ESPORTES
NAS QUADRAS - Tudo sobre basquete
Por PEDRO RODRIGUES, [email protected]
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Publicado em 20/04/2021 às 10:04
Alterado em 20/04/2021 às 12:08
Gigante Gentil
A quinta-feira no mundo do basquete parecia em velocidade de cruzeiro. Quando Lebron volta? Será que o Denver consegue vencer sem Jamal Murray? Estas perguntas povoavam o imaginário da comunidade quando, no meio da tarde, o “Lead Insider” da ESPN, Shams Charania, soltou um tuite comunicando que LaMarcus Aldridge, do Brooklyn Nets, estava se aposentando.
O susto nem tinha passado quando a máquina de engajamento entrou no ar. Questionaram a decisão do jogador, sua carreira e seu legado. Tudo muito superficial e muito imediatista. A velocidade das informações atropela fatos e sentimentos que também fazem parte de uma história. Principalmente de um jogador tão discreto como Aldridge.
Agora, com uma certa distância e alguma leitura sobre o assunto, não dá para ter uma visão completa da decisão, mas ela é compatível com o modus operandi de LaMarcus. O seu início na temporada 2006/2007 vem cercado de muita expectativa de um novo começo para o Portland Trailblazers. Não por ele, mas sim pelos seus companheiros Brandon Roy e Greg Oden. O armador e o pivô, que era escolha número um do draft do ano anterior, prometiam levar o Portland a voos mais altos. De acordo com diversas publicações como o “The Athletic”, LaMarcus nunca lidou bem com o fato de ser uma excelente segunda opção para Brandon Roy. Este comportamento voltaria a se repetir mais para frente com Damiam Lillard. Para piorar as questões de ansiedade do jogador, ele acaba sua temporada de calouro em 2007 diagnosticado com um problema cardíaco chamado síndrome de Wolff-Parkinson-White.
Não foi o único problema cardíaco que ele sofreu. Novamente em 2011, antes do começo da temporada ele se submete, tal e qual em 2007, a um procedimento em seu coração chamado ablação, que ajuda a corrigir o ritmo cardíaco. Um dado muito importante sobre estes procedimentos, que acaba se perdendo: a recuperação do paciente é bem complicada para a saúde mental. São bastante comuns casos de depressão em pacientes desta natureza. Aldridge nunca lidou com o problema de forma aberta, era bem discreto nas suas interações com a mídia, mas é possível que a saúde mental tenha afetado os caminhos da carreira do jogador.
Não que seja uma desculpa para Aldridge, mas impressionam as decisões erráticas que o jogador acabou tomando na carreira. Vamos ver o melhor momento dele em Portland. Em 2014, tudo poderia acontecer na NBA. No Oeste, o Warriors ainda não tinha se transformado no rolo compressor que se tornou, o Mavs caía pelas tabelas e o Houston de Dwight Howard, James Harden e Kevin McHale no banco, queria provar que podia vencer um campeonato. No caminho, estavam Aldridge e Lillard. A combinação dos dois jogadores fez com que os Blazers vencessem os favoritos Rockets com o primeiro milagre de Damian Lillard. Mas foi Lamarcus Aldridge que acabou com o Houston. No primeiro jogo, um providencial tapinha leva o jogo à prorrogação, que eventualmente leva à cesta final de Dame (jogo aqui).
E isso aumentou a insegurança do jogador. Se sentindo não apreciado, resolve testar o mercado de agentes livres em 2015 e faz uma das atitudes mais bizarras da sua carreira: nos playoffs de 2015, enquanto o time resolve ficar em Memphis para continuar concentrado, Aldridge pega um voo e volta para casa para relaxar. A relação com Lillard e a diretoria estava em frangalhos e não resistiu à proposta do San Antonio Spurs, que levou o jogador. Para desespero do dono do Phoenix Suns, Robert Sarver, que considerava Aldridge “o jogador que vai nos levar às finais em 2 anos”. Não rolou.
Pelo Spurs, disputou sua única final de conferência contra o Warriors naquele Spurs que tinha ainda Kawhi Leonard. Ficou no caminho por um Zaza Pachula. Permaneceu no Spurs, definhando como a franquia. Não soube sair quando tinha mais lenha para queimar e o Spurs não soube trocá-lo quando ainda tinha grande valor no mercado.
Neste ano, assinou com o Nets para surpresa de alguns especialistas que acreditavam que, depois de fazer as pazes com Damian Lillard, poderia voltar para Portland. O que foi pouco divulgado na época da assinatura do contrato com o Brooklyn foi o fato de que Aldridge tem relações profundas com o craque da franquia, Kevin Durant, já que foi ele que ajudou a recrutar Durant para a faculdade Texas AM.
Neste caso, literalmente, o coração não deixou LaMarcus Aldridge fechar sua carreira em quadra. Seu caso é sério e demanda mesmo muito cuidado. Particularmente, sempre gostei muito do jogador. Era uma esfinge da NBA, extremamente difícil de decifrar, mas seu arremesso de média distancia continuava mortal e torcia para que ele fosse às finais com seu Nets.
Fecho o texto com uma história bem-humorada deste gigante gentil. O podcaster Trey Kirby do programa The Starters, da NBA.TV, comentou que entrevistou Aldridge no All Star Game de 2013, ano dos 50 anos de Michael Jordan. Ele perguntou para diversos jogadores em que atividade eles venceriam MJ. Alguns responderam golfe, uns falaram dançando. LaMarcus Aldridge olhou para Kirby, coçou a cabeça e mandou: “MJ com 50 anos? Eu venço na competição no arremesso de meia-distância. Eu acho”. Riu e saiu da entrevista.
