ESPORTES
NAS QUADRAS - Tudo sobre basquete
Por PEDRO RODRIGUES
[email protected]
Publicado em 15/02/2022 às 12:21
Alterado em 15/02/2022 às 18:51
Como mensurar o sucesso? Como colocar de modo tangível e fácil de explicar para um leigo um feito monumental? No basquete nacional estas perguntas são muito fáceis de responder. A régua ou sarrafo do sucesso em um projeto de basquete se chama Clube de Regatas do Flamengo. São 10 anos, desde aquele NBB de 2012-13, quando o projeto de basquete do Flamengo decolou e ganhou o mundo. Duas vezes.
No dia 13 de fevereiro de 2022, o Flamengo voltou a atingir o ponto máximo no basquete FIBA ao derrotar o San Pablo Burgos da Espanha pela final da Intercontinental CUP por 75 a 69. Sim, sabemos que o Burgos foi campeão do BCL (Basketball Champions League) e não da poderosa Euroliga, e que os espanhóis estão na lanterna da Liga ACB. Nada disso tira o brilho da vitória dos comandados do técnico Gustavo de Conti. Vencer um time europeu em uma competição de mata-mata nunca é fácil. O Flamengo venceu e convenceu todos que presenciaram a fantástica partida deste timaço.
Desde o começo do jogo o Flamengo deixou claro que não iria facilitar para o Burgos. O jogo começou com uma bela cesta de três pontos de Brandon Robinson, que não jogou a partida anterior contra o Lakeland Magic por um diagnóstico de covid-19. O termômetro do time não poderia ser outro: Olivinha. Foram três bolas de três pontos logo no primeiro quarto e a entrega habitual nos dois lados da quadra. O ala terminou com 17 pontos, três rebotes, duas assistências e absurdo +20 de eficiência. Estava claro que ele não iria deixar acontecer o que ocorreu na última Intercontinental Cup contra o AEK da Grécia, onde o Flamengo deixou o título escapar dentro de casa.
Vale ressaltar que todas as peças que o técnico Gustavo de Conti apostou no começo da temporada funcionaram muito bem no momento certo. Brandon Robinson se mostrou o pontuador que o Flamengo precisava (aquele arremesso no quarto período que bateu na tabela e entrou é para quem sabe), Vitor Faverani foi perfeito na defesa do gigante Julian Gamble, do Burgos, e a enterrada final de Dar Tucker foi recebida com os braços levantados de um misto de alívio e um “finalmente" para selar a vitória.
O mexicano Luke Martinez acabou como MVP da competição. Prêmio merecido, já que o jogador teve médias de 14.7 pontos, quatro assistências e eficiência de 19.3 durante todo o campeonato. O Flamengo venceu os dois jogos. O primeiro ocorreu na última sexta-feira, Martinez parece ser o tipo de jogador que a torcida do Flamengo adora. Se em jogos mornos, como os de temporada regular, Martinez não parece muito ligado, a situação muda em jogos decisivos. Foi assim na BCLA do ano passado e agora no Intercontinental.
Se existiam dúvidas sobre o potencial desse time depois das derrotas para o Franca pelo NBB e para o Minas no Super 8, a resposta foi dada em quadra e em uma competição internacional. O trabalho da diretoria do Flamengo, capitaneada por Marcelo Vido, construiu uma dinastia nas quadras do mundo Fiba e não mostra sinais de parar. Isso porque são fortes os boatos que o técnico Gustavo de Conti deve assinar um novo contrato até 2024. Uma excelente notícia para o Flamengo e o basquete nacional.
Parabéns ao Flamengo por mais essa grande vitória.
O que vou dizer lá em casa?
Uma curiosidade: todas as grandes conquistas do Flabasquete desde 2019 (NBB, BCLA, Intercontinental, Super 8) foram sem a presença da torcida. O Flamengo ainda disputa o NBB ou a BCLA deste ano. Será que agora a conquista será dentro de casa?
No ar, mais um campeão de audiência
Tem que bater muitas palmas para a NBA. A capacidade de engajamento, narrativas, especulações e expectativas que a Liga Americana consegue criar é um trabalho de pessoas diabolicamente geniais.
O mundo do basquete, especialmente o digital, parou por algumas horas para acompanhar a famosa “trade deadline”. Para alegria das empresas de telefonia móvel, todos ficamos grudados nos smartphones esperando as famosas notícias bombásticas.
Porém, tudo tem um lado ruim. Apesar de ser bastante divertido acompanhar e imaginar cenários lúdicos para nossos times e jogadores favoritos, em quadra a coisa não acompanha. Durante a semana tivemos jogos esvaziados por times desmantelados por aguardar as trocas. É quase como se os jogos fossem apenas um detalhe. Não são.
Ainda bem que não tivemos absurdos como o que ocorreu com Harrison Barnes, que foi trocado pelo Dallas durante o meio de uma partida. Troca que levou o jogador a Sacramento. Um duplo castigo. Mais sobre o Kings abaixo.
Jornada nas Estrelas
Cada troca na NBA tem no fundo uma história ou uma pista da estratégia que cada time terá a partir deste momento da temporada. Enquanto alguns já começaram a pensar em 2022/23, como o Portland Trail Blazers, outros vão para o tudo ou nada. Vamos ver algumas das principais trocas, deixando a mais polêmica para o final.
