Entardecer Rubro-Negro

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A temperatura na cidade de São Paulo na noite dessa quarta-feira (16) era de gélidos 14 graus. Um dos poucos lugares que estavam realmente quentes era o ginásio do Morumbi. Isso porque São Paulo e Flamengo decidiam os seus destinos no NBB 15. Destinos estes bem distintos. Enquanto o tricolor paulista lutava para vencer o terceiro jogo para fechar a série e voltar as finais do NBB, o Flamengo lutava pela sua sobrevivência.

Em um jogo nervoso, o time em melhor fase técnica e mental venceu. O tricolor paulista fechou a partida em 72 a 68, jogará as finais do NBB e a BCLA (torneio internacional mais importante do continente), e afundou o basquete do Flamengo em uma crise que pode ter abalos sísmicos no projeto de basquete do Rubro-Negro e no próprio basquete nacional como um todo. Estamos nos adiantando aqui. Vamos ao jogo primeiro.

Macaque in the trees
Gabriel Jaú se esforçou contra o São Paulo (Foto: Foto: Miguel Schincariol/Saopaulofc.net)

O Flamengo começou muito bem o jogo 3. O técnico Gustavo de Conti colocou em quadra o melhor quinteto que o Flamengo possui hoje: Gui Deodato, Gabriel Jau, Martin Cuello, Ricardo Fischer e Rafael Hettsheimer. Hetts foi o protagonista neste começo de jogo. Como o São Paulo começou com Túlio da Silva jogando quase como pivô, o mais alto e forte Hettsheimer se aproveitou e passou a jogar dentro do garrafão. Rapidamente, o técnico Bruno Mortari pediu para o time realizar a marcação dupla e, em alguns momentos, tripla no pivô do Flamengo.

Aqui começam os problemas do Fla. Com marcação dupla e tripla sobram jogadores, em especial no perímetro, para chances de arremessos. Novamente, a grande arma do ataque do Fla, o cantado “ataque de 80 ou mais pontos” do começo da temporada falhou miseravelmente em converter as bolas de 3 pontos. Neste jogo, o Flamengo acertou 6 arremessos em 32 tentativas. As chances estavam lá para converter, e o Flamengo não soube aproveitar. Mesmo assim, o time quase conseguiu a vitória. Foi com 23 segundos no relógio que Ricardo Fischer converteu uma bola de 3 pontos que empatou a partida em 67 a 67.

Com os dois times ultranervosos, o São Paulo cometeu um erro e perdeu a posse de bola. O Flamengo “devolveu a gentileza” e cometeu uma falha bizarra que fez a posse de bola voltar ao São Paulo. O erro custou caríssimo. Uma bola de 3 de Malcom Miller, e depois uma falta, fizeram com que o Americano marcasse os 5 pontos que selaram a vitória do São Paulo. Nem tudo parecia perdido. Com o placar marcando 72 a 69 e 6 segundos no relógio, o Flamengo tinha tempo para tentar um arremesso com Cuello, Vildoza ou mesmo Martinez. Fischer tentou forçar uma falta com 3 lances-livres, arremessando antes do meio da quadra na frente do juiz. A falta obviamente não foi marcada, e rebote do São Paulo. A vitória estava selada. Ironicamente, o Flamengo caiu fazendo exatamente o que causou o fracasso da temporada: forçando uma bola de 3.

Macaque in the trees
Bennett novamente infernizou o Flamengo (Foto: Foto: Miguel Schincariol/Saopaulofc.net)

Ao contrário do jogo 2, onde vimos um ou dois jogadores do São Paulo tomando as rédeas da partida, hoje o esforço tricolor foi muito coletivo. No jogo 2, Coelho (18 pontos) e Miller (23 pontos) foram decisivos contra o Fla. Somente um jogador do São Paulo infernizou o Flamengo constantemente. Aliás, esse jogador inferniza desde a maior zebra da história do projeto de basquete do Flamengo: a famosa virada do Pinheiros nas quartas de final do NBB, temporada 2016/2017. Cordero Bennett, mais uma vez, deu uma aula nos armadores do Fla, converteu bolas importantes. Bennett escancara um problema que assola o Flamengo desde as saídas de Franco Balbi e Yago Mateus. O São Paulo era um péssimo confronto para o Flamengo justamente porque um dos seus pontos fortes são os armadores. Todos, sem exceção, tiveram uma boa série contra o Fla. Elinho, Coelho e Bennett enlouqueceram Fischer e Vildoza. Aguirre jogou pouco.

