Corredora brasileira cega faz sucesso com vendas estilizadas
Há pouco mais de um ano e meio, a brasileira Terezinha Guilhermina lançou moda a partir de um protesto. A corredora cega teve que usar uma venda para competir no Mundial de Christchurch, na Nova Zelândia, apesar de seus óculos escuros terem sido aprovados pela direção de prova. Irritada, decidiu criar suas próprias vendas, para quem ninguém mais a obrigasse a colocá-las. A peça ganhou popularidade e fãs, fazendo sucesso.
"Eu corro com as minhas vendas exclusivas. Tem a venda de protesto, venda de festa, venda de 'não tô nem aí'", explicou a corredora, na zona internacional da Vila Paralímpica, aos risos. "É uma maneira de dizer que, embora vendada, não estou no escuro", complementou. As estampas que costuma usar na peça são chamativas e coloridas, diferentes do tecido preto que foi obrigada a colocar na Nova Zelândia.
"Eu ia entrar na pista e me deram uma venda. Eu já tinha apresentado meus óculos escuros, mas para não discutir em inglês, peguei e coloquei, com o óculos por cima e corri o Mundial inteiro assim. Aí eu falei: vou fazer as minhas para ninguém mais ter que me dar", relembrou a corredora, especialista nas provas de velocidade na classe T11 - T para "track" (pista em inglês) e 11 em referência a atletas com deficiência visual.
Na Copa do Mundo de Manchester, em abril de 2012, por exemplo, a venda de Terezinha tinha marcas de beijos espalhadas, cercadas por lantejoulas vermelhas. Para completar o visual, escolheu brincos verdes. Foi assim que ela venceu e quebrou o recorde mundial dos 100 m e 200 m rasos. As peças costumavam ser confeccionadas pela irmã da corredora, Vânia, mas agora ela recorre a uma costureira de São Caetano do Sul.
Terezinha costuma escolher a estampa e o tecido com ajuda do atleta-guia Guilherme Soares Santana e da irmã. Então, dá instruções de como quer a venda. A lógica usada é bem simples: "já que tem que usar, que no mínimo fique engraçada". Para Londres, avisou que tem uma separada para cada prova - vai disputar medalha nos 100 m, 200 m e 400 m rasos.
Em alguns casos, o equipamento de competição de Terezinha Guilhermina acaba virando souvenir. "Em geral, as meninas que competem comigo adoram. Eu dou de presente para ela, já dei para as meninas do México, para brasileiros que correm comigo. Eles acham o máximo que, embora eu não enxergue, (a venda) seja colorida", contou, pronta para surpreender em Londres.