China toma mercados do Brasil
Marta Nogueira, Jornal do Brasil
RIO - Depois de se consagrar no posto de maior exportadora do mundo, a China está tomando espaço do Brasil no comércio exterior. Os produtos chineses, dentre eles ferro fundido, máquinas e aço, invadiram os mercados dos principais países que comercializam com o Brasil, como os Estados Unidos, México e Argentina, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A participação dos produtos brasileiros nas importações norte-americanas, de outubro de 2008 a setembro do ano passado, se manteve na casa de 1,38%, praticamente a mesma de 2001, revelaram dados da CNI. Enquanto isso, a presença chinesa avançou para 18,82% no mesmo período, dez pontos percentuais a mais do que os 8,64% registrados em 2001. Os chineses ganharam nos setores de produtos químicos, caldeiras, máquinas, plásticos e alumínio.
Para especialistas, o Brasil não tem uma política de incentivo à exportação eficaz o que o coloca em uma posição de desvantagem perante os concorrentes.
O professor de Economia Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Ernesto Lozardo, afirma que é necessário que o governo se empenhe para mudar esta realidade.
Nesta competição, o Brasil perde com impostos excessivos e por não ter uma política forte de apoio à exportação Declarou Lozardo. A tributação que as empresas exportadoras brasileiras precisam pagar é muito alta, e a infraestrutura existente não favorece.
Lozardo ressalta que o país é um grande exportador de commodities, ao contrário da China que vende mais produtos industrializados, com maior valor agregado. Neste contexto, acaba lucrando muito menos com suas vendas do que o concorrente.
A realidade da China também favorece este resultado. Ela tem mantido uma taxa de câmbio desvalorizada, e o governo tem total controle da abertura econômica. É tudo muito bem articulado com qualidade e competição completou.
Nas exportações à Argentina, a participação do Brasil recuou de 35,84% em 2005 para 29,9% no acumulado de outubro de 2008 a setembro de 2009. Em igual período, a fatia dos produtos chineses cresceu de 4,93% para 12,4%.
Já no México não foi diferente, a participação dos produtos brasileiros caiu de 1,78% nos 12 meses terminados em agosto de 2008 para 1,60% em 2009. No mesmo período, a presença chinesa aumentou de 10,98% para 12,91%.
Incentivos
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, anunciou, no último
dia 6, a ampliação do alcance do regime de drawback que isenta exportadoras do pagamento de tributos incidentes sobre a compra de insumos. As médias empresas exportadoras serão as principais beneficiadas pela medida.
Segundo o advogado e sócio do escritório Dannemann Siemsen, especialistas em exportação, Daniel Mariz Gudiño, apesar dos incentivos às exportações receberem uma série de ampliações, os resultados são ainda insuficientes para manter o Brasil em uma posição favorável no comércio internacional.
Evoluímos ao longo dos últimos anos, mas os resultados são ainda pequenos disse.
Saldo comercial inicia o ano no negativo
A primeira semana do ano fechou com saldo comercial (diferença entre as exportações e importações) negativo em US$ 375 milhões e média diária de menos US$ 75 milhões, segundo divulgou segunda-feira o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Para especialistas, o resultado já era esperado, porque o país vive um momento de crescimento econômico, com aumento da renda per capita e valorização do câmbio, criando um ambiente propício para o crescimento maior das importações.
O resultado diário desta primeira semana foi 197,7% maior que o registrado no mês de janeiro do ano passado, que ficou deficitário em US$ 529 milhões (média diária de menos US$ 25,2 milhões).
Ficamos um pouco insatisfeitos porque o Brasil só cresce quando o mundo todo cresce declarou Ernesto lozardo, professor de Economia Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo O governo tem estimulado o desenvolvimento da tecnologia e de renovação do parque industrial. Mas não há uma politica de expansão das exportações eficaz.
Cenário
Foi observada elevação de 10,3% nas exportações de produtos das categorias de manufaturados, com destaque para automóveis, açúcar refinado, óxidos e hidróxidos de alumínio, óleos combustíveis, calçados e etanol. Já na categoria de básicos, ouve um aumento de 7,4%, com destaque para minério de ferro, carne de frango, bovina e suína, farelo de soja e fumo em folhas. Os semimanufaturados tiveram alta de 5,9%, devido a açúcar em bruto, celulose, couros e peles, ferro-ligas e catodos de cobre.
As importações apresentaram crescimento de 18,2% sobre janeiro de 2009, quando a média diária foi de US$ 491 milhões, por conta das expressivas aquisições brasileiras de automóveis e partes (+116,9%), produtos plásticos (+41,7%) e equipamentos elétrico-eletrônicos (+39,8%).