Obrigado LaMarcus!
Onça beber água
Chegou a hora dos playoffs do NBB! Conforme regulamento da competição, quem ficou entre a 5ª e a 12ª, disputa uma série melhor de três e, se vencer, passa de fase. Playoffs serão disputados em duas sedes, Minas e Rio de Janeiro - Maracanãzinho, com jogos começando na próxima terça com Bauru e Caxias pela ESPN. Flamengo, Minas, São Paulo e Paulistano esperam a definição das séries para entrar já nas quartas de final. Vamos aos palpites:
1.Bauru (5) X Caxias (12) - Se existe uma hora para o time do técnico Léo Figueiró deslanchar é agora. O time conta com excelentes valores individuais, como Gabriel Jaú, Alexey Borges, Tyrone e Gui Deodato, mas ficou um gosto amargo de não conseguir se manter entre os 4 primeiros na temporada regular. O time conta com Alex Garcia com sua experiência e capacidade de superação nos momentos mais difíceis. O Caxias deve aproveitar as inconstâncias do Bauru para tentar levar a série. Palpite: 2X0 Bauru
2. Corinthians (6) x Pato Basquete (11) - A temporada do Corinthians foi uma montanha-russa de emoções. Um surto de covid-19 logo no começo do campeonato levou a duas derrotas por W.O. Mesmo assim, o Timão se reergueu com Ricardo Fischer com um jogo bem distribuído (12.4 pontos, 2.7 rebotes e 4.9 assistências), a pontaria de Zoom Fuller e o bom jogo de Malcom Miller e Siewert. A mudança trouxe resultados importantes como a vitória contra o Flamengo em dezembro e contra o São Paulo no mês passado. Já o Pato Basquete mostra um caminho para um bom trabalho. No seu segundo ano, o time do técnico Dedé Barbosa chega aos playoffs e conta com o jovem Matheusinho para infernizar o Corinthians. Palpite: Corinthians 2 X 1.
3. Franca (7) X Fortaleza (10) - O Franca chegou esta temporada com orçamento menor que no ano passado e perdeu peças importantes. O ala/pivô Lucas Dias será fundamental para Franca nestes playoffs, mais ainda que na temporada regular. E o Franca sente muito quando Lucas Dias é bem marcado ou tem um dia ruim. Já o Fortaleza do técnico Alberto Bial perdeu Holloway, que vinha muito bem na temporada. Caberá ao armador Brite a responsabilidade dos pontos decisivos. Palpite: Franca 2 X 1.
4. Mogi (8) X Unifacisa (9) - O técnico Guerrinha conseguiu que seu time subisse de produção no momento certo. Com vitórias importantes, como a dominante vitória sobre Bauru no último jogo da temporada, o time de Fulvio, Coleman, Lessa (olho nele) e Wesley vem com tudo para a inconstante Unifacisa. Será que o time da Unifacisa irá finalmente atender ás expectativas criadas no começo do campeonato com um bom playoff? A hipótese não pode ser descartada quando se tem Jogadores como Betinho e Morillo no elenco. Palpite: Mogi 2X0.
3 Pontos
para Gustavo de Conti, técnico do Flamengo
A partir deste mês teremos minientrevistas com apenas 3 perguntas para grande figuras do basquete. Na estreia do "3 Pontos", recebemos o técnico do Flamengo, Gustavo De Conti. Com a palavra o campeão da Champions League das Americas:
1. Primeiro, Parabéns pela conquista e a temporada. O Flamengo buscava um título internacional desde 2015 e traz o senhor em 2018, dentre outros objetivos, para ganhar novamente competições continentais. Qual a sensação que o senhor sentiu quando o Figueiredo acertou o lance-livre e decretou a vitória do Flamengo sobre o Real Estelí? Alívio foi pouco?
Gustavo De Conti: Realmente, o Flamengo fez uma pequena reformulação há cerca de 2 anos, contratando alguns novos jogadores e também a mim, para ajudar a recuperar alguns títulos: NBB e BCLA. A sensação depois dessa conquista foi incrível, muita felicidade em conseguir retribuir todo carinho e confiança da torcida e da diretoria do Flamengo.
2. Depois da América, agora é tentar manter a hegemonia no NBB. Como o senhor vê os desafios dos playoffs que começam em maio? Como manter o time motivado depois de uma vitória tão gigante? A parada das oitavas de final acabou sendo providencial para recuperar jogadores lesionados (Olivinha e Chuzito) e dar um descanso a todos?
Conhecendo o caráter dos nossos jogadores e do nosso staff, não tenho dúvidas de que vamos lutar incansavelmente por mais esse título do NBB. Queremos fazer história, ter uma temporada perfeita em termos de títulos. Já ganhamos o Carioca, o Super 8 e a BCLA, e queremos muito fechar a temporada com esse quarto título. Falando da parada no NBB, o lado bom dela realmente foi de poder tentar recuperar alguns jogadores lesionados, como Luciano e Olivinha.
3. Todos os grandes títulos desta equipe foram fora de casa. Estamos falando do Super 8 e NBB 2019 em Franca e, é claro, a Champions na Nicarágua. Não está na hora do Gustavinho comemorar o seu título “em casa”, mais perto da apaixonada torcida do Flamengo?
De fato, isso é uma coisa curiosa. Títulos são importantes demais, não importa muito o local, mas concordo que ainda está faltando aquele grande título em casa, com a torcida lotando o ginásio. Infelizmente estamos na pandemia e isso ainda não é possível, mas espero que em breve estejamos livres desse vírus terrível e muito mais próximos dos nossos torcedores.