Ciclo Renovado
Existem vitórias que parecem que estavam escritas antes da última do cronômetro. A vitória deste último sábado (3), da Copa Super 8, é uma dessas. Tudo que o público que acompanha ou não-iniciado no basquete espera de uma partida foi entregue pelos condutores do espetáculo. Tivemos um ótimo jogo, disputado até o final, heróis em quadra, duelo tático dos técnicos, uma arbitragem segura, um Maracanãzinho lotado e um clima de civilidade elogiável por parte de todos envolvidos.
Vamos ao jogo
As defesas estavam sufocantes no primeiro quarto. Pelo lado da Unifacisa, o técnico César Guidetti não quis saber de deixar Gui Deodato livre e aplicava a dobra no jogador. Já o Fla, protegeu o garrafão com a altura e agilidades de Gabriel Jaú e Filipoty. Deu certo. Se não fosse o excelente aproveitamento de Rafael Rachel (3 de 3 no primeiro período), o time de Campina Grande poderia ter começado o segundo período em uma desvantagem maior (23 a 19 para o Fla). No segundo período, toda vez que o Flamengo conseguiu uma corrida no placar, a Unifacisa chegava. Aí que começaram a funcionar as peças e mexidas do técnico Gustavo de Conti. Faltavam 2:51 para terminar o segundo quarto, e a Unifacisa se aproximava perigosamente do placar, ficando somente 4 pontos do Fla, 42 a 38. Gustavinho sabia que se fosse para o vestiário em desvantagem no placar e deixasse o controle do jogo para o adversário, a partida poderia escorrer pelas mãos. Pedido de tempo feito, e o Fla voltou muito bem para fechar o primeiro tempo por 43 a 38.
Esse grupo do Flamengo tem uma característica curiosa. O aproveitamento e intensidade com que a equipe retorna para o terceiro período são absurdos. E foi exatamente isso que aconteceu. Com Maique em quadra, a partir dos sexto minuto do terceiro quarto, o Flamengo deslanchou. Atacando a cesta, sem abusar da bola de 3 pontos, o Maracanãzinho subiu o volume quando o Fla colocou mais de 15 pontos de vantagem sobre a Unifacisa, e basicamente encaminhou o título. Vale uma ressalva aqui. O time da Unifacisa teve um calendário terrível para esse Super 8. Desde sábado, o time vive entre viagens longas e jogos decisivos. Nas duas vitórias da competição, a Unifacisa jogou no sábado, dia 27 de janeiro, em Franca (vitória de 94 a 92), para encarar um dificílimo Minas (91 a 86) em Belo Horizonte, na quarta, dia 30 de Janeiro. Não tem como não dizer que pesou. O cansaço era visível do time. Talvez por isso, o aproveitamento tão baixo nos arremessos de quadra (37%), e jogadores importantes como Antonio (4 arremessos convertidos de 24 tentados) com números tão baixos.
Mesmo assim, o time de César Guideti tirou forças da alma para disputar até o último segundo do último período. A Unifacisa tirou a diferença do placar, e com 30 segundos chegou a ficar a 6 pontos do Fla (83 a 77). No final, os lances-livres de Scott Machado e Didi decidiram o jogo para o Flamengo. Cronômetro zerado, e o Flamengo volta a vencer um título nacional depois de quase dois anos de seca.
Esse Super 8 pode ser um divisor de águas não só para esse time de basquete do Flamengo, mas para o projeto como um todo. Isso porque, além da vitória em quadra, o Flamengo teve diversas vitórias fora dela. A ideia da promoção utilizando os pontos do sócio-torcedor, onde era possível resgatar até 2 ingressos, foi excelente. Alguns puristas reclamaram que não era a verdadeira torcida do Fla, e sim uma “Fla-selfie”. Uma bobagem. O importante era colocar pessoas no ginásio e isso o Fla conseguiu. Quatro mil pessoas aplaudiram o time e vibraram até o final. Fazia tempo, desde 2016, que a torcida não estava presente para as grandes conquistas do FlaBasquete, e a presença dela fez a diferença. E parabéns à torcida do Fla, que aplaudiu com um respeito absurdo a premiação aos jogadores da Unifacisa. Uma demonstração de civilidade necessária nestes tempos tão polarizados. Bravo.
Por fim, na comemoração após a vitória, em conversa com um ensopado técnico Gustavo de Conti, perguntei ao técnico do Flamengo se o triunfo no Super 8 é a volta do ciclo de vitórias do Flamengo, ele sorriu e disse: “espero muito que sim”.