Perda gigante

Por PEDRO RODRIGUES

Dikembe Mutombo - 1966 - 2024

O dia 30 de setembro deveria ser de leveza no mundo da NBA. Afinal, os times voltam nesta terça das férias, e tudo é esperança para a temporada que começa em 25 dias. Deveria, mas não foi. Uma onda de tristeza e consternação varreu o mundo do basquete, porque em decorrência de um tumor no cérebro faleceu aos 58 anos Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo, ou somente Dikembe Mutombo, lendário pivô da NBA.

O pivô foi descoberto na universidade de Georgetown pelo técnico John Thompson. Mutombo estava na faculdade via bolsa de estudos da USAID, programa de financiamento para estrangeiros em universidades americanas, e queria ser médico. Impressionado com seus 2 m e 18 cm de altura, o técnico Thompson convenceu um jovem Dikembe a levar a sério o basquete. Não poderia ter escolhido uma universidade melhor para se desenvolver como pivô. De lá saíram nomes como Alonzo Mourning (seu companheiro de time na Universidade) e o astro do Knick Patrick Ewing. Por Georgetown, ele chegou a ter 12 tocos em uma só partida.

 

 

Quarta escolha do recrutamento de 1991 pelo Denver Nuggets, um calouro Mutombo mostrou ao mundo da NBA sua capacidade de defender o garrafão, ótimo reboteiro, especialmente na defesa e tocos e mais tocos. Foi escolhido como All Star ainda calouro e jogou no inesquecível All Star Game de 1992, em Orlando. Em Denver, teve seu momento mais icônico em quadra. O jovem time do Denver encarou o primeiro colocado Seattle Supersonics, de Shawn Kemp e Gary Payton, na primeira rodada dos playoffs de 1994. O Nuggets, como esperado, perdeu os dois primeiros jogos fora de casa na melhor de 5. Ao voltar para o Colorado, a série mudou totalmente. Denver venceu os dois jogos em casa e tudo se decidiria em um decisivo jogo 5 em Seattle. Pois bem, o jovem time, com LaPhonso Ellis, Robert Pack e Mahmoud Abdul-Rauf, venceu na prorrogação por 98 a 94, e eliminou o melhor time da NBA daquele ano. A imagem de Dikembe deitado depois de pegar o decisivo rebote defensivo é icônica.

Falando em imagens, Mutombo tem uma que sempre será atribuída ao gigante: com seus longos dedos, ele faz o sinal de não-não-não para quem acaba de ter seu arremesso bloqueado. E nisso ele foi democrático. De jogadores menos conhecidos, como Clarence Wheaterspoon, até o maior de todos, Michael Jordan, todos sofreram um toco de Mutombo.

Por conta de problemas na renovação de contrato, acabou em Atlanta em 96, e depois no 76ers. Foi no time da Filadelfia que Mutombo foi pela primeira vez para as Finais da NBA, em 2001. Com o também ex-aluno de Georgetown Allen Iverson, o 76ers encarou o poderoso Los Angeles Lakers, de Shaquille O´Neal e Kobe Bryant. No final, o 76ers acabou derrotado por 4 a 1.

A última chance de ser campeão aconteceu quando jogava pelo Nets, em 2003, contra o Spurs. Neste momento da carreira, já veterano e cheio de lesões, o pivô teve participação discreta. Terminou a carreira com médias de 9.8 pontos, 10.3 rebotes e 2.8 tocos. Seu recorde em tocos foi na temporada 95/96, jogando pelo Denver, onde teve 4.5 tocos por partida.

 

 

Dentro e fora de quadra, Dikembe Mutombo foi um gigante. Em 1997, criou a “Dikembe Mutombo Foundation” para ajudar as condições de vida no seu país Natal da República Democrática do Congo. Muito ligado em suas raízes, ele pagou do próprio bolso as despesas e os uniformes das jogadoras do Zaire disputarem as Olimpíadas de Atlanta em 1996.

Mutombo, por seus feitos, se tornou um Hall da Fama em 2015.

Dikembe tinha apenas 58 anos e deixa 7 filhos.