'O nosso sonho!' Fluminense vence o Boca Juniors no Maracanã e conquista a Libertadores pela primeira vez

Tricolor, enfim, supera o trauma de 2008 e levanta o troféu mais importante de sua centenária história; Germán Cano e John Kennedy marcaram os gols da vitória

Por GABRIEL MANSUR

O Fluminense e a sonhada taça da Libertadores

O vice-campeonato contra a LDU, em 2008, já estava há muito entalado. Nada, nem mesmo o tempo, conseguiria fechar essa ferida. Nada, exceto, o título continental. E a redenção não poderia ser num outro palco senão o mesmo Maracanã que, há 15 anos, testemunhou as lágrimas tricolores. Mas não dessa vez. O Fluminense estava predestinado a ser dono da América do Sul. Qualquer um que fosse o adversário, o fim seria o mesmo: o capitão Nino levantaria, enfim, o "nosso sonho", a taça da Libertadores. Coube ao gigantesco Boca Juniors-ARG, hexa campeão do continente, ser retirado do caminho. O mesmo Boca, que já havia sido despachado nas semifinais de 2008, foi novamente vítima do destino.

Os xeneizes fizeram de tudo para estragar a festa no Rio. Germán Cano abriu o placar no primeiro tempo, mas Advíncula empatou na segunda etapa e levou a decisão para as prorrogações, mantendo a escrita de empatar nos 90 minutos. Foi assim nas oitavas, nas quartas e nas semifinais. O time que não venceu nenhuma partida no mata-mata queria mesmo era levar para os pênaltis. Não conseguiu. Na primeira metade da prorrogação, brilhou a estrela de Xerém: John Kennedy, que já havia sido herói contra o Internacional, fez o gol do título. O gol que, antes mesmo dele entrar em campo, foi profetizado por Diniz: “Você vai entrar e vai fazer o gol do título”, disparou. Assim o fez, levando os multicampeões Marcelo e Felipe Melo ao choro.

Kennedy se empolgou na comemoração e partiu para os braços da galera, o que é proibido, e foi expulso, mas o Boca não teve nem tempo de aproveitar a superioridade numérica. Poucos minutos depois, o lateral Fabra também recebeu o cartão vermelho após dar um tapa na cara de Nino.

Rumo ao Mundial

Com a conquista do título da Libertadores, o Fluminense se classificou para o Mundial de Clubes de 2023. No torneio intercontinental, o Tricolor já está garantido na semifinal e aguarda o adversário entre Al Ahly, do Egito, e quem sair vencedor do confronto entre Al Ittihad, da Arábia Saudita, e Auckland City, da Nova Zelândia. A estreia da equipe de Fernando Diniz será em 18 de dezembro, segundo programação da Conmebol. O outro lado da chave, que tem o campeão europeu Manchester City, joga no dia seguinte.

O Fluminense também está garantido na final da Recopa Sul-Americana, em 2024. O adversário é um velho conhecido: a LDU, algoz das finais da Libertadores, em 2008, e Sul-Americana, em 2009. Chegou a hora da revanche?

O artilheiro 

Cano terminou a Libertadores com a artilharia. Ele marcou 13 gols, inclusive, o primeiro da vitória na final. O argentino ainda se tornou o maior goleador do Fluminense na história da competição, com 16 gols, superando Fred, que marcou 15.

Os campeões 

O Fluminense se junta a outras dez equipes brasileiras campeãs da América. São elas: São Paulo (3), Santos (3), Palmeiras (3), Flamengo (3), Grêmio (3), Internacional (2), Cruzeiro (2), Atlético-MG (1), Corinthians (1) e Vasco (1). 

Primeiro tempo

O Fluminense impôs seu ritmo de jogo, com muita troca de passes e ocupando o setor de defesa argentino, desde o apito inicial. Com 12 minutos do primeiro tempo, a equipe carioca mantinha nada mais nada menos do que 82% de posse de bola. O Boca, sabendo da inferioridade técnica, apenas se defendia e não conseguia passar do círculo central. Aos 13 minutos, o Tricolor chegou pela primeira vez ao gol de Romero, com cabeçada sem muito perigo de Cano.

No lance seguinte, foi a vez de Fábio fazer sua primeira defesa, também sem dificuldade, em chute de fora de Merentiel. O Boca começou a gostar do jogo e, aos 17, Cavani teve grande oportunidade, mas não finalizou e desperdiçou. Aos 27, Ganso e Valentini se desentenderam, e o zagueiro argentino acertou uma cabeçada no peito do meia tricolor, mas o árbitro nada deu, sequer um amarelo. O Fluminense reclamou demais do lance, mas seguiu o jogo sem perder a concentração.

Aos 35, o homem apareceu. Após tabela com Arias, Keno achou cruzamento rasteiro para Germán Cano, que precisou de apenas um toque, como de praxe, para abrir a contagem e isolar-se ainda mais como o artilheiro da competição, com 13 gols.

Segundo tempo

As equipes voltaram com a mesma escalação do intervalo, mas o Fluminense perdeu o zagueiro - e bicampeão do torneio - Felipe Melo, lesionado, aos seis minutos. E o Boca, que já se lançava ao ataque, assustou aos 11, com Advíncula, em chute que bateu na rede pelo lado de fora. Os argentinos seguiram pressionando e empurrando o Fluminense para seu campo de defesa. E não é papel do Boca desistir. O Fluminense, que abdicou do ataque, acabou punido pela covardia. Aos 26, o peruano Advíncula fez boa jogada individual e, de fora da área, chutou no canto direito de Fábio, que nada pôde fazer.

O empate forçou Fernando Diniz a mudar o time: saíram Marcelo, Martinelli e Paulo Henrique Ganso para as entradas de Diogo Barbosa, Lima e o talismã John Kennedy. Nesse momento, o Flu já não tinha mais nenhum campeão continental em campo. A falta de experiência quase custou o título aos 43, após chute perigosíssimo de Merentiel, que passou tirando tinta da trave esquerda de Fábio. Aos 48, Diogo Barbosa teve a bola do título, a bola para entrar na história, mas finalizou de joanete e desperdiçou.

Prorrogação

O Flu assustou primeiro, com finalização de longe de Keno, para defesa segura de Romero. Quando a partida se arrastava, eis que surge, novamente, a estrela de John Kennedy. Após bela jogada trabalhada, Keno escorou para o camisa 9 pegar na veia. Na comemoração, ele foi para os braços da torcida, o que não é permitido, e levou o segundo amarelo, deixando o Tricolor com menos um.