Segundo ato

Por PEDRO RODRIGUES

Carlos Salomão é o diretor de basquete do Botafogo

Iniciamos a nossa série de entrevistas com personalidades importantes do basquete carioca pouco antes da temporada do NBB, que está logo ali na porta. O primeiro papo é com o diretor de basquete do Botafogo, Carlos Salomão. Falamos dos aprendizados da temporada passada, reforços, o trabalho de base e o sempre complicado campeonato Estadual.

 

Nas Quadras: Em 2023, tivemos o retorno do Botafogo junto com o movimento de expansão do NBB. Porém, teve um custo alto em quadra. O Botafogo foi muito prejudicado pelo calendário, com pouquíssimo tempo de preparação, e só teve mesmo o time completo em janeiro. Mesmo depois de todas as dificuldades, o time alcançou o objetivo que era voltar aos playoffs. Qual a sua avaliação dessa volta, quais foram as grandes lições aprendidas?

Carlos Salomão: Bom, a grande avaliação que a gente pode fazer é do retorno do Botafogo. O retorno foi algo muito emblemático para nós, já que era um objetivo que a gente vinha traçando há muitos anos [nota: O Botafogo não disputava o NBB desde 2019/2020]. É óbvio que o calendário apertado, o fato de termos sido o último a contratar e termos o último no orçamento de todos os times da Liga (em termo de valores), acabou gerando um grande desafio a nível de performance. Mesmo com tudo isso, entendo que conseguimos entregar o objetivo que a gente se comprometeu. Destaco que pegamos o primeiro colocado da competição (o Flamengo) e fizemos um Playoff muito honroso, perdendo aqui na última bola em casa [lembre desse jogo aqui https://www.jb.com.br/esportes/nas-quadras/2024/04/1049718-mais-uma-etapa-vencida.html] . Então, eu avalio como saldo positivo (a temporada passada) baseado nas metas que a gente traçou com aquilo que a gente tenha alcançado.

 

Com a temporada 23/24 no passado, qual é a projeção para a temporada 2024/25?

O nosso projeto é muito sólido. É óbvio que a gente entende a importância e o compromisso de vestir a camisa do Botafogo. O Botafogo entra em qualquer competição, e não é para simplesmente participar, tem que brigar por títulos, brigar para estar na parte de cima da tabela, mas a gente entende que esse rendimento vai vir naturalmente e de forma segura. Passo a passo, degrau a degrau, a nossa ideia neste ano é subir um pouco mais na tabela e brigar ali um pouco mais na parte de cima na primeira parte da tabela. Isso tudo fazendo um grande trabalho, dando sequência a esse projeto de clube formador, que é a origem do nosso alicerce. Tenho certeza que a gente vai caminhar e vai fazer uma temporada mais forte do que a do ano passado, e vai ser assim ano após ano. Eu tenho certeza que em um curto espaço de tempo a gente vai botar o Botafogo brigando com aquilo que ele merece.


 

Trazer estrangeiros é sempre complicado. Normalmente estes jogadores são profissionais da bola, ou seja, chegam/jogam e já estão pensando no próximo projeto. O Botafogo conseguiu dois estrangeiros que deram muito certo: o Jamaal e o Thorton. Infelizmente, os dois não vão seguir nesta temporada. Como fazer a reposição destes dois nomes tão identificados com o basquete do Botafogo?

Essa pergunta eu gosto de responder. Da mesma forma que a gente trouxe esses dois estrangeiros, olhando para esse mesmo mercado, com análise dedicada dos números, fazendo um scout de qualidade, a gente vai trazer também outros estrangeiros que a gente tem muita confiança que vão performar. O Thorton foi um grande achado, talvez um dos maiores achados da temporada, já que apesar de ele já ter jogado no Brasil [nota: Thorton jogou no Pato Basquete] anteriormente há alguns anos, a entrega dele foi fundamental. Já o Jamaal é um ídolo nosso, um cara que vai ter sempre o lugar e o nome dele marcados na história do Botafogo. Dito isso, pretendemos, é óbvio, trazer atletas estrangeiros que possam performar tanto quanto os que participaram na temporada passada e temos muita confiança nisso.

 


Como está a busca por reforços? Existe a possibilidade de aproveitar mais o mercado nacional do que estrangeiros?
Então, na verdade, o mercado brasileiro é muito pequeno e muito fechado. A gente tem mais oferta hoje de atletas estrangeiros do que propriamente brasileiros de primeira linha. A ideia é a gente ter um time cada vez mais com características de formação. Nós tivemos um dos times mais jovens no ano passado, mas a utilização desses jovens teve uma quantificação. A gente entende que o caminho é esse. Fizemos uma temporada muito boa na LDB esse ano, então esses jovens vão participar efetivamente do nosso elenco principal, e a gente vai trazer jogadores de primeira linha para complementar. E são jogadores que estão brigando por espaço dentro do mercado, tanto nacional quanto internacional, para apresentar um bom trabalho.

Os reforços estão chegando. O Fogão anunciou Fred Thomas e o jovem Felipe Motta que teve passagens pelo Fortaleza e Flamengo

 

O Botafogo tem um dos melhores trabalhos de base. Como encontrar o equilíbrio do uso da base em um campeonato como o NBB, em um time com pressão como o Botafogo?
Esse é o grande desafio do gestor, já que a gente vislumbra e vê referências na formação. Posso citar aqui, sem nenhum ego, o Pinheiros, o Paulistano, são clubes que têm essa essência de utilização de formação de atletas. O Botafogo quer ser essa referência, com uma camisa tradicional. Do outro, tem essa pressão e essa necessidade de resultado. Eu acho que essa utilização é gradativa, na medida que os atletas vão ganhando confiança e minutagem. Cada vez mais essa minutagem vai aumentar naturalmente com o desenvolvimento de cada um deles. Então, digo que tem, sim, um planejamento para isso, para que a gente possa utilizar mais os nossos atletas da base, mas de forma equilibrada, e o Sebastian [Figueredo, novo técnico] vai ter aí total autonomia para poder fazer esses ajustes.

 

Para fechar, uma pergunta espinhosa. Existe alguma possibilidade de termos um estadual compatível com a grandeza dos times cariocas?
Essa pergunta sua também é muito boa. O Botafogo é um grande incentivador do basquetebol nacional e, por isso, carioca também. A gente tem uma oportunidade este ano de ter três grandes clubes de alta performance no basquete adulto: o Botafogo, o Vasco, o Flamengo. Então seria, sim, uma grande oportunidade de ser um estadual à moda antiga, com adversários de grande nome. A gente deixa aqui, é óbvio, a nossa mensagem para a federação: que o clube, o Botafogo, está à disposição para participar. É óbvio que tem questões de calendário ainda a ser discutidas. O Botafogo também foi convidado para uma competição de pré-temporada, o que a gente está avaliando dentro do calendário, mas sou um cara que vejo com muito bons olhos essa oportunidade de ter um carioca com grandes equipes. Quem sabe no ano que vem um Fluminense, e a gente consegue levar essa tradição dos campos para as quadras.