Número de estrangeiros nos EUA tem maior pico em cem anos - latinos não são mais maioria
WASHINGTON - A atualização mais recente do Departamento do Censo dos Estados Unidos, divulgada no último dia 13, revelou que a população estrangeira no país é a maior desde 1910, quando os EUA receberam grandes fluxos de imigrantes da Europa. Os dados, no entanto, trazem um retrato inesperado dos estrangeiros que vivem no país, contrariando o senso comum repercutido pela política americana. Enquanto a migração com origem no México diminuiu, cresceram os números de asiáticos com ensino superior.
Os números do Censo oferecem um novo olhar sobre a questão migratória nos EUA. Embora a entrada de latinos ainda seja expressiva e explorada pelos setores mais conservadores da política americana, eles não formam mais maioria - uma mudança que pode redefinir o padrão de estrangeiros no país nos próximos anos.
Segundo o Censo, que se baseia em dados de 2017, 44,5 milhões de pessoas que vivem atualmente nos EUA são estrangeiras - equivalente a 13,7% da população total de 328,5 milhões de habitantes. Destes, 41% nasceram na Ásia, grupo que superou os latino-americanos, que agora representam 39%. Do universo total de estrangeiros, 45% chegaram aos Estados Unidos com o ensino superior completo, um número 15% maior do que as taxas registradas nos anos 2000.
O estado que registrou o maior crescimento de imigrantes foi Dakota do Norte - 87% a mais do que em 2010. Tradicionais destinos de estrangeiros, Califórnia e Nova York, tidos como “santuários” graças à legislação que protege imigrantes, registraram um crescimento abaixo da média nacional. Além da Dakota do Norte, as maiores taxas dos últimos oito anos foram observadas nos estados de Tennessee, Ohio, Carolina do Sul e Kentucky.
Em várias dessas regiões, os imigrantes com ensino superior são mais letrados do que os habitantes locais, segundo o jornal “The New York Times”. Entre os 15 estados com a maior concentração de estrangeiros em relação a 2010, 12 votaram majoritariamente na democrata Hillary Clinton nas eleições presidenciais de 2016. O presidente americano, Donald Trump, foi eleito com uma narrativa hostil à imigração de mexicanos e muçulmanos, majoritariamente do Oriente Médio. Já os estados com crescimento moderado de imigrantes votaram, em sua maioria, na candidatura do empresário.
Durante sua campanha, o republicano chegou a dizer que o México trazia “drogas e crime” aos Estados Unidos, e que os imigrantes do país vizinho eram “ladrões e estupradores”. “Alguns, presumo, são boas pessoas”, chegou a dizer à época. Dias depois de ser eleito pelo colégio eleitoral, atribuiu à vitória de Hillary Clinton no voto popular a imigrantes ilegais que votariam de forma fraudulenta. Após uma semana à frente da Casa Branca, Trump vetou a entrada de cidadãos do Irã, Iraque, Iêmen, Síria, Líbia, Somália e Sudão sob a elegação de “segurança nacional”, medida vetada pela Suprema Corte posteriormente.
O último grande pico de estrangeiros nos EUA ocorreu entre o fim do século 19 e o início do 20, quando o país recebeu um número expressivo de imigrantes da Alemanha (incluindo o avô do presidente, Frederick Trump), Polônia, Irlanda e Itália. Em 1910, eles chegaram a representar 15% da população - número pouco maior do que a taxa de 2017.
O ponto de virada, no entanto, foi a aprovação de cotas raciais no Ato de Imigração de 1924, que vetou, principalmente, a entrada de asiáticos. Embora amenizado nos anos 60, a medida teve forte efeito na demografia americana ao longo do século 20 - em 1970, os estrangeiros representavam apenas 5% da população.
Trump adotou linha dura
Desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2017, Donald Trump implementou diretrizes migratórias duras sob a promessa de reduzir a entrada de estrangeiros no país, em especial latinos e muçulmanos, relacionados pelo presidente à violência urbana e ao terrorismo.
A polêmica política de separação de famílias, que causou uma crise no governo no fim de junho e acabou revisada às pressas pelo republicano, colocou o governo contra a parede. A custódia de crianças separadas de seus pais rendeu imagens que comoveram o mundo.
Apesar da pressão de organismos em defesa dos direitos humanos e das Nações Unidas, além do próprio judiciário americano, o número de famílias mexicanas detidas na fronteira em agosto aumentou 38% em relação a julho, segundo o Departamento de Segurança Nacional.
Outra luta de Trump foi contra o programa Daca (Deferred Action for Childhood Arrivals, em inglês), institucionalizada pelo antecessor democrata Barack Obama. A iniciativa protege os chamados “Dreamers”, jovens que chegaram aos EUA na infância acompanhados de seus pais e que não conhecem seus países de origem. Em abril, após o republicano declarar que não haveria negociações com o Congresso quanto ao Daca, um juiz da capital, Washington, determinou a retomada do programa.