Papa e imã de Al-Azhar pedem fraternidade em Abu Dhabi

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Papa Francisco em viagem ao Emirados Árabes Unidos

O papa Francisco e o grande imã de Al-Azhar se manifestaram juntos nesta segunda-feira (4) contra toda discriminação de minorias religiosas e pediram fraternidade, no segundo dia de uma visita histórica aos Emirados Árabes Unidos, a primeira de um líder da Igreja Católica à Península Arábica, berço do Islã.

Durante todo o dia, o papa, vestido de branco, e o grande imã sunita do instituto egípcio Al-Azhar, o xeque Ahmed al-Tayeb, de preto, apareceram juntos de forma fraterna, diante da grande Mesquita Zayed - uma das maiores do mundo - e se beijaram na tribuna da conferência inter-religiosa.

Este encontro e diálogo inter-religioso tinha sido impulsionado pelo papa e o grande imã de Al-Azhar, a instituição mais importante do Islã sunita.

Ao fim do encontro, Francisco e o imã Ahmed al-Tayeb assinaram uma declaração conjunta, na qual comprometeram os esforços das duas religiões para "lutar contra o extremismo".

"Al Salamò Alaikum!" ("Que a paz esteja convosco!"), afirmou Francisco em seu discurso, no qual reforçou a ideia da fraternidade, mas que incluiu referências diretas à realidade cotidiana dos habitantes do Oriente Médio.

Trata-se de um discurso de alto significado, já que foi afirmado em uma região onde ainda se constatam desigualdades evidentes e há muitas denúncias de discriminação religiosa.

A Arábia Saudita, por exemplo, proíbe a prática de qualquer religião que não seja o Islã, mas o papa fez uma forte defesa da necessidade de garantir a liberdade religiosa.

 

Em sua participação no encontro inter-religioso, o pontífice fez um pedido para oferecer "o mesmo direito à cidadania" a pessoas de diversas religiões.

"Desejo que, não apenas aqui, mas em toda a amada e neurálgica região do Oriente Médio, haja oportunidades concretas de encontro: uma sociedade onde pessoas de diferentes religiões tenham o mesmo direito de cidadania", manifestou.

Em seu discurso, Francisco insistiu na justiça em geral: "uma justiça dirigida apenas a membros da própria família, compatriotas, crentes da mesma fé, é uma justiça que manca, é uma injustiça disfarçada", indicou.

O pontífice também evocou a não violência, a paz e o desarmamento, expressando firme oposição à utilização da religião para fins que não sejam pacíficos.

"Em nome de Deus Criador, é preciso condenar sem vacilação toda forma de violência, porque usar o nome de Deus para justificar o ódio e a violência contra o irmão é uma grave profanação", afirmou.

Para Francisco, "não há violência que encontre justificativa na religião".

"A fraternidade humana nos exige, como representantes das religiões, o dever de exilar todos os matizes de aprovação da palavra guerra", declarou.

Na visão do pontífice, a guerra é sinônimo de "miséria" e "crueldade".

Por isso, chamou a atenção sobre quatro países que sofrem "as consequências nefastas" de conflitos: Iêmen, Síria, Iraque e Líbia.

"Juntos, irmãos da única família humana querida por Deus, comprometemo-nos contra a lógica do poder armado, contra a mercantilização das relações, dos armamentos das fronteiras, o erguimento de muros, o amordaçamentos dos pobres", disse.

"Nos opomos (a tudo isso) com o doce poder da oração e o com empenho diário do diálogo", acrescentou.

 

O líder de 1,3 bilhão de católicos teve, nesta manhã, uma reunião privada com o príncipe herdeiro em Abu Dhabi, Mohamed bin Zayed Al-Nahyan, que se orgulha da "coexistência pacífica" das religiões em seu país.

O pontífice entregou ao príncipe um medalhão representando uma reunião em 1219, em plena Cruzada, entre São Francisco de Assis e o sultão Malek al-Kamel, no Egito, um marco de 800 anos no diálogo entre muçulmanos e cristãos.

Francisco também participou de uma cerimônia militar na segunda-feira, na qual caças dos Emirados sobrevoaram o gigantesco palácio presidencial, lançando ao ar uma fumaça amarela e branca, representando as cores da bandeira do Vaticano.

Na reunião com o príncipe herdeiro, Francisco abordou a situação no vizinho Iêmen, palco da pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU, causada por uma guerra que começou há quatro anos.

Antes de embarcar em sua viagem aos Emirados no domingo, o papa pediu para "favorecer com urgência o cumprimento dos acordos firmados" para uma trégua na cidade portuária de Hodeida, no Iêmen, crucial para o acesso à ajuda humanitária.

Na terça-feira, Francisco celebrará uma missa multitudinária que se apresenta como a maior manifestação já organizada neste país, com a presença de mais de 130.000 fiéis.