Com Sylvia, Baruzzi e Victer, Magda usa DNA da Petrobras para acelerar projetos

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Por GILBERTO MENEZES CÔRTES

Magda Chambriard, presidente da Petrobras

Há exatos 50 dias no cargo, a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, se acercou de diretores com muito DNA da estatal nos currículos para acelerar ainda mais a execução dos projetos que foram indicados no Plano Estratégico 2024-2028, que contempla investimentos de US$ 102 bilhões e irá turbinar a carteira de investimentos e empregos do PAC 3.

Nesta segunda-feira, 8 de julho, a subsidiária integral Transpetro anuncia seu ambicioso plano de investimentos que envolve a contratação de embarcações para a modernização da frota (navios Aframax, Suezmax, Panamax e aliviadores) que podem ajudar a reativar as encomendas para a indústria naval. A demora do anúncio dos planos nessa área gerou atritos entre o ex-presidente Jean Paul Prates e o ministro chefe da Casa Civil, o baiano Rui Costa.

Perdas de cérebro com PDVs

Uma das constatações de Magda Chambriard, com longa carreira na Petrobras, onde ingressou como engenheira estagiária em 1980 (depois fez pós-graduação em engenharia química e em tecnologia de reservatórios) - de onde se afastou em 2002 para ser diretora da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), da qual foi presidente entre 2012 a 2016 - foi de que o enxugamento de quadros, após a Lava-Jato, com a companhia fazendo muitos Planos de Demissão Voluntária (PDV), privou a estatal de quadros com experiência valiosa.

Isso se acelerou no governo Bolsonaro, que tomou a decisão de concentrar os investimentos no pré-sal, sobretudo na Bacia de Santos, enquanto punha à venda 50% do parque do refino, para concentrar as atividades nas refinarias do Rio (Reduc e atual Gaslub, a transformação do antigo projeto do Comperj) e de São Paulo (Paulínia, Cubatão, Vale do Paraíba e Henrique Lage), enquanto das do Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Amazonas seriam vendidas – só a pioneira Landulpho Alves, na BA, e a pequena Reman, de Manaus, foram vendidas).

O plano de desmobilização das refinarias, estimulado pelo famigerado PPI, que alinhava os preços domésticos aos internacionais para facilitar a concorrência, privando os brasileiros dos ganhos estratégicos da autossuficiência do petróleo, foi secundado por vendas de gasodutos e do controle da BR Distribuidora. O corolário seria a privatização da Petrobras num 2º mandato de Bolsonaro.

O Brasil optou por Lula, que orientou pela retomada do protagonismo da Petrobras no desenvolvimento nacional. Uma das primeiras realizações foi o fim do PPI e o uso mais intenso do petróleo mais leve da Bacia de Santos nas refinarias da Petrobras. Elas passaram a operar com mais de 90% de carga útil, contra 75% no governo anterior. O resultado foi que a estabilidade de preços dos combustíveis, ao lado da queda dos preços dos alimentos com a supersafra de grãos de 2023, derrubou a inflação – tarefa da qual o Banco Central foi incapaz, tanto que Bolsonaro cortou impostos da gasolina na tentativa de iludir o eleitor, em 2022.

Magda Chambriard deu preferência a quadros com alta competência e experiência operacional para compor sua diretoria. Havia o entendimento de que Prates escolhera quadros eficientes e motivou os funcionários da Petrobras. Mas alguns diretores entendiam mais de gestão entre paredes do que do operacional.

Por isso, a nova presidente escolheu para a importante diretoria de Exploração e Produção, que tem investimentos previstos de US$ 73 bilhões até 2028, uma geóloga com mais de 42 anos de experiência na companhia. Sylvia dos Anjos fez parte da icônica equipe do engenheiro Guilherme Estrela, ex-diretor de E&P, responsável pela descoberta do campo de Majnoon (no Iraque, nos anos 80 – Saddam Hussein bigodeou a Petrobras, mas isso é outra história) e pela descoberta do pré-sal na Bacia de Santos, em 2006.