Ou tudo ou nada
Sobe no palco Adam Silver para a seleção do draft do Indiana Pacers para 2022: “O Indiana Pacers escolhe de Iowa State Tyrese Haliburton”. Não aconteceu bem assim, mas no fundo foi isso que ocorreu na troca que levou Domantas Sobonis para Sacramento e o talentoso armador para o Pacers. O Pacers entrou em modo rebuild e o Sacramento quer porque quer acabar com a seca. Para o Kings é playoff ou nada. E para ir ao Playoff tem que ter pelo menos um All Star. O Indiana estava um no mercado e foi esperto em pedir o Haliburton, ao invés de escolhas em futuros drafts. Os outros times ficaram chocados vendo o Kings se desfazer tão cedo do jogador e ainda mandar Buddy Hield para o Pacers. Se o Kings conseguir ir aos playoffs, para o complicado time da Califórnia será um triunfo. Se não conseguirem, será mais um movimento atabalhoado do Sacramento para a conta.
Troca: Indiana envia Domantas Sabonis, Jeremy Lamb, Justin Holiday e uma escolha de segunda rodada em 2027, e o Kings manda Haliburton, Buddy Hield e Tristan Thompson
Cada um no seu quadrado
O Spurs não vai para tank. Ou vai? Só saberemos no fim da temporada, já que o técnico Gregg Popovich gosta de aprontar para os especialistas e palpiteiros. Mas alguns sinais de que o Spurs meio que desistiu da temporada estão aí. E um deles é a troca que levou o bom armador Derrick White para o Boston Celtics. Com a troca, o time de verde finalmente tem um armador de ofício. É o fim das improvisações como Marcus Smart armando o time. White chega no momento certo já que o Celtics está em viés de subida. A apaixonada torcida também espera que White tenha o mesmo efeito que DeMar DeRozan teve no Bulls: um excelente jogador que estava meio escondido dos olhos da liga em San Antonio.
Troca: Spurs envia Derrick White e o Celtics manda de volta Josh Richardson, Romeo Langford e uma escolha de primeira rodada em 2022.
Mi-mi-mi
James Harden tinha uma penca de motivos para pedir uma troca do Nets. Ele poderia seguir pelo caminho esportivo dizendo que o ajuste com o time não ocorreu. Não foi assim. O Barba poderia alegar que não compactuava com as escolhas de Kyrie Irving, seu ex-companheiro de time, e procurar um novo time. Mas aqui estamos falando de James Harden. Se existe um maior exemplo de como essa geração de superestrelas da NBA só quer conviver com os bônus que seu status tem e não como ônus, esse jogador é Harden. Harden pediu para ser trocado efetivamente na excursão do Nets pelo oeste. O time foi derrotado em todas as partidas, e a cereja do bolo foi Harden marcando apenas 4 pontos contra um esfacelado Kings, pré-Sabonis. Harden forçou a barra e seu maior “parça" (e possivelmente único parca na NBA) Daryl Morey atendeu prontamente. Assim como no Houston, Morey joga com o presente e futuro do 76ers em uma troca em que mandou o problemático contrato de Ben Simmons para o Nets junto com um pacote que pode esfacelar o time atual e o futuro da franquia da Filadélfia. O Nets recebeu um excelente arremessador em Seth Curry e o jogador que pode ajudar na sua frágil defesa, o pivô Andre Drummond. Não ficou apenas nisso: Sean Marks, o GM do Nets, conseguiu duas escolhas de primeira rodada. A primeira de 2022 é não-protegida, e a outra de 2027 é protegida.
Vamos falar um pouco de quadra. Simmons chega em uma situação no Nets muito parecida de como quando recebeu D’Angelo Russel do Lakers. Um pick alto, talentoso mas com diversos problemas dentro e fora de quadra. Simmons tem mais talento que Russel e um contrato de uma estrela de primeira grandeza na Liga. São 177 milhões de dólares por cinco anos com média de 34 milhões por ano. Por um armador que não tem arremesso na NBA atual. É duro.
O Nets pré-Durant era uma franquia conhecida em recuperar jovens talentos rejeitados por outros times. Só nesta Trade deadline dois apareceram,: Spencer Dinwiddie e Caris Levert. Hoje o Nets está longe de ser uma franquia para recuperação de jogadores. Pelo contrário. É vencer agora e já com Kevin Durant no comando. Arrisco a dizer que o Simmons sofrerá um forte controle de minutos e não terminará muitos jogos em quadra nestes playoffs. Uma boa notícia para o Nets foi que Simmons se vacinou recentemente. Até pouco tempo, ele estava naqueles 3% da NBA que ainda não tinham se vacinado.
Já o 76ers espera um final diferente para seu time e James Harden. Joel Embiid vem tendo uma temporada de MVP e com o Leste em aberto, com Bucks mostrando inconsistência e o Nets jogando um basquete que não contagia ninguém, o 76ers tinha uma chance de pleitear as primeiras colocações. Com Harden, Embiid tem alguém para ajudar a pontuar nos momentos mais críticos das partidas. Com certeza uma melhora em relação ao inconstante Tobias Harris. Porém, a médio prazo, será que Harden não voltará a seu modus-operandi de minar as outras estrelas do time? Me surpreende Daryl Morey, que se vende como um GM guiado por número, analytics e modelos preditivos esperar um resultado diferente utilizando sempre as mesmas variáveis.
Embiid que se cuide.
Troca: Nets manda James Harden e Paul Milsap e o 76ers envia Ben Simmons, Seth Curry, Andre Drummond, uma escolha não-protegida de 2022 e uma protegida em 2027.
Post Mortem
A seleção brasileira feminina precisava vencer um dos 3 jogos na sua chave no Pré-Mundial de Belgrado para se classificar para o Mundial. Perdeu para a Austrália (65 a 52), Coreia do Sul (76 a 74), e fechou a sua participação perdendo para a Sérvia( 76 a 70). Está fora do Mundial.
O buraco da seleção feminina não tem fundo.