Choque de realidade

Por PEDRO RODRIGUES

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A NBA não parou depois que o Denver venceu o Heat nas finais. Isso porque com o draft e a temporada de agentes-livres, alguns times mudaram de patamar. Seja para cima ou para baixo. Depois destas mudanças todas, agora que a poeira baixou no mundo da NBA, duas estrelas da liga devem ter tomado um choque de realidade

As situações são antagônicas. Vamos começar por Damian Lillard do Portland Trail Blazers. O astro do time do Oregon deu o que tinha e o que não tinha para tentar fazer com que o time tivesse sucesso em uma era ultracompetitiva no Oeste. Lillard bateu o OKC de Westbrook, lutou contra o Clippers de CP3 e Blake Griffin e chegou a disputar uma final de conferência contra o poderoso Golden State Warriors com Curry-Durant-Green-Thompson. Tudo isso com elencos que invariavelmente ficavam mais fracos a cada ano que passava. Lillard perdeu neste período companheiros como Lamarcus Aldridge, no auge da carreira, CJ McCollum para o Pelicans e Nurkic para lesões. Até mesmo o seu técnico favorito, Terry Stotts, saiu do Portland. A promessa com a chegada do técnico novato Chauncey Billups era de tornar o time competitivo. Pois bem, chegaram Larry Nance Jr, Josh Richardson e Jerami Grant. Nenhum destes jogadores muda o patamar de qualquer time.

Como a diretoria do Portland mantinha a posição para Lillard, o time queria vencer agora e com ele a frente. Era esperado então algum movimento no draft e na free-agency neste sentido. Ao contrário. O Portland se mexeu, mas não da forma que Lillard queria. Ao invés de trocar a escolha número 3, escolheu Scoot Henderson, um talento para o futuro, e na temporada de agentes livres assinou um contrato, com o perdão da palavra, inacreditável com o bom jogador Jerami Grant (160 milhões de dólares por 5 anos). A mensagem está clara: o Portland vai continuar apostando em talentos jovens e jogadores já conhecidos pelo time para manter o status quo. Foi a gota d’agua para Lillard. Ele pediu para ser trocado. Sua ideia é ir para o Miami Heat, que não tem o que Portland quer: escolhas de draft, contratos expirantes e algum talento jovem. O nome que o Heat queria como âncora da troca era o armador Tyler Herro, um jovem talento que tem seus momentos, mas não chegou a se tornar o astro que imaginávamos quando ele levou o Miami Heat à final em 2020. A troca pode envolver mais um time, e o Jazz surgiu como uma possibilidade. Nada confirmado até o momento. A vontade de ir para Miami pode ser a última demonstração da realidade que Lillard demorou a ver: o time nunca quis o que ele queria. E esse descompasso está levando o jogador a ter uma das saídas mais complicadas da história recente da NBA.

Já que estamos falando em “saídas complicadas”, vamos viajar até a Filadélfia e encontrar um outro impasse. Nada de novo na carreira deste fantástico e problemático jogador: James Harden. Depois de deixar um rastro de destruição no elenco em Houston junto com seu “parça”, o GM Daryl Morey, o “Barba” se juntou a Kevin Durant e Kyrie Irving para vencer tudo no Brooklyn. Como a terra plana dá muitas voltas, o Brooklyn Nets explodiu lindamente com o cometa Kyrie como catalisador. Harden, esperto, vendo que a barca estava furada, pediu troca e também fez questão de escolher o time: o Philadelphia 76ers. Duas eliminações com atuações incompatíveis com o salário de superestrela, Harden não abriu mão de receber seus 35 milhões referentes ao seu último ano de contrato, e o 76ers avisou ao mercado que Harden estava disponível para troca. Para surpresa de ninguém, o interesse de outras equipes em contar com Harden é pequeno. Essa pequenez uma hora iria chegar em James Harden, que desde que saiu de OKC tem apequenado sua carreira. O Houston deu o que tinha e não tinha (Dwight Howard, Russell Westbrook, Chris Paul), o jogador que é um dos maiores pontuadores da história da NBA e, invariavelmente, falhava em momentos decisivos. Foi assim no Rockets, Nets e 76ers. Agora, com 35 anos, Harden se vê como uma grande estrela, do primeiro escalão da NBA. Não é. Ele está entrando em um momento “Andre Iguodala no Golden State Warriors”: um jogador experiente, ainda muito talentoso, mas com certa idade e quilometragem alta. Vir do banco para um time como Boston, Heat ou mesmo o Lakers poderia ajudar Harden a ter o seu anel de campeão da NBA. Pelo visto não é isso que o jogador almeja. Uma pena.