Para a diretoria executiva de Engenharia, Tecnologia e Inovação, indicou Renata Baruzzi, engenheira altamente qualificada, com 38 anos de exercício na Petrobras. Ela está esperando a consolidação da aposentadoria para regularizar o desligamento funcional. Junto com a diretora executiva de Assuntos Corporativos, Clarice Coppetti, Magda Chambriard montou uma inédita diretoria com quatro mulheres e seis diretores homens.

O talentoso Victer

Por fim, após reestruturar as diretorias executivas da Petrobras, Magda Chambriard decidiu estabelecer uma nova pasta destinada a coordenar os projetos estratégicos da companhia, que integram a vitrine política do PAC 3, entre os empreendimentos listados estão a contratação de navios, a conclusão do Comperj, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e a contratação de barcos de apoio. Para a exercer a função, escolheu seu ex-colega de Petrobras e da diretoria administrativa da Alerj, o engenheiro Wagner Victer, que tem 37 anos de Petrobras.

Antes de assumir essa gerência, Victer vai atuar como gerente-executivo de Produção e Exploração para agilizar os processos do gigantesco campo de Búzios, o maior do mundo em águas profundas. O objetivo é apressar a entrada em operação de algumas FPSO (navios-plataformas flutuantes que separam água do petróleo e gás e armazenam os dois produtos antes da transferência para navios aliviadores) para aumentar a produção de petróleo e, mediante a redução da reinjeção de gás no campo, transferir o gás de Búzios para alimentar, ainda este ano, a Rota 3 do gasoduto marítimo que levará 18 milhões de metros cúbicos de gás para o Gaslub (RJ) e daí para vários pontos do país. O campo de Búzios tem reservas da largura da baía da Guanabara, com colunas da altura entre o Pão de Açúcar e o Corcovado, com profundidade de até 7 mil metros, sendo mais de 2 mil no mar.

Tricolor fanático, Victer demonstrou em toda sua eclética carreira pública competência inegável como “tocador de obras e projetos”. Na companhia, se destacou como gerente dos campos de Caratinga e Barracuda, na Bacia de Campos, onde gerenciou a implantação do Campo de Marlim, o maior da estatal, antes da descoberta dos campos gigantescos da Bacia de Santos. Implantou ainda o maior sistema de dutos de transporte de combustíveis, ligando a refinaria de Paulínia (SP) ao Planalto Central, junto a Brasília.

Por sua capacidade executiva, foi secretário de Minas e Energia, Petróleo e Construção Naval nos governos Garotinho e Rosinha Garotinho, quando revitalizou os estaleiros do Rio de Janeiro com encomendas para a Petrobras, então concentrada na Bacia de Campos. Outra grande realização foi a criação de rede de postos para abastecimento de Gás Natural Veicular no Rio de Janeiro, no começo do século, que lhe valeram prêmios da Abegás. O uso do gás da Bacia de Campos possibilitou o acionamento de termoelétricas que preservaram o estado do Rio de Janeiro de maiores perdas no racionamento de 2001. Victer ainda dirigiu a Cedae, a Faetec e a Secretaria de Educação do RJ.

O visionário do Açu
Uma das obras mais espetaculares concebidas por Wagner Victer foi o lançamento da pedra fundamental do Porto do Açu, em São João da Barra, em dezembro de 2006, no fim do governo Rosinha Garotinho. Estava presente no areal deserto onde o empresário Eike Batista fez um dos seus maiores acertos (por perdas na OGX, que não achou petróleo, teve de se desfazer de quase tudo no Porto do Açu, que segue sendo o maior polo de desenvolvimento do país, com a integração logística no apoio à exploração das Bacias de Campos e Santos, transformação de gás em energia elétrica, porto de exportação de minérios). Enfim, uma miríade de projetos de geração de emprego e renda.