ESPORTES

NAS QUADRAS - Tudo sobre basquete

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Por PEDRO RODRIGUES

Publicado em 10/08/2021 às 20:30

Alterado em 10/08/2021 às 20:30

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Ouro de Tolo

Macaque in the trees
Durant foi o MVP das Olimpíadas de Tóquio (Foto: Foto: divulgação)

Quando o cronometro zerou para a final Olímpica do basquete entre Estados Unidos e França, os dirigentes da USA Basketball devem ter suspirado de alívio. O ouro tinha chegado. Os Americanos tiveram um inspirado Kevin Durant com providenciais 29 pontos e devolveram a derrota sofrida, 83 a 76, na primeira partida do Torneio Olímpico para os Franceses. Somente o brilho de uma medalha de ouro pode ofuscar a quantidade absurda de erros cometidos na preparação da equipe. E não foram poucos erros.

A seleção americana de basquete sempre vai inspirar curiosidade, atenção e reverência por parte do público. Apesar de alguns veículos insistirem com o apelido “Dream Team”, o grupo atual está longe disso. E, convenhamos, “Dream Team” é o de 1992, com Bird, Magic e Jordan. Em quadra a coisa já não é assim desde muito tempo. Mais precisamente, desde 2002, na Copa do Mundo onde mesmo com jogadores da NBA e jogando em casa, os Estados Unidos terminaram no melancólico sexto lugar. A história se repetiu nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, com uma azeda medalha de bronze com jovens talentos como Lebron James e Dwyane Wade.

Voltando ao presente, a USA Basketball realmente passou no "fio da navalha” nesta preparação. Primeiro foi com permanência do técnico Greg Popovich. Apesar dele ser um dos maiores técnicos e executivos que a NBA tem, o lendário técnico do San Antonio Spurs tem perfil mais combativo e distante da geração atual de jogadores da NBA. E todas as vezes que o time americano tem um técnico com este perfil a coisa dá uma desandada. George Karl e Larry Brown possuem este perfil e fracassaram em 2002 e 2004. Brown inclusive é um dos mentores de Pop. E não faltaram sinais que a coisa não andava bem. No começo da preparação para o Jogos Olímpicos surgiram vazamentos na imprensa que alguns jogadores não estavam satisfeitos com o planejamento do ataque do time e que “não vai funcionar esta coisa do Spurs aqui”. No fim prevaleceu a competência do técnico. Os ajustes realizados durante a competição, começando pelos titulares com 3 armadores (Holiday/Lillard/Booker), depois a acertada decisão de deixar a bola com Kevin Durant a maior parte do tempo, e finalizando com a ênfase a defesa em finais dos jogos deu certo. Este último ajuste foi muito popular com Damian Lillard, para não dizer o contrário.

Outro erro absurdo foi a montagem deste time. Vamos começar pela definição das superestrelas. Desde muito cedo superastros como Lebron James e Steph Curry não demonstraram interesse em participar deste ciclo Olímpico. Em um outro momento “fio da navalha”, se o Brooklyn Nets não é eliminado dos playoffs, será que Kevin Durant vai mesmo para a Olimpiada? E se ele tivesse se lesionado? E quem iria? Paul George? Chris Paul? Sem Durant esse time não iria longe. O mal-humorado “aniversariante” foi o líder e face desse time que trouxe a medalha mas não inspirou empatia nem torcida dos próprios americanos. Se Steph Curry tivesse ido, talvez o foco fosse diferente. E isso o USA Basketball pecou. Durant precisa de um segundo em comando que consiga atrair a atenção para ele e deixar KD fazendo o que sabe: jogar basquete. Quando KD tem que jogar e ser a cara da franquia, a coisa não funciona. Não é culpa de Durant. Longe disso. Ele é assim. É da personalidade dele. Cabia aqui a USA Basketball trazer um segundo para “carregar o piano” dentro e fora de quadra. Lillard e Draymond Green não foram estas figuras.


Claro que não podemos esquecer a insanidade que foi a ida dos campeões Jrue Holiday e Khris Middleton, do Bucks, e do vice-campeão Devin Booker, do Suns. Os jogadores tiveram menos de 72 horas para descansar e estar em quadra na estreia contra a França.

Mesmo com estes percalços, os EUA mantêm a hegemonia do basquete. Se as derrotas ensinam, vitórias também. O ciclo Olímpico começa agora e os americanos têm que repensar muita coisa se não quiser ter surpresas desagradáveis nas competições FIBA.

Boomers

Não tem medalha mais merecida que a de Bronze conquistada pelos Australianos. A vitória sobre a Eslovenia de Luka Doncic, 107 a 93, mostra que o caminho até a medalha Olímpica é longo, tortuoso e longe de ser imediatista. Em 96, a Australia tinha Luc Longley na NBA e o Andrew Gaze como maiores expoentes do basquete. E só. Hoje tem uma das ligas mais interessantes do mundo com jogadores jovens da NBA, como Didi fazendo uma espécie de “estágio" antes de ir para a Liga, uma seleção com talentos como o veterano Mills, Joe Inglês do Utah Jazz e o dínamo Matisse Thybulle, do 76ers, e uma conexão absurda com sua torcida. Vitória merecida e olho na Austrália.

Respeito

Muchas Gracias a Pau e Marc Gasol, da Espanha, e Luis Scola, da Argentina. As lendas que dominaram as quadras FIBA nas últimas décadas se despediram de suas seleções com todos os louvores possíveis.

Brasil 2032

Muito se pergunta sobre o próximo ciclo Olímpico para o basquete brasileiro, e se temos alguma chance. Temos que ser bastante realistas neste sentido. Temos hoje uma geração jovem com excelentes talentos que precisam jogar mais e mais com a Seleção. Estamos falando de uma espinha-dorsal com Georginho, Lucas Dias e Lucas Mariano, todos do Franca, Yago do Flamengo, e os talentos hoje que temos na NBA. Atualmente sob contrato temos Raulzinho, que renovou com o Washington Wizards, e Cristino Felicio, que está no Bulls em ano de contrato. Leo Mendl, Benite e Marcelinho Huertas completam este elenco. O fator X, o que realmente pode mudar a sorte deste time, pode ser Bruno Caboclo, que acabou de fechar com o São Paulo.

Porém, temos apenas três anos até Paris 2024, e o nível técnico do masculino continua altíssimo. Se a Argentina perdeu Scola, tem excelentes jogadores como Campazzo. O Canadá, se der certo, é uma força, e as seleções da America Central, como Porto Rico, sempre complicam para o Brasil.

O estrago feito em décadas passadas é sentido agora, e a realidade atual é dura. Como vender um time em formação para um público que só se interessa por um esporte Olímpico se a vitória for garantida? Como atrair patrocinadores quando se tem a sombra cada vez maior da NBA?

No ar, mais um campeão de audiência

Nesta terça-feira (10), estreia na Netflix o documentário “Untold”, sobre um dos momentos mais chocantes da história da NBA. O primeiro episódio mostrará em detalhes o infame “Malice in the Palace”. Para quem não se lembra, em 2004 uma briga generalizada no jogo entre Pacers e Pistons. Ron Artest, figura principal da confusão, é um dos entrevistados.

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