Conversa contínua

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Douglas Carraretto é o novo diretor de comunicação da Liga Nacional de Basquete

A Liga Nacional de Basquete entrega hoje para o público brasileiro produtos de basquete que englobam os 12 meses do ano. Desde o já estabelecido NBB, até o mais recente NBB Trio. A “conversa” do basquete, e do próprio NBB, continua no imaginário (e nas redes sociais) do público. Para trazer luz a todos esses produtos, é fundamental uma estratégia sólida de comunicação.

Conversamos com o diretor de Comunicação da Liga Nacional de Basquete, Douglas Carraretto, sobre os desafios da comunicação em 2024, as transmissões do NBB e o que esperar para o futuro.

Carraretto está voltando para casa. Afinal, o profissional formado em jornalismo começou como estagiário em 2012 na própria Liga Nacional. Em 2021, aceitou um novo desafio na Centauro e depois na StartUp “Hooper´s Club”. Em julho de 2024, Douglas foi anunciado pela Liga como diretor de Comunicação, e já começou entregando o Interligas, o NBB Trio e a festa de lançamento do NBB 17.

 

Nas Quadras: Douglas, muito obrigado pela entrevista. Você retornou à Liga depois de 2 anos fora. Só nestes 2 anos, muita coisa mudou. Não só no NBB, mas no mundo. A mídia tradicional está cada vez menor, as redes sociais ajudam na divulgação, mas podem trazer surpresas nem sempre agradáveis. Baseado neste cenário, o que você vê como o maior desafio na comunicação do NBB para essa temporada?

Douglas Carraretto: A Liga Nacional de Basquete enfrenta desafios cruciais para expandir seu alcance e fortalecer o NBB (Novo Basquete Brasil) como uma marca de destaque. Um dos principais obstáculos é atingir uma audiência maior, ultrapassando o público atual e expandindo além da “bolha do basquete”, que engloba tanto os fãs da NBA quanto do NBB, este último com uma base ainda mais restrita. O objetivo inicial é consolidar o NBB entre os apaixonados por basquete no Brasil, que já somam cerca de 80 milhões de fãs de NBA, e a partir disso ampliar a visibilidade para outros públicos, incluindo o vasto contingente que acompanha o futebol.

Para alcançar essa expansão, a Liga investe em uma variedade de canais, como a imprensa tradicional, influenciadores e parcerias estratégicas com clubes de futebol e plataformas de mídia que transmitem os jogos. Segundo a direção da Liga, o fortalecimento do alcance é essencial, mas não é o único aspecto necessário para conquistar a fidelidade do público.

Outro pilar fundamental é a criação de experiências envolventes e entretenimento de qualidade em todos os pontos de contato com o fã, seja nos ginásios ou nas plataformas digitais. Além de melhorar a qualidade das transmissões e tornar o conteúdo mais acessível, a Liga se preocupa em responder rapidamente às interações nas redes sociais, oferecendo uma comunicação ágil e eficaz.

O terceiro desafio é a "saliência de marca". O objetivo é tornar o NBB uma referência imediata para o público que pensa em basquete, comparável à presença constante da NBA, que conta com transmissões frequentes e forte presença midiática. Para isso, a Liga busca elevar a visibilidade do NBB e recuperar o prestígio que o basquete brasileiro já teve.

Para sustentar o crescimento e o engajamento, a Liga Nacional de Basquete está investindo em uma plataforma de CRM para captura de dados, permitindo conhecer melhor seu público. Esse conhecimento, aliado a uma marca forte e bem-posicionada, pode aumentar o valor de mercado do NBB e abrir oportunidades para novos patrocínios e acordos comerciais a longo prazo, solidificando sua presença e relevância no cenário esportivo brasileiro.

 

A NBA é amplamente acessível no Brasil. Com cerca de 80 milhões de fãs da liga americana no Brasil, mesmo que apenas uma pequena fração realmente acompanhe os jogos ao vivo, a NBA está ao alcance de todos. Contudo, a experiência presencial não é tão tangível para o torcedor comum. Já o NBB, por outro lado, traz essa proximidade e acessibilidade para o público brasileiro.
Sabemos que a proximidade com os fãs tem seus altos e baixos e, embora os ginásios do NBB nem sempre ofereçam a estrutura ideal, há uma visível evolução no cenário. Diante disso, você acredita que o crescimento do basquete no Brasil depende do fortalecimento das marcas dos clubes do NBB, independentemente da associação com marcas do futebol?

