico, na habitação e na mobilidade urbana. E, na educação, se é preciso investir mais no ensino básico, na formação profissional ou na educação superior. Um país carente tem de dispor de dados precisos para não gastar mal e desnecessariamente.