Cronometro zerado para uma temporada complicada para o Flamengo. O momento agora é de reflexão e calma. Cabe entender o que deu certo e pode ter continuidade para a próxima temporada. Gabriel Jaú é jovem e tem mostrado evolução. Ele ainda não é o jogador decisivo, o famoso “número um”, mas tem potencial. Fischer chegou cercado de desconfiança por parte da torcida, mas ganhou a titularidade no final da temporada. Mostrou que pode ajudar e não sentiu a pressão da volta. Deodato e Hetts ajudam qualquer elenco no basquete nacional, mas o entorno deles precisa melhorar. Infelizmente, temos o outro lado. O que realmente não deu certo: os estrangeiros não funcionaram este ano. O famoso “dar liga”. Dentro, o trio de argentinos que chegou, Pepe Vildoza, Martin Cuello e Penka Aguirre, somente Cuello mostrou uma certa consistência. Vildoza é muito bom jogador, jogador de seleção argentina, inclusive, mas caiu assustadoramente de produção após o Super 8. Talvez uma lesão tenha atrapalhado a temporada do jogador, mas o saldo não é positivo. Por fim, temos Penka Aguirre. O armador que chegou às pressas devido à saída de Yago Mateus para a Europa, tentou de todas as formas se encaixar no sistema de jogo, arbitragem brasileira e no time do Flamengo. Foi um casamento que não deu certo.

Nas redes sociais, vimos muitas reclamações da montagem do elenco do Flamengo para essa temporada. Acontece que depois da temporada de sonhos de 2020/2021, quando o Flamengo ganhou tudo, o elenco do Flamengo não consegue repor talentos que se vão. Não estou nem falando aqui de jogadores fora-de-série, como Marquinhos e Yago, e sim de talentos como Léo Demétrio e Jhonatan. O Flamengo tentou no mercado? Muito. Tentou e muito. Aqui, o Flamengo esbarra na quantidade de talentos no mercado. O Franca tem 4 destes no elenco, e já garantiu para a próxima temporada. Isso tira do mercado Lucas Dias, Georginho e Lucas Mariano. No exterior, talentos no auge como Caboclo e Yago são caros. É um problema. Existem talentos locais que podem ajudar o Fla? Sim, mas cabe agir rápido aqui e garantir que na temporada 2023/2024 vistam as cores do Flamengo.

Para concluir, vamos falar do técnico Gustavo De Conti. Quando o Fla parte para um caminho sem estrelas na quadra, as luzes de todos os holofotes caem sobre o maior nome do elenco, e hoje este nome é de Gustavinho. Nestes holofotes, a luz pode ajudar a brilhar ou prejudicar cegando a sua visão. Gustavo apostou nele como sempre faz, tentou reinventar o time com mudanças de estilo, blindou o seu grupo, se chateou com as derrotas e aproveitou os poucos momentos de triunfo nesta temporada. Com essa derrota, Gustavo De Conti pode ter encontrado o fator motivador para a próxima temporada: provar para o mundo do basquete nacional que ainda faz a diferença e novamente colocar o Flamengo no topo. Como estamos falando de Flamengo, a pressão por uma mudança pode acontecer, e neste 16 de maio de 2023 fomos testemunhas de 5 anos inesquecíveis para o basquete do Flamengo.



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Gabriel Jaú se esforçou contra o São Paulo
Bennett novamente infernizou o Flamengo


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