Os clubes desempenham um papel central no desenvolvimento do basquete local, fortalecendo o vínculo com suas comunidades e atraindo cada vez mais seguidores. No NBB, há três tipos distintos de clubes: os clubes sociais, como Pinheiros e Minas, que possuem categorias de base consolidadas e são menos dependentes de verbas públicas, contando majoritariamente com patrocínios; os clubes de futebol, com maior capacidade de investimento independente; e as associações, que frequentemente dependem de recursos públicos para manter suas operações.

O cenário atual do NBB mostra uma saúde financeira mais estável entre os clubes, especialmente quando comparado a outras modalidades, como o vôlei. A Liga tem conseguido manter um número consistente de clubes em atividade, apesar de algumas saídas e encerramentos de projetos ao longo dos anos. Esse cenário positivo reflete a capacidade dos clubes de cultivar suas bases, desenvolver novos talentos e aprimorar a experiência do público.

A força das marcas dos clubes é também um ponto crucial, e a mentalidade de alguns já se transformou para entender a importância de se consolidarem como marcas. Embora cada clube tenha suas particularidades e desafios próprios, o modelo de colaboração e troca de ideias promovido pela Liga contribui para essa evolução coletiva. Com essa união de esforços, o NBB vislumbra um futuro onde os clubes não só ampliem suas bases de torcedores, mas também tornem o produto mais atrativo e competitivo no cenário esportivo nacional.

Vamos falar sobre a quadra: o NBB conta com grandes talentos para esta temporada. O Sesi-Franca, atual tricampeão do NBB, tem em seu elenco três jogadores (Lucas Dias, Georginho e Didi) que representaram o Brasil nas Olimpíadas, e agora a chegada de Raulzinho, que promete dar ainda mais brilho à competição. A Liga já vem promovendo esses jogadores nas redes sociais, inclusive com conteúdos sobre atletas com passagem pela NBA. Como vocês pretendem aproveitar essa oportunidade para atrair não só o público atual, mas também os fãs da NBA, engajando-os com o NBB?

Trazer grandes ídolos é uma das estratégias mais eficazes para “furar a bolha” e ampliar o alcance do NBB. Ídolos têm o poder de atrair o público e sustentar o interesse em uma modalidade. Tomando o exemplo do vôlei, muitos conhecem o Giba pela seleção, mas poucos sabem dos clubes pelos quais ele passou – ele se tornou um ícone nacional. Desde o surgimento do NBB, a Liga vem investindo na construção de ídolos e na valorização de jovens promessas, como Iago, Caboclo e Gui Santos, humanizando suas histórias para fortalecer sua conexão com os fãs.

A presença de jogadores com experiência na NBA, como Raulzinho, traz uma grande oportunidade para aumentar a relevância do NBB. Ao ter figuras assim, com passagens pela NBA e Olimpíadas, o campeonato se torna mais atraente para o público e para os patrocinadores. A expectativa é que, com Raulzinho em quadra, haja um aumento na média de público e na audiência dos jogos do Pinheiros, gerando impactos positivos para o NBB.

Essa conexão entre Liga, clube e jogador é essencial para criar uma experiência de basquete unificada, aproximando o público de uma figura que brilhou por oito anos na NBA, mas que agora estará acessível aos fãs brasileiros.

Para o NBB, a chegada de Raulzinho é uma oportunidade valiosa, e espera-se que essa jornada dele no Brasil fortaleça ainda mais o basquete nacional, ao mesmo tempo em que apresenta o ídolo a uma nova geração de torcedores.

 

Atualmente, a cobertura do NBB é ampla e muito mais robusta do que em anos anteriores, mas ainda não contempla 100% dos jogos. Quais são os principais desafios para alcançar essa cobertura total? A questão é logística, financeira, ou há outros fatores que dificultam a transmissão completa dos jogos?

Desde a pandemia, o NBB passou por grandes mudanças, com desafios e retrocessos que obrigaram a Liga a recomeçar vários processos. A ausência de 100% de cobertura de jogos é uma questão de viabilidade, tanto em recursos quanto em estrutura, já que o campeonato inclui diversas etapas, como os playoffs melhor de cinco, exigindo um grande número de transmissões. A prioridade tem sido garantir qualidade, concentrando esforços no que está ao alcance.

No ano passado, o NBB experimentou o Basket Pass, mas, por uma decisão estratégica, optou-se por não mais ter jogos exclusivos na plataforma; agora, os jogos disponíveis no Basket Pass também são compartilhados em outros canais, com todas as decisões alinhadas com os clubes.

