NAS QUADRAS
Formato híbrido: reflexões sobre o público no NBB
Por PEDRO RODRIGUES
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Publicado em 23/11/2024 às 16:32
Nesta pausa do NBB para os jogos da seleção brasileira, é oportuno refletir sobre um elemento crucial para o sucesso de um campeonato: o público. Nas últimas semanas, os jogos de Flamengo e Botafogo no Tijuca Tênis Clube tiveram públicos decepcionantes. Se chegássemos a mil pessoas, já seria motivo de comemoração.
Não que faltassem boas histórias e expectativas para estas partidas: o Botafogo buscava sua primeira vitória, o União Corinthians vinha de quatro triunfos consecutivos, e o Caxias tinha Shamell à beira de alcançar os 9.000 pontos. O problema surge quando o torcedor encontra dificuldades para se programar.
Por exemplo, o confronto entre Botafogo e Caxias aconteceu no sábado, 9 de novembro, às 21h. No mesmo dia, à tarde, o time de futebol do Botafogo enfrentava o Cuiabá, no Nilton Santos, pelo Brasileirão. Diante disso, o torcedor opta, naturalmente, pelo futebol, especialmente em meio à excelente fase do time.
Horários e oportunidades perdidas
Outro problema está nos horários dos jogos. Dois clássicos envolvendo o Botafogo ilustram isso: o duelo contra o Flamengo foi marcado para às 18h de uma quarta-feira (13 de novembro), enquanto a partida contra o Vasco aconteceu na sexta-feira, 15 de novembro, às 20h. Apesar de o segundo horário ser melhor, o jogo foi restrito a torcida única. Mais à frente, comento sobre esse assunto.
O NBB conta com clubes de forte apelo popular, como Botafogo, Flamengo, Vasco, Corinthians e São Paulo. No entanto, parece não aproveitar bem essas marcas. Veja o clássico Botafogo x Vasco: em um feriado, sem futebol na cidade devido ao G20, o jogo era uma oportunidade única para visitantes e locais verem um jogo entre Botafogo e Vasco. E... nada aconteceu.
Arquibancadas vazias no Maracanãzinho durante Flamengo x Franca Foto: Pedro Rodrigues
Outro exemplo foi Flamengo x Franca, no sábado (16 de novembro), no Maracanãzinho. Apesar do bom horário (17h) e da ausência de futebol, o jogo atraiu apenas 1.100 pessoas. É muito pouco, considerando que Flamengo e Franca disputaram a final do NBB na temporada passada, com uma rivalidade já consolidada. Mesmo com boa divulgação nas redes sociais, o público foi decepcionante.
Essa realidade é frustrante para quem acompanha o basquete de perto, ainda mais porque os jogos estão sendo de alta qualidade. Botafogo e Vasco, por exemplo, teve um final emocionante com Matheuzinho decidindo na última posse. Flamengo e Franca foi outra partida de alto nível. No entanto, poucos presenciaram essas histórias.
A polêmica da torcida única
O regulamento do NBB estabelece a torcida única em jogos entre clubes de futebol ou seus parceiros:
"JOG Art. 247 - Nos confrontos envolvendo duas equipes profissionais de futebol ou que tenham parceria com equipes profissionais de futebol em qualquer fase da competição, deverão ser adotados os procedimentos descritos a seguir: a) Haverá a presença apenas de torcedores da equipe mandante (torcida única); b) Nesses jogos, torcedores com uniforme da equipe visitante não poderão entrar no ginásio.”
O texto do regulamento é confuso, pois permite que torcedores visitantes entrem no ginásio desde que não estejam uniformizados. Isso gerou situações constrangedoras, como a expulsão de uma família vascaína do Tijuca durante o jogo do Botafogo. Está no regulamento, mas convenhamos que não é a melhor política para seu público.
Mesmo assim, não existe um culpado. Afinal, a torcida única é um reflexo da incapacidade da sociedade brasileira de lidar com o contraditório. Quem pensa diferente é visto como inimigo. Essa falha é compartilhada por todos, inclusive por quem cobre o basquete e trata essa situação como normal.
Conclusão
A baixa presença de público no NBB é uma preocupação que deve ser prioridade para todos os envolvidos. Precisamos superar barreiras logísticas, culturais e regulatórias para atrair mais torcedores aos ginásios. Que não surja alguém dizendo que a torcida do NBB é "híbrida" – parte presencial e a maioria em casa. Esse formato não reflete o que o basquete nacional precisa para crescer.