Desde 2014, o NBB avançou significativamente ao gerar seu próprio sinal de transmissão. Esse desenvolvimento permitiu à Liga ser pioneira em diversas plataformas, incluindo Facebook, Twitter e Twitch, e hoje ela gera o sinal para canais como TV Cultura, SportTV e ESPN, que possuem critérios de alta qualidade. Esse controle sobre o próprio sinal oferece autonomia e qualidade, uma vantagem para a Liga. Embora ainda não se tenha atingido a marca de 100% dos jogos transmitidos, a Liga está confiante de que, nos próximos anos, estará cada vez mais próxima de cobrir integralmente a temporada, mantendo seu compromisso com a qualidade e a inovação no produto oferecido.

 

Voltando à questão do calendário, nos primórdios do NBB, existia uma dificuldade em manter o interesse após a final do NBB – a conversa sobre o campeonato simplesmente se encerrava. Hoje, o NBB tem uma agenda de 12 meses: ao fim da temporada, inicia-se a LDB, o Interligas e o NBBTrio. Como você tem trabalhado para adaptar a comunicação da Liga a esse calendário contínuo e manter o engajamento ao longo do ano?

Esse calendário contínuo tem sido um grande desafio para nós nesta temporada. Sinceramente, ainda não tenho todas as respostas para isso, pois é a primeira vez que passamos por um ciclo de 12 meses completos. Assim que terminou o NBB, já tivemos a festa de lançamento, e em questão de dias começamos a RDB. No meio tempo, lançamos o NBB Trio, um novo evento que fortalece a conexão com a comunidade de basquete de rua e o universo do 3x3. Esse produto foi um grande sucesso, impactando tanto a comunidade quanto o lado comercial.

Além disso, organizamos o torneio de abertura em Brasília, que teve uma recepção muito positiva. Os atletas elogiaram a estrutura, as transmissões e a qualidade dos jogos – mesmo com caráter amistoso, a competitividade foi altíssima. E ainda houve o Interligas, com quatro times brasileiros indo para a Argentina para essa experiência internacional.

Agora, com o NBB em andamento, a agenda parece até mais tranquila em comparação com essa intensa pré-temporada. Mas seguimos com um olho no futuro: já estamos planejando o Jogo das Estrelas em março e o Super 8, garantindo que cada etapa da temporada seja bem organizada e que traga valor.
Para os fãs, esse calendário de 12 meses é excelente, pois mantém a conversa sobre o basquete ativada o ano todo. Com nossa campanha “o basquete acontece aqui”, queremos mostrar que o esporte está presente e vibrante em todo o país, fortalecendo o NBB como uma plataforma constante, tanto para os clubes quanto para os negócios.

 

Em conversas descontraídas, ideias sempre surgem, e uma vez pensamos em algo como um "Jogo das Estrelas Experience" – uma versão menor do evento principal, itinerante, para levar a diferentes praças. O NBB Trio funcionaria como esse Jogo das Estrelas Experience, permitindo que o evento chegue a locais como o Espírito Santo, que não costumam receber grandes partidas? Imagino que a logística do NBB Trio seja mais simples de organizar do que a de um evento completo.

É interessante você mencionar isso, pois muitas pessoas têm me perguntado sobre o que realmente é o NBB Trio. Eu costumo compará-lo a uma versão itinerante do Jogo das Estrelas, mas voltada para o basquete de rua 3x3. Após as etapas em São Paulo, Campina Grande e Brasília, estamos notando um crescente interesse de outras cidades e prefeituras que querem trazer o evento para suas localidades. Além disso, marcas que assistiram à final e perceberam o movimento estão se mostrando interessadas em renovar parcerias para o próximo ano.

O NBB Trio realmente pode ser visto como um Jogo das Estrelas itinerante, e nosso objetivo é aprimorar ainda mais as experiências oferecidas. Conseguimos integrar a cultura de rua ao alto rendimento do 3x3, trazendo atletas profissionais e valorizando o lado cultural com ações sociais e manifestações artísticas, além de incluir artistas locais. Esse evento é distinto do Jogo das Estrelas tradicional, que atrai um público familiar que já gosta de esportes. No NBB Trio, buscamos um enfoque mais cultural, democratizando o acesso ao basquete e ampliando a experiência para um público diverso. Então, sim, podemos afirmar que é uma forma de Jogo das Estrelas, e esperamos expandir ainda mais sua presença em diferentes locais do Brasil.


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